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Ex-rei afegão deixa exílio e vai para ruínas

(ef)17 de abril de 2002

O ex-rei do Afeganistão, Sahir Shah, deixa o exílio de 29 anos em Roma, nesta quarta-feira (17), sob medidas de segurança rigorosas, e retorna para Cabul.

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Ex-rei Sahir Shah: vácuo político deve ser preenchido pela Loya Jirga.Foto: AP

O monarca de 87 anos deverá presidir a tradicional assembléia de chefes de tribo Loya Jirga, em junho, prevista no acordo firmado pelos representantes das principais etnias afegãs, em Bonn, no ano passado. A meta é abrir caminho para a democracia no Afeganistão, após décadas de guerra e repressão. O povo afegão deposita muita esperança no seu antigo monarca, mas ele sozinho não é capaz de garantir estabilidade no país, segundo os observadores.

O chefe do governo interino, Hamid Karzai, foi a Roma para levar o ex-rei de volta a Cabul. Lá, ele viverá igualmente no exílio, por assim dizer, pois o Palácio Darulaman, que ele deixou 30 anos, é só ruínas e simboliza a situação do resto do país. Sahir Shah vai viver numa casa particular. Segundo a imprensa e o governo em Cabul, o ex-monarca tenciona fazer uma escala entre a Itália e o Afeganistão, num país vizinho não mencionado, e seguir na quinta-feira para Cabul.

Sahir Shah foi deposto em 1973 pelo seu primo Mohammed Daud e passou a viver na Itália. Ele havia apresentado um projeto de Constituição, em 1964, que limitava o poder da família real, previa o direito do voto universal, liberdade de imprensa, a emancipação das mulheres e um Parlamento. O golpe do seu primo, a ditadura de esquerda instalada a seguir e a invasão do país pelas tropas da União Soviética aumentaram o abismo entre os modernistas e os fundamentalistas. Na luta contra os soviéticos, os Estados Unidos abasteceram os islamitas fanáticos, como o inimigo do rei Gulbuddin Hekmatjar, com dinheiro e armas.

Depois da derrubada do regime radical islâmico taliban pelos Estados Unidos e a Liga do Norte, no final de 2001, o ex-rei passou a ser visto como figura simbólica da unidade nacional afegã. Ele é da etnia pachtun e com isso poderá conquistar o povo desta etnia que é a mais numerosa do Afeganistão para a Loya Jirga. O governo interino atual, dominado pela Aliança do Norte e o povo tadjique, goza de pouca confiança no sul habitado predominantemente pelos pachtuns.

Sahir Shah disse várias vezes que não quer voltar a ocupar o trono. "O vácuo político tem de ser preenchido pela Loya Jirga", disse o ex-monarca logo depois que os americanos tiraram os talibans do poder com os seus bombardeios em represália aos atentados de 11 de setembro, que atribuem à organização Al Qaeda do dublê de milionário e terrorista Osama Bin Laden.