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Gabinete alemão liberta-se de ministro polêmico

Estelina Farias18 de julho de 2002

A nove semanas da eleição do novo Parlamento, que elegerá um novo gabinete, o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, demitiu, sem lamentar, o ministro da Defesa, Rudolf Scharping.

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Ministro demissionário Rudolf ScharpingFoto: AP

O chefe de governo havia apoiado e defendido o seu ministro e correligionário social-democrata em todos os escândalos em que esteve envolvido. A causa da demissão do ministro foram notícias da imprensa sobre negócios dúbios seus com o empresário de relações públicas de Frankfurt, Moritz Hunzinger, que trabalha também para indústrias de armamento.

A oposição de centro-direita, que exigiu a saída de Scharping várias vezes nos últimos 12 meses, qualificou a decisão do chefe de governo de "muito atrasada", como disse o concorrente de Schröder na disputa pela chefia do governo, Edmund Stoiber.

Schröder foi conciso ao anunciar a substituição de Scharping pelo atual líder do Partido Social Democrático (SPD), Peter Struck, que assumirá nesta sexta-feira (19). Ele apenas disse que "não existem mais as bases necessárias para uma boa cooperação no governo", que iria pedir ao presidente Johannes Rau para demitir Scharping e que solicitara ao líder da bancada do SPD no Parlamento para assumir o Ministério da Defesa. A decisão foi tomada em sintonia com o vice-chanceler federal e ministro de Relações Exteriores, Joschka Fischer, do Partido Verde. O novo líder dos social-democratas será o atual vice-líder Ludwig Stiegler.

Fama dúbia

O influente Círculo de Seeheimer, um grupo de políticos conservadores do SPD, acusou o ministro demissionário de ter se envolvido com uma agência da CDU (partido de oposição democrata-cristão), que tem uma fama política dúbia. A difícil campanha eleitoral do SPD tem de ser libertada de todo tipo de fardo, disse o porta-voz do Círculo, Karl Hermann Haack. Schröder é o presidente do SPD e Scharping é um dos vices. Nunca na história da Alemanha houve mudança ministerial tão perto de uma eleição parlamentar, como aconteceu agora. Scharping é o oitavo ministro que deixa o gabinete atual. O primeiro foi o ministro das Finanças, Oskar Lafontaine, que renunciou em 1999 por causa de divergências com Schröder, gerando um choque nacional.

Preferências de votos

O momento do escândalo Scharping dificilmente poderia ser pior. O SPD recuperou pontos nas últimas pesquisas sobre intenções de voto, mas as legendas irmãs CDU e CSU, de centro-direita, se mantêm na liderança. Além disso, a renúncia forçada do presidente da Telekom, Ron Sommer, nesta semana, gerou novas críticas ao governo. A oposição acusa o gabinete de ingerência indevida na ex-estatal de telecomunicações.

Scharping lutou até o último instante por seu posto de ministro. Pouco antes da reunião de emergência da cúpula do SPD hoje, ele se recusou a renunciar, alegando que afirmações da imprensa não seriam motivo para deixar o cargo, mas que se fosse demitido sairia de cabeça erguida.

Causa da demissão

As acusações que causaram, finalmente, a demissão do ministro protagonista de outros escândalos e o membro mais criticado do gabinete social-democrata e verde foram divulgadas pela revista Stern. Esta publicou o conteúdo de um dossiê da agência de relações públicas de Moritz Hunzinger. Scharping interrompeu sua viagem de verão na Saxônia, na quarta-feira (17), e foi se explicar em Berlim, depois de um telefonema de Schröder. O chefe de governo suspendeu sua ida a um ensaio geral da Valkíria no Festival Richard Wagner em Bayreuth, para decidir com a cúpula do SPD a sorte do ministro na capital.

Antes de ser demitido, Scharping confirmou ter recebido 140 mil marcos (quase 71.600 euros) de honorários de Hunzinger quando era ministro, mas negou que sua conduta tenha sido errada e que pagara o imposto devido. Ele contou que recebera 80 mil marcos, em 1998, por palestras que havia feito, e mais 60 mil marcos, em 1999, de adiamento pelas suas futuras memórias. Scharping disse também que doara todo o dinheiro para obras caritativas e políticas. Os ministros alemães são proibidos de ter outras fontes de renda além do Ministério. Scharping assumiu o cargo no final de 1998.

Roupas de luxo

A revista Stern divulgou uma conta no valor de 54.885 marcos da loja de vestuário masculino Möller & Schaar em nome de Rudolf Scharping. A nota constava no dossiê do relações-públicas que também trabalha para a indústria bélica. Faziam parte da nota, entre outros artigos de luxo, um smoking de 4.600 marcos e um terno de 5.800 marcos. Esta soma corresponde a um salário médio na Alemanha. Hunzinger esclareceu a conta em nome do ministro como "um equívoco". Perguntado se teria gasto mais de 54 mil marcos com roupas de luxo, Scharping respondeu: "Definitivamente, não".

A Stern também divulgou que Scharping teve lucros extras com o dinheiro de Hunzinger. Como uma parte dos 80 mil marcos de honorários foram empregados em ações, o ministro teve um lucro de especulação de quase 20 mil marcos, segundo a revista. Scharping rechaçou também esta acusação de irregularidade: "Como qualquer cliente, eu confio nos peritos do meu banco".