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Eleições no Egito

26 de novembro de 2011

Militares egípcios preparam eleições parlamentares, agendadas para começarem segunda-feira, apesar dos protestos no país. Analistas acreditam que manifestantes devem manter a pressão sobre os militares.

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Marechal Tantawi, chefe do conselho militar egípcio
Marechal Tantawi, chefe do conselho militar egípcioFoto: dapd

Segundo os planos do Conselho Supremo das Forças Armadas (CSFA) do Egito, nesta segunda-feira (28/11) devem ser abertos os locais de votação primeira vez em um terço das províncias do país. Em meados de dezembro e início de janeiro, nove outros municípios também realizam eleições.

Esta modalidade de escrutínio não é nova: há décadas que os egípcios são convocados às urnas de forma escalonada. A novidade para o eleitorado do país é a perspectiva atual de não ser mero figurante numa peça de teatro manipulada, como ocorria sob o regime de Hosni Mubarak. Pela primeira vez, há, pelo menos teoricamente, a possibilidade de acontecerem eleições livres – se é que vão realmente ocorrer.

Votação tensa no Cairo

Nas próximas semanas, os eleitores devem votar em nove distritos do país. Entre eles, o Cairo e Alexandria, cidades onde ocorreram, nos últimos dias, confrontos especialmente violentos entre manifestantes e forças de segurança, com mortos e feridos.

Repressão aos protestos pode agravar revoltas
Repressão aos protestos pode agravar revoltasFoto: dapd

Nas últimas semanas, vários partidos ameaçaram boicotar as eleições. Na era Mubarak, esse era um recurso empregado pela oposição para impedir que as eleições fraudadas tivessem uma aparência de legitimidade.

Desta vez, o que incomoda muitas agremiações é principalmente a candidatura de ex-membros do partido de Mubarak, o NDP, e a condenação de críticos do Exército por tribunais militares, como no caso do blogueiro Maikel Nabil Sanad, de 25 anos. Em abril de 2011, ele foi condenado por um tribunal militar a três anos de prisão, após ter publicado um artigo crítico sobre o papel dos militares durante a revolução que destituiu Hosni Mubarak.

De acordo com informações da ONG Repórteres sem Fronteiras, Sanad iniciou em agosto último uma greve de fome, em protesto contra sua prisão, e em outubro uma decisão judicial determinou que fosse transferido para uma clínica psiquiátrica.

Solução é possível

"Na situação atual, seria aconselhável que cada partido pense duas vezes antes de boicotar as eleições parlamentares", opina Henner Fürtig, diretor do Instituto GIGA, de Hamburgo. "Sob as novas condições, se os partidos boicotam as eleições, eles são excluídos do processo político pelos próximos e cruciais anos em que deverá ser promulgada uma nova Constituição."

O especialista em Egito acredita que uma solução pode ser encontrada – embora continue a controvérsia sobre os processos militares contra vozes críticas, sem que militares ou oposição tenham chegado a um acordo, até agora.

"A liderança militar possivelmente reduzirá esses processos militares de forma gradual, pois eles cada vez mais atraem, de forma especial, a raiva e a pressão das ruas. Os militares estão, digamos, na mira da população. E vão pensar com cuidado sobre o que é mais importante para eles: sobre o que, exatamente, desejam insistir em levar adiante, e em que pontos estão dispostos a fazer concessões."

Privilégios militares

“Para os militares, inadmissível é os seus privilégios serem questionados”, comenta Andreas Jacobs, diretor do escritório da Fundação Konrad Adenauer no Cairo. "Uma grande parcela da economia do Egito vai para os bolsos dos militares: estradas, indústria de alimentos, imóveis e hotéis, muitas coisas pertencem a eles. E se isso começar a ser questionado ou se o orçamento das Forças Armadas for submetido ao controle parlamentar, então, para os militares, as coisas passaram dos limites."

Manifestação na Praça Tahrir
Manifestação na Praça TahrirFoto: dapd

No entanto, Jacobs acha possível que o Exército esteja temendo uma revolta dentro de seus próprios quadros, caso reprima com dureza excessiva as manifestações da oposição. "Por isso, não estou bem certo se os militares defenderiam seus privilégios até o fim."

Henner Fürtig lembra que a pressão das ruas tirou Mubarak do poder, e que os manifestantes teriam na memória essa recente experiência positiva. "Por isso, agora essa pressão sobre os militares é de extrema importância, por mostrar, de um lado, onde estão os limites e, de outro, que os militares não podem querer levar adiante seus objetivos políticos de forma descontrolada, sem restrições", avalia.

Na verdade, as imagens atuais são semelhantes às da Praça Tahrir no primeiro semestre do ano, com a diferença que desta vez os manifestantes não pedem a renúncia de Mubarak, mas sim do marechal Hussein Tantawi e do conselho militar que lidera.

Autor: Thomas Kohlmann (md)
Revisão: Augusto Valente