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Filme resgata episódio xenófobo da década de 90

Kirsten Liese (ca)22 de janeiro de 2015

Com um filme sobre os atentados xenófobos de Rostock, em 1992, o diretor Burhan Qurbani dá a sua contribuição para um debate bastante atual na Alemanha. A película estreia esta semana nos cinemas do país.

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Foto: Zorro Verleih

Wir sind jung, wir sind stark ou Nós somos jovens, nós somos fortes, em tradução livre, relata um dos piores ataques xenófobos na história alemã do pós-guerra. Em 24 de agosto de 1992, neonazistas atearam fogo num abrigo de requerentes de asilo no bairro de Lichtenhagen, em Rostock, no estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Por um milagre, o terrível ataque não deixou vítimas fatais.

De forma autêntica, o filme mostra esse dia por diversos pontos de vista. Um grupo de jovens desempregados e desiludidos representa os hooligans. Entediados e frustrados, os amigos vagam pelo triste conjunto habitacional de Rostock, sempre à procura de uma válvula de escape para extravasar sua agressão acumulada. Também entre si, os jovens se mostram provocantes e agressivos e sempre fazendo barulho.

Em contrapartida, para uma mulher vietnamita, aquele dia se inicia cheio de esperanças. Ela acaba de receber um contrato de trabalho e acreditava ter encontrado na Alemanha uma nova pátria. A escalada de violência com o episódio xenófobo a toma de surpresa.

Filmstill Wir sind jung, wir sind stark
Cena do filme traz tema ainda atual: jovens dispostos a violênciaFoto: Zorro Verleih

Declaração política contra o esquecimento

Até agora, nenhum filme alemão havia conseguido levar às telas, tão obscura e drasticamente, a violência dos ataques de cunho racista contra o abrigo de requerentes de asilo. Wir sind jung, wir sind stark é o primeiro filme a resgatar esse capítulo terrível da recente história alemã, tornando-se assim uma declaração política contra o esquecimento. Em entrevista à Deutsche Welle, o diretor Burhan Qurbani afirma que tais eventos não devem "desaparecer no inconsciente coletivo de nossa sociedade, depois de 20 anos."

Os tumultos em Rostock-Lichtenhagen não foram nenhum caso isolado na recente história alemã. Hoyerswerda, Rostock, Mölln e Solingen seriam "casos de que nos lembramos", aponta o diretor.

Qurbani: "estranha guinada à direita"

À época dos tumultos em Lichtenhagen, o cineasta tinha apenas 12 anos de idade, mas já percebia, como ele mesmo fala, uma "estranha guinada à direita". Após os atentados, ele se sentiu como um "alienígena", contou Qurbani, cujos pais fugiram do Afeganistão por motivos políticos.

Como alemão de origem estrangeira, na época, ele disse ter "sofrido provocações estúpidas de extremistas de direita".

Regisseur Burhan Qurbani Premiere Wir sind jung, wir sind stark
Qurbani na estreia do filme no Festival de RomaFoto: picture-alliance/dpa/Stringer

O diretor afirma ter ficado chocado especialmente com a percepção de que não "somente neonazistas" sitiaram o abrigo de requerentes de asilo, chamado de "Edifício Girassol" devido às pinturas murais de sua fachada. Segundo Qurbani, também "cidadãos bem normais" teriam estado presentes.

Por esse motivo, Burhan Qurbani diz ver a violência juvenil apenas como um sintoma de um desenvolvimento mais amplo. A queixa no seu filme se dirige a uma sociedade apática, que não foi capaz de cuidar de seus filhos, admite Qurbani.

No entanto, Wir sind jung, wir sind stark não é somente um filme sobre o passado, mas uma contribuição bastante atual para o recente debate sobre um tratamento humano aos requerentes de asilo. A violência contra eles ainda "pertence à ordem do dia", afirma o diretor. Nesta quinta-feira, o filme estreia nos cinemas alemães.