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Mito Germânia

Carlos Albuquerque13 de março de 2008

Num pavilhão do memorial do Holocausto, associação berlinense abre exposição mostrando os planos de Hitler para transformar Berlim em Germânia, a cidade que deveria se tornar capital do mundo após a vitória nazista.

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Maquete do Pavilhão do Povo e do Portão de Brandemburgo, na exposição 'Mito Germânia'Foto: picture-alliance/ dpa

Entre os alemães, Germânia ficou conhecida pelo documentário nazista que mostrava um passeio pelas maquetes dos edifícios da cidade megalomaníaca. Entre os brasileiros, a cena final do documentário é também bastante conhecida, já que a companhia cinematográfica Atlântida a usava como abertura dos filmes que fez a partir da década de 1940.

No próximo sábado (15/03), num pavilhão do memorial do Holocausto de Berlim, a Associação Submundo Berlinense abre a exposição Mito Germânia, que mostra maquetes e plantas do projeto de transformação urbana de Berlim na cidade que deveria se tornar capital do mundo após a vitória nazista da Segunda Guerra que, felizmente, não aconteceu. A mostra pode ser vista até 31 de dezembro de 2008.

Uma das principais peças da exposição é a maquete do Volkshalle ou Pavilhão do Povo, panteão com 290 metros de altura, cuja cúpula teria 250 metros de diâmetro, 16 vezes maior que a cúpula da Catedral de São Pedro.

Kitsch megalomaníaco

Ausstellung "Mythos Germania" in Berlin Bildgalerie
Germânia: kitsch barroco megalomaníacoFoto: picture-alliance/ dpa

A eclosão da guerra interrompeu os planos de Hitler e de seu arquiteto Albert Speer, com quem o ditador mantinha relação muito próxima, promovendo-o a inspetor geral de obras da cidade de Berlim, em 1937.

Em 14 de junho de 1938, Hitler anunciou a reestruturação urbana que a cidade deveria sofrer sob os cuidados de Speer. O ditador, que nasceu na barroca Áustria, desprezava o neoclassicismo da capital alemã.

Anos-luz distante da graça barroca de Brasília, o kitsch megalomaníaco caracterizava o projeto da nova capital nazista. Desta forma, não poderia faltar, evidentemente, um eixo monumental.

O assim chamado "eixo norte-sul" de Germânia ligaria o Pavilhão do Povo a um arco do triunfo de quase cem metros de altura, muito maior do que sua inspiração parisiense. Hitler queria que a nova capital superasse, em tudo, as demais importantes cidades da época, como Paris ou Londres.

Relação homoerótica

Er und Ich
Speer (d.) explica Germânia a Hitler no filme 'A Queda'Foto: dpa

Pouco ou quase nada foi construído dos planos de Germânia. Além do Estádio Olímpico e do deslocamento da Coluna da Vitória, antes situada em frente ao prédio do Reichstag, hoje Parlamento alemão, para a Avenida 17 de Junho, restaram somente escavações de túneis sob o parque Tiergarten.

Estes foram descobertos nos anos de 1960 e se tornaram parcialmente acessíveis com a abertura do Túnel do Tiergarten, em 2001.

A chancelaria de Hitler, projetada com muitos espelhos e capitéis dourados por Albert Speer, foi destruída pelas bombas da Segunda Guerra.

A novidade da exposição está na visita guiada a escavações de construções iniciadas pelos nazistas que faziam parte do projeto urbano de Germânia no Tiergarten. As visitas deverão se iniciar nas próximas semanas, assim que a prefeitura der permissão.

Relação homoerótica

Berlin historisch Neue Reichskanzlei
Chancelaria de Hitler, projetada por Speer e destruída em 1945Foto: picture-alliance/ dpa

Opositor do modernismo na arquitetura, considerado coisa de comunista ou de judeu pelos nazistas, Speer tornou-se ministro da produção de armamentos de Hitler, em 1942. Por esta atividade, não por ter sido o arquiteto do ditador, ele foi julgado em Nurembergue. Como afirmou o biógrafo de Hitler, Joachim Fest, o ditador mantinha com Speer uma relação homoerótica. Em seu livro de memórias da prisão Diário de Spandau, Speer escreve que, para ele, Hitler sempre tinha tempo.

Os dois passavam noites no atelier discutindo projetos megalomaníacos. Elegante, bonito e de boa família, Speer usou seu charme mais uma vez para escapar da pena de morte em Nurembergue.

Os juízes ingleses e franceses lhe deram 15 anos de prisão. Russos e americanos pediram a pena capital. Os quatro aceitaram o meio-termo de 20 anos de reclusão para o "queridinho" do ditador. Hoje, sabe-se do conhecimento de Speer da deportação e morte de judeus. Afinal de contas, sua Germânia deveria ser construída nos espaços deixados pela destruição de suas casas.

Direitos autorais

Para os brasileiros, o fato interessante da história de Germânia está na cena do documentário de propaganda nazista que mostrava um passeio pelas maquetes dos prédios megalomaníacos da suposta futura capital mundial.

A fonte que jorrava cada vez que a Atlântida anunciava seus filmes: "Atlântida apresenta", onde no centro se via uma imensa estátua grega e, no pano de fundo, monumentais edifícios neoclássicos, era parte da cidade que nunca foi construída.

A Atlântida foi fundada em 1941 e, até hoje, não se sabe se a mais importante companhia brasileira de cinema, dissolvida em 1962, pagou direitos autorais aos nazistas pelo uso da cena.