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Filme de Mel Gibson divide igrejas alemãs

lk18 de março de 2004

Precedido de polêmicas, chega aos cinemas alemães o monumental "A Paixão de Cristo", que gerou uma verdadeira euforia nos Estados Unidos.

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Foto: AP

De forma semelhante ao que ocorre no Brasil, o lançamento de A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, que entra em circuito na Alemanha nesta quinta-feira (18), foi precedido de polêmicas e debates controversos. Não existe consenso quanto à avaliação do valor da obra nem mesmo entre os representantes das igrejas, a quem a película já foi apresentada. Porém os tons críticos predominam.

Ninguém espera do público resposta semelhante à dos americanos, mas ainda assim a distribuidora acredita em cinemas lotados no primeiro fim de semana de exibição. Thomas Peter Friedl, diretor de marketing da Constantin-Film, conta com até 500 mil espectadores.

Violência é a maior crítica

O presidente do Conselho da Igreja Luterana da Alemanha (EKD), Wolfgang Hüber, para quem a maneira como o filme explora a brutalidade é "insuportável", diz não recomendar a ninguém que vá ao cinema para vê-lo. Em sua opinião, o excesso de violência rouba ao espectador qualquer possibilidade de captar a dimensão teológica da Paixão de Cristo.

Também o bispo luterano regional da Baviera, Johannes Friedrich, critica que o filme deixe sem resposta "questões centrais como a morte e a mensagem da redenção".

Passion
Foto: Presse

O cardeal Karl Lehmann, presidente da Conferência Nacional dos Bispos Alemães, acusa igualmente Mel Gibson de ter reduzido "de maneira problemática a mensagem da Bíblia", com sua representação drástica das crueldades. Já Wolfgang Sauer, responsável por mídia no Arcebispado de Freiburg, não entende por que se está dando tanto destaque à violência, já que ela é um fator costumeiro nos filmes de ação de Hollywood.

Judeus censuram anti-semitismo

Charlotte Knobloch, vice-presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, condena A Paixão como uma aliança infeliz entre o antijudaísmo cristão, que já se considerava superado, e a exortação à violência. As imagens do filme são apropriadas a uma associação com o anti-semitismo histórico, afirma ela.

Knobloch exige que a Igreja Católica se posicione claramente com relação à obra do diretor australiano. Ela lembra que o Segundo Concílio do Vaticano declarou explicitamente que a culpa pelo sacrifício de Cristo não pode ser atribuída coletivamente aos judeus.

Já o Arcebispado de Freiburg considera as críticas de anti-semitismo ao filme — ao qual atesta "especial profundidade teológica" — apenas clichês, pelos quais os espectadores não deveriam se deixar influenciar.

Acompanhamento do espectador

O teólogo católico Wolfgang Sauer, que considera a representação das últimas 12 horas da vida de Cristo uma "meditação pintada na tela", admite que o filme exige conhecimentos bíblicos profundos do espectador, para que este possa compreender as cenas.

Justamente em função dessas dificuldades e dos aspectos polêmicos, as igrejas católica e luterana recomendam que pastores e sacerdotes prestem assistência aos espectadores. Inúmeras organizações religiosas estão oferecendo ao público a visita a sessões especiais, com acompanhamento de teólogos e seguidas de debates.