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Exposição em Berlim mostra a cultura das favelas cariocas

Carlos Alberto Ladeira2 de novembro de 2002

Está sendo realizada no Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha (ICBRA), em Berlim, uma exposição intitulada "Morro/Labirinto", parte de um projeto denominado "A Cultura das Favelas".

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Uma das fotos de Pedro Lobo na exposição de Berlim

A exposição, aberta ao público até 29 de novembro, inclui trabalhos de quatro fotógrafos: Michael Wesely, Thomas Florschuetz, Janaina Tschäpe e Pedro Lobo. A convite do Instituto Goethe, os quatro artistas puderam pesquisar e elaborar seus trabalhos em diferentes favelas do Rio de Janeiro, durante vários meses. O resultado está sendo apresentado agora em Berlim.

O iniciador do projeto "A Cultura das Favelas", Klaus Vetter, justifica a realização da mostra: "No Rio de Janeiro existem por volta de 560 favelas, com uma população de mais ou menos dois milhões de pessoas, a qual cresceu cerca de seis vezes mais que a dos outros bairro do Rio, nos últimos anos. As relações dos favelados com os outros cariocas estão cheias de ignorância, clichês, mal-entendidos e discriminações. O carioca 'normal' só conhece a favela como foco de drogas, promiscuidade e violência. Desde que Marcel Camus rodou o filme Orfeu Negro muita coisa mudou, pelo menos fora do Brasil. Passou-se a ver com outros olhos, a vida dos favelados e as favelas. É um labirinto fascinante, cultural e arquitetonicamente, que muitas vezes lembra a vida nos souks árabes."

Segundo Vetter, o projeto "A Cultura das Favelas", com a exposição "Morro/Labirinto", visa a acabar com os clichês e tabus existentes e é um passo para se penetrar numa realidade fascinante que também existe nas favelas e retirá-las da situação de gueto.

Reflexão –

Janaina Tschäpe fotografou mulheres que vivem na favela Jacarezinho, no norte do Rio de Janeiro e que lutam para sobreviver e ser auto-suficientes. Ela fotografou as mulheres nas suas atividades diárias. Segundo a fotógrafa, trata-se de mutações e transmutações constantes, uma verdadeira metamorfose, que elas vivem todos os dias. Janaina Tschäpe as chamou de "camaleoas" e ressalta que suas fotografias poderiam ter títulos como "O que necessita o ser humano para viver?" ou "Como desdobrar-se em busca da realização pessoal?". E salienta: "O que para mim, no começo, foi simplesmente uma aventura – conhecer e registrar a vida das mulheres nas favelas –, acabou se tornando uma profunda reflexão."

Comparação –

Michael Wesely faz um jogo comparativo entre edifícios e mansões planejados por grandes arquitetos, construídos em zonas residenciais ou comerciais, e a criatividade das construções de barracos nas favelas: levadas a cabo com muita fantasia, sem projeto técnico e sem dinheiro. Um ponto que se destaca nas fotografias de Wesely é a escolha de um angulo panorâmico. Os favelados que ele apresenta têm sempre uma vista privilegiada do Rio de Janeiro, da qual ficam privados os cariocas abastados que vivem na parte baixa da cidade. Michael Wesely: "As fotografias que escolhi para a exposição 'Morro/Labirinto' são a síntese e o retrato das minhas impressões, quando cheguei ao Rio pela primeira vez. Sei que elas encerram certa ironia – os pobres aqui em cima, sentados em camarotes, e os ricos lá embaixo, nas gerais e galerias."

Esperança –

Pedro Lobo é o único fotógrafo brasileiro que participa da exposição. Segundo ele, "eu simplesmente fotografei a favela como ela realmente é – um conglomerado habitacional relegado, desprezado e esquecido pela maioria da nossa sociedade. Com as minhas fotografias, procurei transmitir o grito de esperança dos favelados, por uma vida melhor e mais justa como cidadãos normais que eles são." E conclui: "Espero que a riqueza cultural, subliminar nas minhas fotografias, seja percebida e torne-se um ponto de partida para dar aos favelados seus verdadeiros direitos, sem discriminações."

Treppe in einer Favela
A escada na favela (Thomas Florschuetz)Foto: Thomas Florschuetz

Reconstrução –

Thomas Florschuetz trouxe a Berlim 22 fotografias, todas elas datadas de janeiro deste ano, quando visitou as favelas da Mangueira e da Rocinha. São fotos espontâneas e Florschuetz não registra barracos inteiros, mas sim fachadas, cantos, interiores, escadas, pichações, caminhos que existem no morro. Depois desta primeira fase, ele fez montagens e colagens, verdadeiros quebra-cabeças, com a finalidade, segundo ele, "de deixar ao visitante e observador a liberdade de 'reconstruir', com fantasia e imaginação, a realidade da favela como ela realmente é – criativa e cultural."