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Governo alemão é criticado por barrar 32 jornalistas no G20

12 de julho de 2017

Profissionais tiveram credenciamento revogado e nome incluído em "lista negra". Políticos e associações de classe veem violação da liberdade de imprensa e desrespeito à proteção de dados.

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Foto: picture-alliance/dpa/C. Sabrowsky

O governo alemão está sendo duramente criticado por ter retirado a credencial de 32 jornalistas que estavam habilitados para acompanhar a cúpula do G20 realizada na semana passada em Hamburgo, no norte da Alemanha. Segundo a chancelaria federal, em Berlim, a retirada da credencial de imprensa se deu por "questões de segurança".

Segundo o Departamento Federal de Investigações (BKA, serviço secreto), as autoridades dispunham de informações que apontavam para riscos à segurança do Estado por parte desses jornalistas, mas mesmo assim a secretaria de comunicação do governo decidiu credenciá-los, considerando que "o alto valor" da liberdade de imprensa se sobrepunha. No entanto, "informações adicionais relevantes em relação à segurança e a avaliação geral dos fatos relacionados à cúpula" levaram à revisão dos casos.

Os 32 jornalistas atingidos pertenciam a um total de mais de 5 mil que haviam sido autorizados a acompanhar o encontro de líderes das 20 maiores economias do mundo, realizado na sexta-feira e no sábado passados. Segundo o site Tagesschau, os policiais na entrada do centro de imprensa tinham em mãos uma "lista negra" e deixavam passar apenas os jornalistas cujos nomes não constavam dela.

"Se for confirmado que, com a ajuda de listas negras, jornalistas tiveram sua credencial retirada durante o G20, isso seria um procedimento inacreditável", afirmou Cem Özdemir, líder do Partido Verde. "O governo federal precisa ser transparente e esclarecer como se deu essa interferência inaceitável na liberdade de imprensa, que além disso ainda atenta contra a proteção de dados."

O BKA confirmou a existência da lista, justificando que ela era necessária para o controle. Sindicatos de jornalistas criticaram o fato de as listas serem visíveis, tendo sido filmadas pela imprensa, e circularem livremente entre os policiais, o que, segundo eles, desrespeita as leis de proteção de dados.

De acordo com o jornal Süddeutsche Zeitung, quatro dos 32 jornalistas que estavam na "lista negra" haviam trabalhado anteriormente em regiões curdas no sudeste da Turquia, o que levanta a suspeita de que tenha sido barrados da cúpula do G20 a pedido de autoridades turcas. Segundo o jornal, dois fotógrafos estiveram brevemente detidos no reduto curdo de Diyarbakir, em 2014, após uma unidade antiterrorismo da polícia turca ter suspeitado que eles fossem espiões ou agitadores.

"Se for confirmada a suspeita de que serviços secretos estrangeiros tiveram influência sobre essa lista, isso seria um caso sem precedentes", afirmou Özdemir. "Se o governo federal recebe déspotas deste mundo, como [Vladimir] Putin e [Recep Tayyp] Erdogan, isso não significa restringir a liberdade de imprensa aqui como se faz em seus países de origem."

Wolfgang Kubicki, presidente nacional do Partido Liberal Democrático (FDP), também exigiu que o governo esclareça a suspeita de intervenções do serviço secreto turco na elaboração da lista.

O porta-voz do governo federal, Steffen Seibert, enfatizou que as preocupações das autoridades em relação à segurança resultaram exclusivamente de informações obtidas por autoridades alemãs. Segundo ele, dos 32 jornalistas atingidos, nove tiveram a credencial retirada já no local da cúpula do G20. Os demais 23 não chegaram a comparecer ao local após serem avisados de que não poderiam acompanhar o evento, afirmou.

"Repórteres, e não arruaceiros"

Michael Rediske, porta-voz da organização Repórteres Sem Fronteiras, classificou o ocorrido de "estigmatização intolerável de jornalistas".

A Associação Alemã de Jornalistas (DJV) exigiu que o governo alemão esclareça rapidamente por que revogou as credenciais dos jornalistas. O presidente da entidade, Frank Überall, afirmou que as decisões foram completamente aleatórias, destacando que se trata de "repórteres e não de arruaceiros". Ele criticou também o fato de listas com os nomes dos jornalistas barrados terem circulado abertamente, o que feriria as leis alemãs de privacidade.

A União Alemã de Jornalistas (DJU) considerou o procedimento do governo ilegal e disse que, se necessário, levará à questão à Justiça. "Um jornalista do Tagesschau relatou que jornalistas filmaram as listas e que todos os nomes eram facilmente reconhecíveis", disse Cornelia Hass, diretora nacional da DJU.

"Considero esse procedimento não apenas um escândalo, mas também ilegal e vejo nele uma violação à privacidade de dados pessoais, assim como uma interferência no direito à privacidade de nossos colegas afetados", criticou, acrescentando que mais grave ainda seria o fato de listas como essa existirem.

LPF/dpa/afp