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Fatih Akin: cinema entre culturas

(vr / sv)23 de outubro de 2005

Diretor turco-alemão disseca com lentes precisas os paradoxos do universo de filhos de imigrantes no país.

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Fatih Akin: pelo cinema multiculturalFoto: AP

Até há pouco tempo, dizia-se que Fatih Akin era “a grande promessa do cinema alemão”. Hoje, o diretor nascido em Hamburgo, filho de pais turcos, já é considerado um dos grandes nomes da cinematografia do país.

Fatih Akin começou sua carreira querendo ser ator, mas era constantemente vetado por produtores, que só o empregavam em papéis estereotipados de criminosos turcos. Frustrado com a situação, o jovem estudante da Escola Superior de Belas-Artes de Hamburgo resolveu escrever suas próprias histórias. Foi aí que surgiu a idéia do roteiro de seu primeiro longa – Rápido e Indolor (Kurz und Schmerzlos) – inspirado no relato de um de seus grandes ídolos: o cineasta Martin Scorsese.

Habilidade dramatúrgica e senso rítmico

Fatih Akins neuer Film beim Filmfestival Cannes
O diretor durante filmagens de seu último filme...Foto: dpa - Report

Rápido e Indolor retrata a amizade entre um turco, um sérvio e um grego. Mesmo que a nacionalidade dos personagens não seja o tema central do filme, ela serve de ferramenta para caracterizar os três amigos, que tentam, com maior ou menor sucesso, deixar o mundo do crime em que estão metidos. Já em seu primeiro filme Akin demostrava sua habilidade dramatúrgica e seu apurado senso rítmico.

O segundo longa teria mais tarde Altona, o bairro multicultural de Hamburgo onde Akin cresceu, como cenário. “Cor local e autenticidade podem tornar um filme intenso. Muitos cineastas não se atrevem a assumir publicamente sua própria identidade”, diz o diretor, conhecido como representante da geração de “turcos-alemães”.

Sucesso de crítica e público

17. Europäischer Filmpreis, Fatih Akin gwinnt mit Gegen die Wand
... e ao receber prêmio na EspanhaFoto: AP

Foi graças a Rápido e Indolor que Akin se tornou conhecido em toda a Alemanha. Mesmo já tendo dirigido anteriormente dois curtas – Sensin – É Você! (Sensin – Du bist es!), em 1995, e Getürkt, em 1996, cujo título brinca com o termo que, em alemão, pode significar simplesmente “à moda turca, do jeito turco” (como na tradução escolhida para o filme em português), como também “enganoso, fingido, falso, propositalmente mentiroso”.

No entanto, foi com a produção independente Rápido e Indolor que Akin foi aclamado pela primeira vez por crítica e público, ganhando vários prêmios, entre eles o conhecido Adolf Grimme, em 2000, e o Bayerischer Filmpreis, como melhor diretor. Além de ter sido nomeado para o Filme do Cinema Alemão (Deutscher Filmpreis).

Do independente aos altos orçamentos

O sucesso com Rápido e Indolor fez com que Fatih Akin pudesse viabilizar seu segundo filme: Em Julho (Im Juli), finalizado em 2000, com a participação dos jovens astros do cinema alemão Moritz Bleibtreu e Christiane Paul.

O roadmovie narra a história de um estudante desavisado que viaja a Istambul atrás de seu grande amor. O protagonista se vê envolvido numa série de aventuras e sua viagem à Turquia acaba se transformando no início de uma nova vida e de novas perspectivas amorosas.

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Medo de rótulos

Faith Akin "Denk ich an Deutschland"
Cena de 'Penso na Alemanha – Esquecemos de Retornar'Foto: Hofer Filmtage

Logo após ter marcado presença no circuito cinematográfico com Rápido e Indolor, Akin quis, através de Em Julho, mudar radicalmente de gênero, temendo não conseguir se livrar, mais tarde, do rótulo de "diretor turco que retrata a crua realidade dos estrangeiros nas grandes cidades alemãs".

“Enquanto Rápido e Indolor se mantém atrelado à realidade –absorvendo influências do neo-realismo italiano –, eu quis fazer de Em Julho um filme lúdico e ingênuo, que trabalha com a fantasia, como num conto de fadas”, explicou o diretor na época.

Em 2001, Fatih Akin, o jovem diretor difícil de ser rotulado, surpeenderia mais uma vez o público com o documentário Denk ich an Deutschland – Wir haben vergessen zurückzukehren (Penso na Alemanha Esquecemos de Retornar). Levando o espectador ao povoado natal de seus pais, na Turquia, num filme extremamente pessoal sobre sua família, emigrada para a Alemanha em 1965.

Universo de imigrantes

Solino, der neue Film von Fatih Akin mit Barnaby Metschurat und Moritz Bleibtreu
'Solino', de Fatih AkinFoto: Presse

Em fins de 2002, o diretor estreava seu terceiro longa – Solino, dirigindo pela primeira vez um filme com roteiro alheio. “Quando li o material, me apaixonei pelos personagens de época, pelas crianças, pelas imagens. Logo depois já sabia que queria rodar aquele filme", lembra o diretor.

Solino é a história de uma família de italianos que emigra para a Alemanha e funda a primeira pizzaria da cidade de Duisburg nos anos 60, durante os bons tempos da exploração mineradora de carvão, quando milhares de “trabalhadores convidados” (Gastarbeiter) chegavam ao país.

Urso de Ouro em Berlim

Fatih Akin gewinnt mit seinem Film "Gegen die Wand" Goldenen Bären in Berlin
Cena de 'Contra a Parede', de Fatih AkinFoto: AP

Em Contra a Parede (Gegen die Wand), que recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2003, Akin voltou mais uma vez os olhos para suas raízes, ao contar a inusitada história de amor entre dois jovens turcos na Alemanha.

Os protagonistas pertencem à segunda geração de imigrantes que, nascidos na Alemanha, lutam arduamente para se libertar das amarras das tradições familiares trazidas da Turquia. A premiação em Berlim marcou não apenas a consagração de Akin no cenário de cineastas alemães, mas foi também o primeiro Urso de Ouro a um filme do país nos últimos 18 anos.

Som de Istambul

Crossing the Bridge - Ceza und Gang
Documentário 'Crossing the Bridge. The Sound of Istambul', de Fatih AkinFoto: corazon / intervista

Mesmo transitando entre vários gêneros, que vão do policial à história de amor, as raízes multiculturais de Fatih Akin estão presentes em todos os seus filmes. Estar em casa tanto em Hamburgo quanto em Istambul não apenas forma sua identidade como também lhe serve de inspiração para a construção de roteiros e busca de cenários.

Seu último trabalho, que estreou em 2005 nos cinemas alemães, é uma viagem pela cena musical da capital turca, narrada através do olhar de Alexander Hacke, baixista do lendário Einstürzende Neubauten.

Crossing the Bridge. The Sound of Istambul traça um panorama do universo musical da capital turca, cujo símbolo é a ponte sobre o Estreito de Bósforo, unindo Ocidente (Europa) a Oriente (Ásia). O documentário, segundo Akin, foi apenas uma pausa na trilogia Amor, Morte, Diabo, que começou com Contra a Parede e deve continuar em breve.