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Exposição mostra diferentes facetas da obra de Gisela Eichbaum

Marco Sanchez29 de novembro de 2013

Um dos grandes nomes da abstração lírica brasileira, artista nascida na Alemanha ganha em São Paulo primeira grande retrospectiva de sua sensível produção artística.

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'Cidades Misteriosas - Teodora', pintado pela artista em 1958Foto: Galeria Berenice Arvani/Press

Em cartaz em São Paulo, Canções sem Palavras é a maior exposição dedicada ao trabalho de Gisela Eichbaum. Nascida na Alemanha em 1920, a pintora, aquarelista e desenhista fugiu com a família da Alemanha nazista e se instalou no Brasil em 1935.

"Trabalho na catalogação da obra de Eichbaum desde 1997. São mais de 2.500 obras registradas. A retrospectiva mostra vários períodos de seu trabalho, que transformaram a obra de Gisela no abstracionismo 'final', marca mais conhecida de toda a sua trajetória", disse o curador da exposição, Antonio Carlos Suster Abdalla, em entrevista à DW Brasil.

Em seus mais de 50 anos de carreira, a artista, morta em 1996, buscou sempre coerência e harmonia, já que sua vida profissional foi inteiramente dedicada aos desenhos, pinturas e outros trabalhos artísticos.

Gisela Eichbaum Porträt
Gisela EichbaumFoto: Madalena Schwartz/Instituto Moreira Salles

A exposição marca também o lançamento do livro Gisela Eichbaum – Canções sem Palavras, que além de reproduzir as 55 obras expostas em São Paulo também mostra mais de uma centena de outros trabalhos da artista.

Canções sem palavras

Gisela Eichbaum nasceu na Alemanha, mas desenvolveu toda sua carreira no Brasil. No entanto, seus trabalhos iniciais têm grande influência das vanguardas alemãs, principalmente sua fase expressionista.

"Não há como uma pessoa sensível ficar alheia ao de seu tempo. Ela nasceu em um período de vanguarda radical e de consolidação do expressionismo – tendência vibrante na Alemanha nas três primeiras décadas do século passado", explicou o curador.

Além das vanguardas, seu trabalho também foi muito influenciado pela música. Eichbaum chegou a seguir carreira como pianista. Na Alemanha, seus pais formavam um popular duo, além de serem reconhecidos professores. Depois da mudança para o Brasil, eles continuaram atuando na área.

"Por problemas de saúde – fragilizada pelas condições anteriores à sua saída da Alemanha – a jovem Gisela vê naufragarem seus planos como musicista profissional e vai enveredar – e se apaixonar – pela pintura, iniciando uma carreira fértil e sólida", contou Abdalla.

As linhas e formas de seu trabalho foram descritas pelos críticos e intelectuais como musicais. "Gisela editou, nos anos 1980, um primeiro e pequeno livro que levou esse título [Canções sem palavras]. Era uma declaração de amor à obra homônima de Mendelssohn. O livro atual foi uma espécie de homenagem àquele primeiro volume".

Abstração lírica

Desde 1952, o trabalho de Eichbaum esteve presente em exposições e coleções nacionais e internacionais, um período de grande criatividade na arte paulistana.

"A vida cultural de São Paulo 'fervilhava' de artistas das mais diversas nacionalidades e se internacionalizava, com a inauguração da 1ª Bienal, em 1951. Foi um período formador e intenso", disse o curador.

Ausstellung Gisela Eichbaum
"Trio", de 1947, guache sobre papelFoto: Galeria Berenice Arvani/Press

Suas obras mais figurativas, com grande influência do expressionismo, tinham como forte característica seu excelente desenho – ela ganhou duas vezes o prêmio de desenhista do ano, conferido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte – e sua sensibilidade em trabalhar com a aquarela.

A partir dos anos 1970, ao lado de nomes como Yolanda Mohalyi, Manabu Mabe, Wega Nery, Henrique Boese e Tomie Ohtake, ela se tornou uma das mais importantes representantes da abstração lírica, que se inspirava no instinto, no inconsciente e na intuição para expressar um jogo de formas orgânicas e cores vibrantes.

"A 'dissolução' da figura fez surgir uma excelente artista lírico-abstrata. Mas tudo, evidentemente, ancorado no fato de ser uma desenhista talentosíssima. Do desenho (em preto e branco) foi um passo certeiro para a pintura sobre papel (como uma colorista de grande requinte e sensibilidade)", afirmou Abdalla.

Recentemente, a obra de Eichbaum, caracterizada por um exímio colorismo – o máximo de expressão por meio de equilíbrio e graduação de valores cromáticos – esteve presente na exposição Olhando mais para frente do que para trás... – O Exílio de Língua Alemã no Brasil 1933-1945, em Frankfurt, e deve em breve chegar às principais capitais brasileiras.

Presente em acervos de museus como a Pinacoteca do Estado e Museu de Arte Moderna de São Paulo, a expressão artística de Gisela Eichbaum tem agora uma rara retrospectiva. Uma ocasião única para apreciar "canções" feitas de formas e cores.

A exposição "Gisela Eichbaum – Canções sem Palavras" está em cartaz na Galeria Berenice Arvani em São Paulo até 20 de dezembro.