Helenismos e latinismos no alemão
Para muitas palavras de origem grega ou latina, há na língua alemã também um termo de raiz germânica. Além de enriquecer o idioma, isso facilita a compreensão e mostra "porque só é possível filosofar em alemão."
"Astrologie" é "interpretação das estrelas"
Muitas vezes, a língua alemã contém um termo correspondente de origem germânica para uma palavra com raiz grega ou latina, os chamados helenismos. Como, por exemplo, para "Astrologie" ou astrologia, que na língua germânica também pode ser chamada de "Sterndeutung", de "Stern" = estrela e "Deutung" = interpretação. Ou seja, para os alemães, "Astrologie" é a "interpretação das estrelas".
"Melancholie" é "dor do mundo"
Muitos desses helenismos chegaram ao alemão através do latim, e a partir daí foram transformados, muitas vezes por cientistas ou artistas, numa linguagem germanizada e pictórica, o que facilitou a compreensão por uma parcela maior da população. Um exemplo é o termo "Weltschmerz" ou "dor do mundo", cunhado pelo poeta Jean Paul (1763-1825) para descrever o estado da melancolia.
"Labyrinth" é o "jardim da perdição"
Em alemão, para o termo "Labyrinth" ou labirinto também pode ser usada a palavra "Irrgarten", do verbo "irren" = estar errado, perder-se; e "Garten" = jardim. Nesse caso, um labirinto seria então algo como um "jardim da perdição".
"Spital" é "casa de doentes"
No alemão falado na Suíça e na Áustria, a palavra usada para hospital é "Spital", mas na Alemanha, o termo usado é "Krankenhaus", de "Kranken" = doentes e "Haus" = casa, ou seja, uma "casa de doentes". É bom lembrar que na língua germânica, a palavra "Hospital" também existe, mas ela é hoje usada em partes da Alemanha para definir um asilo de idosos ou doentes.
"Telefon" é "falador de longe"
Muitas vezes, na formação por justaposição, a palavra germânica recupera o significado inicial do termo grego, como em "Telefon" ou telefone. Em grego, "tele" é longe, e "fon" = voz, tom. Embora seja um termo antigo, ainda hoje se escutam senhores ou senhoras de idade usando em vez de "Telefon" a palavra "Fernsprecher", de "fern" = longe, e "Sprecher" = falador, aparelho que fala.
"Onomatopöie" é "pintura do som"
Talvez boa parte dos alemães não saiba o que a figura de linguagem "Onomatopöie" ou onomatopeia significa, mas certamente a maior parte deles sabe o que é uma "Lautmalerei", de "Laute" = som, tom e "Malerei" = pintura. Assim, para um nativo da língua germânica, uma palavra como miau não é nada mais que uma "pintura do som".
"Kalligrafie" é "escrita bela"
A partir, sobretudo, do Renascimento muitos textos gregos e latinos foram traduzidos para o alemão, e a invenção da imprensa por Gutenberg possibilitou que tais escritos fossem lidos por uma parcela maior da população. Nada mais óbvio que facilitar a sua compreensão. Assim uma palavra como "Kalligrafie" (caligrafia) se tornou "Schönschrift", de "schön" = belo e "Schrift" = escrita.
"Patriarchat" é "domínio dos pais"
Assim como no inglês, muitas vezes o uso de helenismos ou latinismos em alemão denota maior escolaridade, ou algumas vezes talvez maior presunção. De qualquer forma, para os que não preferirem usar o termo "Patriarchat" ou patriarcado, há também a palavra justaposta "Väterherrschaft", de "Väter" = pais e "Herrschaft" = domínio. Para um alemão, patriarcado nada mais é que o "domínio dos pais".
"Xenophobie" é "hostilidade ao estrangeiro"
Uma palavra que volta regularmente aos noticiários é "Xenophobie" ou xenofobia, o seu uso, no entanto, é mais frequente na forma germanizada: "Fremdfeindlichkeit". De "Fremd" = estranho, estrangeiro; e "Feindlichkeit" = hostilidade, animosidade. Embora helenismos existam até mesmo antes que seu correspondente germânico, tais palavras são muitas vezes chamadas de "estrangeiras" pelos alemães.
"Epitaph" é "inscrição na tumba"
Talvez nem toda criança saiba o que é um "Epitaph" ou epitáfio, mas todos podem compreender quando se fala em "Grabinschrift", de "Grab" = tumba e "Inschrift" =inscrição, ou seja, uma "inscrição na tumba". Aparentemente, o uso de uma linguagem pictórica remonta a algo bastante atávico, como faziam nossos antepassados indígenas, mas isso talvez explique "por que só é possível filosofar em alemão."