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Fugitivo nazista teria morrido na Síria

11 de janeiro de 2017

Braço direito de Eichmann, Alois Brunner, responsável pela morte de 130 mil judeus, foi dado como morto várias vezes, e seu paradeiro era incerto. Revista francesa afirma ter desvendado o mistério.

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Adolf Eichmann considerava Alois Brunner (foto não datada) seu braço direito
Adolf Eichmann considerava Alois Brunner (foto não datada) seu braço direitoFoto: picture-alliance/dpa

O ex-comandante da SS Alois Brunner, um dos principais protagonistas do Holocausto, apontando como responsável pela morte de 130 mil judeus, tinha paradeiro incerto. Mas nesta quarta-feira (11/01) a revista francesa XXI  noticiou ter resolvido o mistério: o antigo assistente de Adolf Eichmann teria morrido em dezembro de 2001, aos 89 anos, numa cela num porão esquálido de Damasco, Síria.

No curso da investigação jornalística classificada como "altamente verossímil" pelo caçador de nazistas veterano Serge Klarsfeld, a XXI  entrevistou três ex-membros do serviço secreto sírio que acompanharam os últimos anos de Brunner. Segundo estes, "ele sofria e chorava muito, todo o mundo escutava". Ainda assim, morreu como nazista impenitente e antissemita convicto.

Da Alemanha para a Síria

Brunner era encarregado do campo de concentração de Drancy, ao norte de Paris, para cujas câmaras de gás eram enviados os judeus da França ocupada. Adolf Eichmann, um dos arquitetos da assim chamada "solução final", enforcado em Israel em 1962, o considerava seu braço direito.

No fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o militar austríaco conseguiu escapar aos Aliados. Em 1953 fugiu da Alemanha para o Egito, sob o nome falso Georg Fischer. Depois de traficar armas para o movimento independentista argelino FLN, mudou-se para a Síria no ano seguinte.

Criminoso nazista Alois Brunner em foto de 1985
Criminoso nazista Alois Brunner em foto de 1985Foto: picture-alliance / dpa

Ainda em 1954, Alois Brunner foi julgado na França in absentia  por crimes de guerra e sentenciado à morte. Em 2001, em outro julgamento que pela primeira vez incluiu especificamente a acusação de deportar centenas de órfãos, ele foi condenado a prisão perpétua, já que a pena capital fora abolida no país em 1981.

Em Damasco tornou-se conselheiro da polícia secreta síria, supostamente transmitindo-lhe métodos de tortura e interrogação desenvolvidos pelos nazistas. Logo foi localizado pelo serviço de inteligência de Israel. Em setembro de 1961, sofreu um atentado com uma carta-bomba, sendo dado como morto.

Como revelaram as investigações da XXI, na realidade ele perdeu um olho na ocasião, assim como quatro dedos num ataque semelhante em 1981. No entanto, as autoridades sírias continuaram a negar sua existência.

Condições miseráveis

No fim da década de 1990, o criminoso de guerra foi transferido "por razões de segurança" para o subsolo de um edifício de apartamentos no bairro diplomático da capital síria, sob o nome Abu Hussein. Lá ficou confinado até a morte, em condições miseráveis.

"Assim que ele entrou no quarto, a porta foi fechada e nunca mais aberta", revelou um dos informantes da revista francesa, identificado apenas como "Omar". Brunner "não podia nem tomar banho" e só recebia para comer rações do Exército – "uma coisa horrível" – e um ovo ou uma batata: "Ele tinha que escolher ou um, ou outro."

Ainda segundo essa fonte, o cadáver de Brunner foi sepultado em dezembro de 2001 no cemitério Al-Affif, em Damasco, lavado de acordo com o rito fúnebre muçulmano e "com toda discrição".

"Faria tudo de novo"

Segundo Serge Klarsfeld, "numa ditadura como a Síria, ele era intocável enquanto o ditador não quisesse se livrar dele". Ainda assim, "ficamos satisfeitos de ouvir que ele viveu antes mal do que bem", declarou à agência de notícias AFP o prestigiado advogado e historiador, cujo pai morreu em Auschwitz após ser capturado em Nice em 1943, numa batida da SS comandada por Brunner.

Em 1982 Klarsfeld e sua esposa e parceira de pesquisas Beate viajaram para a Síria, numa tentativa de exigir que o regime de Hafez al-Assad extraditasse o ex-comandante.

A atual reportagem da XXI  desmente dados anteriores do Centro Simon Wiesenthal, em Viena, encarregado de localizar antigos criminosos nazistas, segundo os quais o "braço direito de Eichmann" teria morrido em Damasco em 2010. Klarsfeld confirmou a credibilidade das investigações da revista francesa, que "interrogou gente que o conhecia de perto".

O advogado francês de 81 anos está convencido de que até o fim Brunner "manteve seu ódio pelos judeus, assim como a fé no nacional-socialismo": "Ele era alguém que odiava a França tanto quanto odiava os judeus."

Numa breve entrevista telefônica ao jornal Chicago Sun Times, em 1987, Alois Brunner confirmou que não lamentava seu papel no Holocausto: "Todos eles mereciam morrer, porque eram os agentes do diabo e lixo humano. Não tenho remorsos e faria tudo novamente."

AV/afp,rtr