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Greve dos caminhoneiros pega pré-candidatos de surpresa

30 de maio de 2018

Depois da crise, presidenciáveis criticam política de preços da Petrobras. Só que insatisfação com as constantes altas dos combustíveis esteve ausente do radar da maioria, apesar de estar se acumulando há meses.

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Brasilien Tankstelle in Brasilia
Fila de viaturas em um posto de combustíveis. Pivô da greve dos caminhoneiros, a alta dos combustíveis não foi explorada pelos principais Presidenciáveis. Foto: Reuters/U. Marcelino

A greve dos caminhoneiros pegou o governo do presidente Michel Temer desprevenido, apesar dos avisos prévios que a categoria enviou ao Planalto sobre o descontentamento crescente em relação à política de preços da Petrobras. Em vigor desde o fim de junho de 2017, ela permitiu reajustes diários no preço de combustíveis para acompanhar variações internacionais do petróleo.

O governo demorou a agir e, no fim, acabou capitulando diante de quase todas as exigências dos caminhoneiros. Na prática, a política de preços independente sobre o diesel acabou sendo abandonada, e os reajustes vão passar a ser mensais. A conta para baixar o combustível deve passar de 10 bilhões de reais. 

E, assim como o governo, os pré-candidatos à Presidência também parecem ter sido pegos de surpresa. Após o início da paralisação e diante do apoio popular aos caminhoneiros – 87% da população apoia o movimento, segundo o Datafolha –, vários ajustaram seus discursos de acordo com as circunstâncias e passaram a ignorar posicionamentos anteriores.

A maioria dos pré-candidatos também engrossou o coro de críticos à política de preços livres da Petrobras adotada pelo presidente da empresa, Pedro Parente. Mas, apesar de a crise estar sendo gestada há meses diante da insatisfação crescente dos caminhoneiros com as altas do diesel, quase nenhum candidato havia abordado o tema antes da paralisação.

Marina, Ciro, Alckmin

Nos últimos dias, após o país sentir os efeitos da paralisação, os pré-candidatos Marina Silva (Rede), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) criticaram a forma como os preços vêm sendo fixados. Marina chamou nesta terça-feira (29/05) a política de "fora da realidade" e disse que há margem para absorver variações momentâneas.

Marina Silva
Antes da greve, Marina não havia falado da política de preços da PetrobrasFoto: Imago/Fotoarena

Alckmin, por sua vez, disse que o ideal deveria ter sido promover reajustes mensais e criar um espécie de poupança tributária que seria usada para foröar a queda do combustível em momentos de alta. "O que não pode é ter 11 reajustes em 15 dias", disse. Já Ciro disse que não adotaria a política de preços da empresa e chamou a gestão de Parente de fraude.

Só que, antes da crise, o posicionamento de cada um passava longe da política de preços. Marina não havia abordado o assunto. Ciro, apesar de ser muito crítico à atual gestão da Petrobras, vinha focando seus ataques na venda de ativos da empresa e de campos do pré-sal. Já Alckmin, que agora defende mudanças na política de preços, havia defendido em fevereiro a privatização da empresa – uma proposta que foi criticada até mesmo por Parente.

Nenhum dos três apresentou planos efetivos para encerrar a greve, que continuou mesmo após o governo ter atendido as exigências. Marina disse nesta terça-feira que "é preciso debater a infraestrutura logística". Alckmin disse "que o caminho é sempre o diálogo" e, em caso, de intransigência, "a aplicação da lei". O tucano, no entanto, demorou uma semana para se posicionar de maneira mais firme sobre os métodos da greve. Inicialmente, evitou até mesmo criticar Temer e não havia comentado a intenção do Planalto de convocar forças federais para liberar as estradas.

Já Ciro disse que, "se fosse presidente, não teria deixado a coisa chegar a esse ponto" porque não adotaria a política de preços da Petrobras e manteria um diálogo permanente com os caminhoneiros. O presidenciável, no entanto, não disse o que seria preciso fazer mesmo após as exigências serem atendidas. 

Alvaro e Meirelles

O pré-candidato Alvaro Dias (Podemos) é um dos raros a ter abordado o tema diretamente antes da crise. O senador declarou em dezembro e em abril que a política independente de preços da Petrobras precisava ser revogada.

"Quando se trata de preços de combustível, de gás, gasolina, diesel, isso tem que passar pelo presidente da República, que sabe medir as consequências de um eventual reajuste", disse em abril em entrevista à Carta Capital. Dias abraçou a greve e chegou a visitar um bloqueio em Minas Gerais. No entanto, não se posicionou quanto aos métodos questionáveis de vários caminhoneiros e a persistência do movimento.  

Já Henrique Meirelles (PMDB), o pré-candidato apoiado por Temer, vinha se posicionando antes da greve como um defensor puro da política da Petrobras. "Esse governo não faz controle artificial de preços", disse em março. Nesta segunda-feira, no entanto, afirmou ser favorável a criação do mesmo tipo de colchão financeiro defendido por Alckmin para ajudar a amortizar altas.

Bolsonaro

Entre os pré-candidatos, o líder nas pesquisas – no caso da ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, Jair Bolsonaro (PSC), foi o que mais ajustou o discurso diante das circunstâncias. Inicialmente, ele deu um apoio limitado aos caminhoneiros, mas criticando os bloqueios em rodovias. "Fechar rodovia é extrapolar", afirmou.

Depois, parabenizou os caminhoneiros e disse ser contra as multas e prisões para quem fizesse bloqueios. Também não sugeriu nenhuma saída para a crise. "Quem tem de dar solução é o governo, não eu", disse. Já nesta terça-feira, diante da persistência da paralisação e da perspectiva de que os petroleiros – historicamente ligados a sindicatos influenciados pelo PT – iriam iniciar sua própria greve, disse que os caminhoneiros deveriam voltar a trabalhar. "Está na hora de acabar", disse à rádio Band News.

Sobre a política de preços da Petrobras, o posicionamento do militar da reserva também foi contraditório.

Jair Bolsonaro
Bolsonaro disse que era contra congelamentos, mas depois afirmou que é "mau-caratismo" Petrobras aumentar preçosFoto: Reuters/L. Benassatto

Em janeiro, durante uma entrevista à Rede TV, Bolsonaro disse que o problema da alta dos combustíveis era decorrente dos altos impostos e afirmou ser contra o congelamento de preços. "O grande problema dos combustíveis são os tributos." No mesmo mês, o pré-candidato – que escolheu Paulo Guedes, um economista ultraliberal para assessorá-lo durante a pré-campanha – também disse que era a favor da privatização da Petrobras com uma cláusula de golden share nas mãos do governo.

No entanto, durante a paralisação, Bolsonaro disse de maneira genérica ser contra a privatização de setores estratégicos. "O Brasil não pode ser inquilino de si mesmo." Ainda encampou a tese de controle de preços nos combustíveis. "Acompanhar o preço internacional do petróleo, quando a minoria do que é vendido aqui é importado, é um mau-caratismo. Que se fizesse então uma média ponderada", disse em vídeo publicado em 25 de maio. "Pra tapar o rombo da Petrobras, o governo quer arrombar o consumidor brasileiro, entre eles os caminhoneiros."

Nos últimos meses, o PT criticou as altas de combustíveis e a gestão de Parente, mas Lula, que ainda é o pré-candidato do partido, não se posicionou especificamente sobre o assunto. Atualmente preso em Curitiba e praticamente fora do pleito por causa dos seus problemas com a Justiça, Lula comentou a greve por meio de interlocutores. Ele evitou apoiar ou desaprovar a paralisação, mas focou em críticas ao governo Temer.

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