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Exército profissional x alistamento militar

Nina Werkhäuser (lk)28 de outubro de 2005

Alemanha mantém serviço militar obrigatório, enquanto outros países europeus apostam no exército profissional. Este é mais bem preparado para as complexas tarefas da atualidade, mas custam mais aos cofres públicos.

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Batalhão de Vigilância das Forças Armadas alemãsFoto: AP

As negociações para a nova coalizão de governo em Berlim não estão concluídas; muitos pontos são controversos. Mas numa questão já existe consenso entre social-democratas de um lado e democrata-cristãos e social-cristãos de outro: a Alemanha vai se manter fiel ao princípio da obrigatoriedade do serviço militar.

Com isso, o país nada contra a corrente: muitas nações européias aboliram de uns anos para cá a obrigação de prestar serviço militar e passaram a apostar num exército profissional. É o caso da Espanha, Holanda, a França e do Reino Unido.

Soldos precisam ser atraentes

Niederländer üben Irak-Einsatz in Norddeutschland
Holandeses treinam no norte da Alemanha antes de partirem para o IraqueFoto: dpa - Fotoreport

A Holanda já deixou de recrutar jovens para o serviço militar obrigatório em 1996. Na época, apenas um terço dos rapazes em idade hábil ia de fato para as casernas. E, dos que prestavam serviço militar, poucos se dispunham a participar de missões de paz no exterior. Os soldados só podiam ser enviados para fora do país se consentissem antes e podiam retirar seu consentimento até o dia de partida.

O governo em Haia considerava a situação insustentável: como manter nessas condições um exército moderno, apto a atuar com rapidez onde necessário? À decisão de profissionalizar o exército, seguiu-se a decepção. "No começo, foi muito difícil conseguir soldados", lembra-se o general reformado Henk van Bremen, ex-chefe do Estado Maior holandês.

O soldo modesto era uma das razões da reticência dos holandeses. Afinal, o mercado de trabalho funciona naquele país e qual jovem está disposto a arriscar a vida, ainda mais sendo mal pago? A solução foi reduzir o contingente para 50 mil soldados e aumentar os recursos, para poder pagar um soldo mais atraente.

Faltam recursos para armas e equipamentos

A esperança de reduzir os custos com a ajuda de um exército profissional foi frustrada também na França, que realizou seu último alistamento militar obrigatório em 2001. Com a profissionalização, os soldados passaram a exigir melhor pagamento.

"Para nós o problema principal não foi recrutar soldados, e sim os custos de um exército profissional. Como subestimamos os custos de pessoal, agora temos grande dificuldade com o plano de aquisição de armas e equipamentos", resume o ex-chefe do Estado Maior da França, o almirante reformado Jacques Lanxade.

Treinamento mais abrangente

EUFOR in Bosnien
Soldados da Eufor na BósniaFoto: AP

Fato é que os exércitos profissionais, embora menos numerosos, acabam custando mais aos cofres públicos do que os contingentes recrutados no alistamento militar. Em compensação, são mais aptos a ser enviados para missões no exterior, mesmo porque sua formação é diferente da dos recrutas tradicionais.

O marechal-de-campo Peter Inge, ex-chefe do Estado Maior britânico, lembra-se de como foi a transição no início dos anos 60, quando se profisionalizou o exército no Reino Unido.

"Nós instituímos um sistema de formação muito bom, mas muito caro. Fundamos academias militares, onde formávamos técnicos, especialistas em telecomunicação e mecânicos a partir dos 15 anos de idade. Lá os rapazes tinham não apenas um bom curso profissionalizante como também uma boa formação militar."

Diversificação de tarefas

Deutsche und französische Friedenstruppen in Sarajevo
Alemães e franceses em missão de paz da Otan em SarajevoFoto: AP

A guerra no Iraque e outras missões no exterior levaram as Forças Armadas britânicas ao limite de sua capacidade. Por isso elas estão passando por uma reestruturação, para se tornar mais ágeis e flexíveis ainda.

O leque de tarefas dos exércitos europeus inclui hoje desde intervenções rápidas com tropas especiais até missões de paz de longo prazo, sem se esquecer da ajuda humanitária em situações de catástrofe e do combate ao terrorismo internacional.

Soldados profissionais são mais bem capacitados a cumprir essas tarefas altamente especializadas, quanto a isso não há dúvida. Mas existe também o perigo de a sociedade não se identificar mais com seu exército, vendo os soldados apenas como combatentes bem remunerados.

"Minha impressão é que o exército britânico é respeitado pela sociedade, mas ao mesmo tempo passou a ser uma coisa à parte, um grupo à margem. Se essa impressão se tornar ainda mais forte, eu acharia muito perigoso", alerta Peter Inge.