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Fundações alemãs no banco dos réus

(sv)25 de dezembro de 2002

Na Turquia, representantes de fundações ligadas aos partidos alemães são acusados de espionagem. O processo baseia-se nas afirmações do professor universitário Necip Hablemitoglu, assassinado no último 18 de dezembro.

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Historiador Necip Hablemitoglu, assassinado misteriosamente na TurquiaFoto: AP

A acusação de "conspiração contra a segurança de Estado" está sujeita a uma pena de oito a 15 anos de detenção. Entre os réus, além dos funcionários das fundações alemãs, estão o ex-presidente da Ordem dos Advogados de Istambul e cidadãos de Pérgamo (hoje Bergama, localizada na costa adriática da Turquia). No caso dos últimos, trata-se de ativistas que protestaram contra o uso do cianido na extração do ouro em Pérgamo, em defesa do meio ambiente, tendo recebido para isso o apoio de quatro fundações ligadas aos partidos políticos alemães.

Nudez pela atenção – O fato dos ambientalistas terem ido às ruas acabou culminando em um processo a ser aberto nesta quinta-feira (26). O objetivo dos manifestantes era claro: a opinião pública, tanto na Turquia quanto fora do país, deveria despertar-se para o caso. Na busca da atenção da mídia, as ações de protesto apelaram até mesmo para o envio de grandes grupos de manifestantes semi-nus à Ponte do Estreito de Bósforo. Isso em um país muçulmano e conservador.

As ações dos ativistas e seus "cúmplices estrangeiros" receberam de parte do aparelho estatal o selo de "espionagem". Agravando a situação, o livro As Fundações Alemãs e o Dossiê Pérgamo, do historiador de tendências nacionalistas Necip Hablemitoglu, impulsionou uma série de controvérsias, que acabaram terminando em uma queixa-crime do Estado contra 15 réus.

Centros de agitação –

Segundo a tese defendida por Hablemitoglu, os danos ao meio ambiente teriam sido mero pretexto usado pela Alemanha, que na verdade teria interesses econômicos em por um fim à extração de ouro na região de Pérgamo.

De acordo com o historiador, o objetivo de Berlim seria exportar ouro para a Turquia, o que teria levado as fundações alemãs a apoiar os ambientalistas turcos, que lutavam pelo fim da extração do metal. Os escritórios das fundações dos partidos alemães seriam apenas os braços do serviço secreto do país, definidos como "centros de agitação contra a Turquia".

Assassinato misterioso –

O caso ganhou proporções ainda mais graves com o assassinato de Hablemitoglu, ocorrido misteriosamente à porta de sua casa, no último dia 18. Morto com dois tiros, Hablemitoglu é apontado pela mídia turca como "alguém que sabia demais". Além de seu envolvimento no caso da extração de ouro em Pérgamo, o historiador ainda era o autor de polêmicas teorias contra os seguidores do pregador islâmico Fetullah Gülen.

Momento infeliz –

Poucos dias antes de se aposentar, o então procurador-geral do país, Nuh Mete Yüksel, formalizou em outubro último as acusações de que, "observadas de perto, as atividades das fundações alemãs dão sérios sinais que remetem à espionagem". Para o presidente da Fundação Democracia Social, Ercan Karakas, o processo corre "em um momento extremamente infeliz, no qual a Turquia tenta se aproximar da União Européia".

Chauvisnismo – Bülent Akarcali, presidente da Fundação Democracia, diz-se conhecedor do trabalho realizado pelas fundações alemãs desde 1985. Akarcali observa que "a Konrad Adenauer foi a pioneira, atraindo outras fundações políticas alemãs, tendo sido muito importante para o desenvolvimento da Turquia". Na sua opinião, as pessoas que levantaram a acusação sentem-se "incomodadas com a rápida democratização do país, escondendo-se atrás do seu chauvinismo."

Observadores esperam uma onda de protestos contra o processo, a ser aberto oficialmente em Ancara nesta quinta-feira (26). Um total de 4500 advogados receberam dos acusados procuração para a defesa. Além destes, conta-se ainda com a presença de uma série de especialistas estrangeiros e de representantes de ONGs de dentro e fora do país.