Guiado pelo som
14 de julho de 2003Residentes em Berlim contam com a sorte de não ter que levar todo e qualquer visitante aos pontos turísticos de praxe. Para os que dominam o idioma, é possível comprar (14 euros) ou alugar (7 euros) um CD da série Here We Go, que oferece duas rotas pela cidade.
A primeira delas, Nos Rastros do Muro de Berlim, percorre em 1h10min o trecho que vai do Museu do Muro (Checkpoint Charlie) até a Potsdamer Platz. Com direito a ida e volta, trata-se de acompanhar a reconstrução de detalhes históricos ou ouvir relatos pessoais sobre a faixa de concreto de 43 quilômetros de extensão, que dividiu a capital alemã durante 27 anos.
Poder & arquitetura -
A segunda opção – Poder e Arquitetura – "passeia" com o visitante durante 1h30min pela Berlim unificada do novo milênio, incluindo aí informações sobre o Portão de Brandemburgo, Reichstag, Casa de Culturas do Mundo e Monumento Soviético, entre outros.Nas duas versões, a história da cidade é revisitada através de depoimentos pessoais ou discursos de políticos (John F. Kennedy, Erich Honecker, o atual premiê Gerhard Schröder ou Norman Forster, o arquiteto responsável pelo projeto da cúpula do Reichstag) e ilustrada por canções de época, como a lendária Sonderzug nach Pankow (Trem Especial para Pankow), de Udo Lindenberg.
Acústica surreal -
Divida em estações, a "viagem" pelo cerne histórico de Berlim chama a atenção para detalhes que poderiam passar despercebidos por um visitante que desconhece a história da cidade. Ao lado de documentos de fundo histórico, ouve-se, por exemplo, o galopar de cavalos, quando se relata algo acontecido nos anos 20 na Potsdamer Platz. Frente à nova versão da praça, que com seus arranha-céus de fachada pseudo-moderna mais se assemelha a uma Gotham City, ouvir o ruído de quase um século atrás compõe uma espécie de imagem acústica surreal.Tiros e gritos -
O mesmo acontece quando o visitante ouve correntes de tanques de guerra se arrastarem pelo asfalto, enquanto uma multidão grita e tiros ecoam pelo espaço. Trata-se da reprodução do ocorrido a 17 de junho de 1953, durante a rebelião popular na antiga República Democrática Alemã, de regime comunista.Concebido por uma pequena equipe, liderada pelo historiador Carl-Peter Steinmann, o passeio falado por Berlim não se torna sisudo em função do "peso histórico" que carrega. Ao contrário, a visita guiada pelos fones de ouvido é direta e até recheada com uma ponta de ironia. Ou seja, "ziemlich berlinerisch" (bem berlinense)!