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EUA dispostos à guerra, com ou sem aliados

(sv)9 de setembro de 2002

Washington aposta na iminência de uma guerra contra Bagdá. Berlim recua e Paris tenta negociar. Enquanto isso, aviões britânicos e norte-americanos atacam postos militares estratégicos no sul do Iraque.

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Foto feita por satélite de uma fábrica no Iraque, suspeita de trabalhar na produção de armas nuclearesFoto: AP

Em entrevista ao diário New York Times, publicada na edição desta segunda-feira (9), o presidente francês, Jacques Chirac, alertou para os perigos de um conflito encabeçado apenas pelo governo norte-americano contra o regime de Saddam Hussein. "Rejeito completamente posições unilaterais no mundo moderno", afirmou o premiê francês, que havia se reunido na noite do último sábado com o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder.

Chrirac defende um prazo de três semanas, a ser estipulado pelo Conselho de Segurança da ONU, para que Bagdá aceite definitivamente a volta dos inspetores da ONU. A possibilidade levantada pelo vice-presidente norte-americano Dick Cheney, de iniciar um "ataque preventivo" contra o Iraque, foi rechaçada por Chirac como "extremamente perigosa".

Apoio britânico –

Isso aconteceu pouco depois que outro parceiro da União Européia, o premiê britânico Tony Blair, declarou seu apoio incondicional "à luta contra a ameaça representada pelo Iraque". Blair, em visita a George W. Bush no último sábado (7), afirmou que "a política de não fazer nada não é uma política responsável". Assessores da Casa Branca afirmaram em caráter extra oficial que o encontro dos dois chefes de governo em Camp David serviu para esclarecer questões estratégicas de um conflito imediato.

Embora o pano de fundo para uma possível invasão norte-americana no Iraque seja o interesse em dominar uma das mais importantes zonas petroleiras do mundo, Washington tenta convencer a opinião pública de que o Iraque pode estar prestes a destruir o planeta. Neste contexto, há de se ressaltar um texto publicado pelo New York Times em sua edição de domingo (8), no qual as estratégias armamentistas de Bagdá são detalhadamente descritas. Segundo o jornal, o governo iraquiano teria tentado nos últimos meses adquirir cilindros de alumínio, usados para centrifugar urânio na fabricação da bomba atômica.

Perigo de fato –

Segundo o Instituto Internacional de Pesquisas Estratégicas, sediado em Londres, o regime de Saddam Hussein ainda está "longe de possuir o material necessário" para a fabricação de armas nucleares. No entanto, segundo John Chipman, membro da instituição, o Iraque "representa de fato um perigo". Segundo Chipman, Hussein ainda não está de posse desse material, "mas caso venha a roubá-lo ou de alguma forma venha a recebê-lo de fora do país, aí sim ele estaria em condições de fabricar uma bomba atômica em poucos meses".

De acordo com as pesquisas divulgadas no Reino Unido, cientistas iraquianos têm tanto o conhecimento quanto a experiência necessária para confeccionar tais armas. "A guerra do Golfo e todas as sanções e inspeções realizadas pela ONU tornaram o desenvolvimento de armas nucleares, biológicas e químicas no país mais lento, mas não acabaram com ele", completa Chipman.

Visita paga –

Enquanto isso, Scott Ritter, um oficial da marinha norte-americana e ex-inspetor da ONU no Iraque, aportou em Bagdá no último sábado (7), "a convite do governo do país". Segundo Ritter, não há qualquer indício de fabricação de armas nucleares em solo iraquiano. Seu pronunciamento de domingo (8) serviu como um eco indireto às declarações de Bush e Blair em Camp David, no dia anterior.

Nos bastidores da Casa Branca, no entanto, Ritter é visto como uma espécie de marionete paga por Saddam Hussein. Segundo informações extra oficiais, as declarações do ex-inspetor da ONU não estão de acordo com os dados coletados pelo serviço secreto americano.

Parceiros infiéis –

Se a veracidade do potencial bélico do Iraque ainda é uma questão aberta, a falta de solidariedade dos parceiros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é vista por Washington como um osso duro de roer. O embaixador alemão nos EUA, Wolfgang Ischinger, tem, segundo comentário irônico do semanário Die Welt am Sonntag, "sentido vontade de ser um cônsul em Ulan Bator, capital da Mongólia".

Convidado a participar de uma série de programas de entrevista desde que a Alemanha bateu o pé no não contra a guerra, Ischinger vem ouvindo uma série de observações nada amáveis nas terras de tio Sam. Há pouco, o diplomata foi recebido no conhecido O'Reilly Show com a seguinte frase: "Nós salvamos a pele de vocês depois da Segunda Guerra Mundial e protegemos vocês durante a guerra fria. E agora?"

A opinião pública norte-americana, de modo geral, tem demonstrado cada vez mais aspereza em relação à postura germânica. No entanto, uma entrevista de Schröder ao New York Times, na qual o premiê alemão menciona a necessidade de "sérias consultas", causou, pelo menos nos bastidores da Casa Branca, um bom feedback. Se Berlim e Washington vão conseguir acertar os pontos para invadir – ou não – os domínios de Saddam Hussein, os próximos dias irão dizer definitivamente. E isso, muito provavelmente antes das próximas eleições na Alemanha.