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Feira do Livro à sombra da guerra

Soraia Vilela20 de março de 2003

Seguindo uma tradição iniciada antes da queda do Muro de Berlim, a população de Leipzig vai às ruas protestar contra a guerra. A Feira do Livro, que acontece na cidade, discute a posição européia frente ao conflito.

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Leipzig: fórum de debate sobre uniões e divergências européiasFoto: AP

Não poderia haver palco mais adequado do que a Feira do Livro de Leipzig para as reações à recém iniciada guerra contra o Iraque. Poucos outros eventos do gênero procuram manter, como Leipzig, o caráter de fórum político de debate, fazendo jus ao espírito reinante na "cidade das editoras".

Para a mídia, esse é endereço ideal para colher depoimentos de escritores e intelectuais dos mais de 28 países presentes. A cada bomba que cai em Bagdá, uma nova reação ecoa na Feira, aberta desde a última quarta-feira (19) até o próximo domingo (23).

"Tendo em vista o futuro europeu, a Feira do Livro de Leipzig continua sendo um espaço com experiência histórica e geograficamente perfeito para discutir sobre a Europa. Isso é acentuado ainda mais em dias como esses, quando a reflexão sobre a velha e a nova Europa domina desde a programação de TV até a agenda de estrategistas militares", diz Werner Dornscheidt, diretor da Feira.

Leste Europeu -

Por essas e por outras razões, Leipzig dedica mais uma vez esse ano suas atenções especiais ao Leste Europeu. Sob o lema "Bem-Vindo à Casa - Europa em Transição", oito escritores oriundos dos países candidatos ao ingresso na União Européia participam de um debate sobre a ampliação do bloco, através de pódios de discussão e da leitura de ensaios. O destaque é dado à Rússia, Polônia e República Tcheca, representadas por uma série de autores e vários estandes.

Nova e velha Europa -

Reunindo desde celebridades do mundo literário, como o húngaro Imre Kertész, último vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, até autores iniciantes, a feira pretende refletir as implicações do tão difundido conceito de uma "união européia". O momento do "racha" europeu em relação à posição norte-americana, após os inúmeros debates desencadeados pela frase do Secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, dividindo o continente entre "nova" e "velha Europa", não poderia ser mais preciso.

Ao lado de uma série de prêmios concedidos a grandes e pequenas editoras, celebridades e desconhecidos, e da série de lançamentos no mercado literário, Leipzig deverá este ano primar por se tornar um palco de debate sobre o delicado momento atual. "Involuntariamente por um lado e propositalmente por outro, a Feira do Livro torna-se uma testemunha direta do desenrolar político da guerra e das reações imediatas de escritores europeus a ela", afirma Dornscheidt.

Memória e viagem -

Coincidência ou não, independente da eclosão do conflito no Iraque, a Feira de Leipzig já tinha como premissa cutucar a memória coletiva em relação à guerra. Este ano, vários autores alemães procuram abordar a herança do nazismo e suas conseqüências para a nova geração. Ao lado deste, outro tema permeia a Feira de 2003: a viagem. Em tempos de fraca conjuntura, com menos dinheiro no bolso do consumidor e, conseqüentemente, perdas no setor turístico, cem editoras e federações do ramo procuram "entusiasmar o leitor".

Às ruas - Num evento paralelo à feira, a população de Leipzig deve ir hoje às ruas protestar contra a guerra. E não será a primeira vez que o cidadão comum da cidade se propõe a "lutar com as próprias mãos". Desde janeiro último, protestos regulares vêm acontecendo ali, sempre às segundas-feiras. Na última delas (17/03), trinta mil pessoas estiveram reunidas para demonstrar o não à guerra.

Da última vez em que tanta gente saiu às ruas de Leipzig, em 1989, uma grande mudança estava por acontecer. Pouco depois, caiu o Muro de Berlim, numa Alemanha Oriental que já estava mesmo por ruir.