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Ex-líder comunista deixa prisão sob fortes críticas

ef19 de dezembro de 2003

Libertação prematura do último chefe de Estado e de Partido da antiga Alemanha Oriental, comunista, Egon Krenz, depara-se com a incompreensão de ex-dissidentes e defensores dos direitos civis.

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Egon Krenz: vítima da "Justiça dos vencedores"Foto: AP

"Krenz tem muita culpa no cartório e não há nada que justifique sua libertação antecipada, reagiu o ex-dissidente da República Democrática Alemã (RDA), Wolfgang Termplin. Para o deputado social-democrata Stephan Hilsberg, a liberdade do ex-líder comunista teria "inocentado crimes do regime totalitário da RDA". Krenz, de 66 anos, foi libertado na quinta-feira, depois de cumprir menos de quatro dos seis anos e meio de prisão a que fora condenado, na Alemanha unificada, por causa de quatro casos de morte no Muro de Berlim.

As críticas generalizadas à liberdade de Krenz teve poucas exceções. Uma delas foi de Gregor Gysi, advogado e político de renome da ex-RDA, que foi até pouco tempo presidente do PDS, sucessor do partido comunista alemão-oriental. Gysi avaliou a libertação do ex-chefe de Estado e de Partido como "tardia, mas justa". Ele disse considerar correto que se examine o passado da RDA, "mas criminalizar seus líderes seria uma política errada".

Egon Krenz frei
Krenz deixa a prisãoFoto: AP

"Justiça dos vencedores"

- O próprio Krenz se considera uma vítima da "Justiça dos vencedores". Como dirigente máximo, ele foi um dos responsáveis pela ordem de atirar para matar quem tentasse fugir da RDA atravessando o Muro de Berlim. A Procuradoria Geral da República tem registrados 270 casos de morte de pessoas no Muro, mas o número inoficial de mortos é de aproximadamente 960. O Muro de Berlim separou as duas Alemanhas durante 28 anos e foi também o símbolo da divisão da Europa e do mundo em dois blocos, comunista e capitalista.

Krenz era o último membro da cúpula da RDA na prisão por causa das mortes nas fronteiras interalemãs. Ele disse lamentar as mortes, mas que não deveria ter sido processado e condenado por causa delas. Ao deixar a prisão, anunciou que vai agora escrever suas memórias, destacando que nunca teria sido um cabeça dura e que quer se esforçar por uma avaliação justa da RDA. Há muito tempo que Krenz trabalhava e só voltava à prisão para dormir.

Co-réus indultados

- "Príncipe herdeiro" de Erich Honecker, Krenz foi condenado em agosto de 1997 pelo Tribunal Estadual de Berlim e começou a cumprir sua pena depois de fracassar com seus recursos à Corte Suprema de Justiça da Alemanha e também da União Européia.

Os membros do politiburo da RDA que foram co-réus em seu julgamento (Günter Schaboswski e Günther Kleiber) pegaram penas de três anos de prisão. Ambos foram indultados e libertados prematuramente, em janeiro de 2000, depois de nove meses de prisão. Ao contrário de Krenz, Schaboswski e Kleiber aceitaram sua sentença.

A libertação de Krenz resultou de um recurso impetrado pelo advogado Robert Unger, contra uma decisão do Tribunal de Berlim de rejeitar a libertação prematura do seu cliente. Unger esclareceu que Krenz não foi indultado nem anistiado, até porque ele nunca quis uma coisa nem outra, já que sempre se considerou inocente. Krenz se vê como vítima da Justiça da parte ocidental capitalista. Ele acha que não foi condenado por causa dos tiros disparados junto ao Muro de Berlim, mas "como representante da RDA".

Beneficiário da democracia

- A imprensa alemã criticou a libertação antecipada do ex-chefe de Estado, mas muitos jornais expressaram seu respeito à decisão judicial, destacando que Krenz foi beneficiado pela democracia. O jornal Leipziger Volkszeitung destaca que "Krenz não é Milosevic [ex-ditador da Iugoslávia] nem Saddam Hussein, mas apenas um funcionário zeloso de uma ditadura medíocre". A RDA seria, segundo o diário, "um Estado que garantia pão e diversão aos seus cidadãos, mas também perseguia a resistência sem piedade".

"Em comparação com o sofrimento que a RDA, inclusive Krenz, impingiu ao seu povo durante décadas, Krenz pegou uma pena muito branda, mas tem-se de aceitar a decisão do tribunal de libertá-lo, porque o que conta nos tribunais de uma democracia não é a culpa política ou moral, mas tão somente a conduta individual e a lei, literalmente", opinou o jornal Neue Osnabrücker Zeitung.