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Fundações alemãs acusadas de espionagem na Turquia

ef26 de outubro de 2002

As fundações dos grandes partidos da Alemanha serão processadas pela Justiça militar da Turquia por espionagem e separatismo. Atrás do processo podem estar as crescentes forças anti-européias.

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Muçulmanas a caminho das urnas nas eleições de 1999 na TurquiaFoto: AP

Os representantes, na Turquia, das Fundações Friedrich-Ebert (social-democrata), Heinrich-Böll (verde), Konrad-Adenauer (democrata-cristã) e Friedrich-Naumann (liberal), bem como do Orient-Institut, estão ameaçados de 8 a 15 anos de prisão.

São graves as acusações contra eles, formalizadas na manhã desta sexta-feira (25), em Ancara, pelo procurador-geral da República, Nuh Mete Yüksel. As quatro fundações e o instituto teriam desenvolvido atividades com parceiros turcos dirigidas contra a integração do país e o Estado. O Estado é laico na Turquia, que tem grande população muçulmana e várias minorias étnicas.

A acusação de atividades de espionagem, vista como absurda por amplos círculos tanto na Alemanha como na Turquia, foi fundamentada pelo procurador-geral como uma violação do Código Penal. A imprensa turca divulgou uma lista de 15 acusados. O Ministério das Relações Exteriores em Berlim confirmou a apresentação da queixa à Justiça militar, mas mostrou confiança de que as acusações se revelarão insustentáveis durante o processo.

Separatismo curdo -

As fundações alemãs vinham sendo acusadas há meses, mas de forma generalizada, sem nada de concreto, segundo Wolf Schönboom, da Fundação Konrad-Adenauer. Mas agora a questão ficou séria. Conforme a queixa-crime apresentada à Justiça militar, as organizações teriam fomentado o separatismo, o crime da maior gravidade na Turquia. Schönboom acha que "isto é bobagem", mas confirma, ao mesmo tempo, que sua fundação cooperou com pessoas que querem fazer avançar o processo de reforma na Turquia.

A cooperação alemã desagrada muita gente, como Necip Hablemetoglu, autor do livro As Fundações Alemãs e o Dossiê Bergama, editado em 2001. Ele defende a tese de que as fundações seriam organizações secretas que contribuem para minar o Estado turco, na medida em que apóiam minorias étnicas, sobretudo a curda. A luta do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) pela criação de um Estado curdo na Turquia custou a vida mais de 30 mil pessoas nos combates com as tropas governamentais.

Extração de ouro

– O escritor também afirma que as fundações alemãs infiltraram-se nas organizações ambientalistas turcas, a fim de acabar com a extração de ouro pelo Estado turco, na região de Bergama, que consideram altamente prejudicial ao meio ambiente.

Forças anti-européias

- Para Hans Schumacher, da Friedrich-Ebert, esses não seriam os verdadeiros motivos para a ação na Justiça militar: "Isto é apenas um instrumento e a meta é atingir as pessoas que lutam para a Turquia ingressar na União Européia e querem fazer isso com reformas". Este ponto de vista foi defendido também pelo jornal turco Radikal em sua edição desta sexta-feira (25). Para o Radikal, não é por acaso que na atual fase de maior aproximação da Turquia à União Européia surjam ações estranhas de anti-europeus, para minar os esforços de integração do país na comunidade européia.

A Turquia é único candidato que ainda não foi convidado a iniciar as negociações para ingressar na UE. Ancara espera receber o convite da cúpula dos 15 países-membros em sua conferência de dezembro, em Copenhague. O governo alemão insiste junto aos demais parceiros na UE para darem uma perspectiva clara rapidamente a Ancara, mas a palavra de ordem em Bruxelas ainda é aguardar a implantação das reformas políticas e o resultado das eleições turcas previstas para o final de novembro. O Parlamento turco baniu a pena de morte, mas a UE considera que o herdeiro do Império Otomano ainda tem que avançar muito na questão dos direitos humanos.