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Expansão da indústria química eleva busca por pós-graduação

Janara Nicoletti10 de agosto de 2013

Procura por cursos de mestrado e doutorado em química no Brasil cresce até 25% ao ano. Necessidade de ampliar pesquisa científica em empresas e universidades favorece intercâmbio com outros países.

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Foto: Fotolia/Schlierner

O desenvolvimento da indústria química brasileira tem ampliado as ofertas de emprego e pesquisa na área e fez com que a procura por cursos de especialização no setor aumentasse nos últimos anos. De acordo com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a procura por cursos de mestrado e doutorado cresce entre 20% e 25% ao ano. O coordenador da área de química na Capes, Luiz Carlos Dias, afirma que, entre 2005 e 2012, o número de bolsas de pesquisa subiu 189% em nível de mestrado e 132% em nível de doutorado. Pelos cálculos da entidade, no último ano 2.715 pessoas recebiam auxílio do governo para concluir os estudos nestes dois níveis de pós-graduação em química.

Em 2010, quando ocorreu o último levantamento trienal de cursos de pós-graduação do Brasil, havia cerca de 2.049 estudantes de mestrado e outros 2.115 em nível de doutorado na área. Para Robério Oliveira, diretor da Associação Brasileira de Química (ABQ), o aumento na demanda do mercado químico no Brasil favorece o interesse dos estudantes. Segundo ele, trata-se de uma área transversal na indústria, que perpassa diversos setores. Por isso, a demanda por profissionais tende a crescer ainda mais.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria, o país ocupava a sétima colocação entre as maiores indústrias químicas mundiais, em 2010. A expectativa da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) é que até 2020, o Brasil esteja entre os cinco primeiros.

A entidade estima investimentos de aproximadamente 167 bilhões de dólares entre 2010 e 2020 no setor de química industrial no Brasil. Neste período, devem ser empregados cerca de 4.500 novos trabalhadores. "O país tem muito a desenvolver, principalmente no setor de biocombustíveis, tinta sustentável e outros produtos básicos da química. Por isso, o mercado tende a aumentar", comenta Oliveira.

País jovem em pesquisa na área

USP foi pioneira na criação de um bacharelado em química no Brasil
USP foi pioneira na criação de um bacharelado em química no BrasilFoto: Marcos Santos/USP Imagens

Há cerca de 80 anos, o Brasil começou a implantar os primeiros departamentos de química do país. Em 1935, a Universidade de São Paulo fundou o curso de química, junto à então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Durante muitos anos, esse foi o único local do Brasil a oferecer especialização para estudantes de todos os níveis. Cerca de quatro décadas depois, em 1970, foi criado o Instituto de Química da universidade (IQUSP). Três anos antes, em 1967, logo após sua instalação, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) também inaugurava seu primeiro curso na área e o Instituto de Química (IQ).

As duas instituições figuram como primeira e segunda colocadas no ranking de melhor desempenho em cursos de pós-graduação, elaborado pelo Ministério de Educação. "Elas se destacam pela diversificação de linhas de pesquisa e pela qualidade de pesquisa desenvolvida", ressalta Oliveira. Atualmente, USP tem cerca de 350 estudantes de mestrado e doutorado em química. Na Unicamp, estudam cerca de 450 alunos nos dois níveis de especialização.

Além da importação de professores estrangeiros para formar o corpo docente e alavancar os primeiros estudos, as duas universidades investiram pesado na compra de equipamentos, facilitadas pela política expansionista da época em que os cursos foram fundados. Durante muitos anos, os dois institutos foram os únicos do país a oferecer cursos e pesquisa na área de química. Hoje, são referências nacionais.

IQ da Unicamp foi fundado em 1967, logo após criação da universidade
IQ da Unicamp foi fundado em 1967, pouco depois da criação da própria universidadeFoto: Unicamp

O histórico de intercâmbio acadêmico com universidades do exterior é considerado peça-chave para o desenvolvimento da pesquisa realizada no Brasil. "A internacionalização é um tema forte dentro da instituição. Até pela formação, mantemos um contato importante com outras universidades", conta o diretor do IQ da Unicamp, Watson Loh. "Agora, estamos voltando a contratar estrangeiros. A ideia é atrair os melhores para oferecer ainda mais possibilidades de pesquisa."

O diretor do IQUSP, Fernando Ornellas, afirma que a troca de experiências entre instituições de diferentes países contribui para o amadurecimento da pesquisa no país. "O IQUSP hoje atua de forma interdisciplinar. Tanto dentro, como fora da universidade, este campo interage com diversos outros", comenta.

A pesquisa científica, assim como a produção industrial na área de química, continua concentrada na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo. Juntos, os estados da Região Sudeste detêm 26 dos 62 programas de pós-graduação em química autorizados pela Capes no Brasil. Para ampliar a oferta e diversificar a formação, Dias reforça a necessidade de se ampliar os investimentos em pesquisa, nas esferas federal e estadual, para garantir maior desenvolvimento no país.