Fiscalização e rigor contra alimentos contaminados na UE
15 de julho de 2002A estratégia principal do comissário Franz Fischler consiste em desvincular as subvenções diretas aos agricultores do volume de produção, enfatizando, em contrapartida, altos padrões de proteção do meio ambiente e dos animais, assim como a qualidade dos alimentos produzidos.
Presente em Bruxelas, a ministra alemã da Defesa do Consumidor, Alimentação e Agricultura, Renate Künast, disse não considerar os planos de reforma de Fischler suficientemente amadurecidos, nem do ponto de vista financeiro nem da justiça social. Ela pleiteou regulamentos e mecanismos de controle mais rigorosos, para dar fim aos casos de contaminação. "Precisamos urgentemente de decisões", sublinhou a ministra, lembrando que a qualidade da carne depende diretamente da qualidade das rações.
Sugestões concretas –
Para viabilizar o controle, Künast sugere a divulgação de uma lista contendo os ingredientes permissíveis na alimentação do gado: todos os outros aditivos estariam automaticamente proibidos. Ela é também a favor de que todos os fabricantes de ração da Europa sejam cadastrados e sujeitos a fiscalização periódica. Por último, apelou à Comissão da UE para que antecipe o banimento dos quatro últimos antibióticos ainda permitidos em gêneros alimentícios. Atualmente, a comissão tem esta medida programada para 2006.O escândalo se alastra
No domingo, o ministério de Künast noticiou que há anos uma firma holandesa sediada na Bélgica vinha fornecendo, "em grande quantidade", aditivos alimentares contaminados com o hormônio MPA, possivelmente cancerígeno. O produto se destinava a fábricas de ração animal e de refrigerantes na Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Suécia e França.
Calcula-se que houve 1300 entregas de ração mista e melaço a agricultores e fabricantes de seis estados alemães. A secretária da Agricultura da Renânia do Norte-Vestfália, Bärbel Höhn, prevê que centenas de empresas serão forçadas a suspender suas atividades, em todo o país. Ela parte do princípio de que ao todo foram vendidas 8500 toneladas de ração mista, além de enormes quantidades de alimento animal contendo o melaço contaminado. Höhn teme que as dimensões do atual escândalo ultrapassem todos os casos conhecidos.
Igualmente preocupantes são as cifras relativas aos porcos engordados com hormônio MPA na Holanda: além dos sete mil animais vendidos à Alemanha, pelo menos outros dois mil teriam sido fornecidos para a Itália, 500 para a Espanha, 200 para a França.
Baseadas em denúncia do Greenpeace, duas cadeias alemãs de supermercados retiraram de circulação todos os produtos de carne de peru da firma Agricola Italiana Alimentare. Segundo a associação ambientalista, os produtos estariam contaminados com o antibiótico tetraciclina. A substância foi também constatada em amostras de carne de vitela originárias da Renânia do Norte.
No dia 16, peritos europeus da Comissão da Cadeia Alimentar e Saúde Animal vão reunir-se na capital belga para discutir os incidentes envolvendo alimentos contaminados.
Impacto sobre o consumidor
Desde o escândalo dos gêneros alimentícios contendo o agrotóxico nitrofeno, a reputação dos produtos orgânicos está seriamente abalada na Alemanha. Segundo pesquisa do Instituto de Demoscopia Allensbach, a proporção dos consumidores dispostos a pagar mais por uma suposta qualidade natural caiu de 56% para 32%, no prazo de um ano.
O ponto de vista de que a agricultura orgânica deveria ter maior apoio da política é defendido por apenas 35% dos 2131 maiores de 16 anos entrevistados. No ano anterior, esta era a opinião da maioria. Na época, 36% ainda acreditavam estar mais garantidos pelos alimentos naturais e 56% consideravam importante prestigiar este ramo da indústria. A julgar pelo atual estudo, apenas 17% continuam confiando nos produtos "ecológicos".