Medo da crise
6 de dezembro de 2009Anualmente, um grupo de cientistas de Bielefeld pesquisa o desenvolvimento da rejeição da sociedade a grupos minoritários. O estudo deste ano tratou principalmente dos efeitos da crise sobre a hostilidade social.
Quase metade dos cidadãos alemães se sente ameaçada pela crise econômica, de acordo com a última edição do estudo "O estado dos alemães", apresentado na última sexta-feira (04/12) em Berlim. A pesquisa é realizada desde 2002 pelo Instituto para Pesquisa Interdisciplinar de Conflito e Violência, da cidade de Bielefeld.
O temor maior foi verificado em mulheres de meia-idade, pertencentes às classes menos favorecidas. "Mais de 90% dos cidadãos temem ser socialmente rebaixados por causa da crise", afirmou o cientista social Wilhelm Heitmeyer, do instituto de Bielefeld.
Entretanto, somente 43,6% dos entrevistados afirmaram ter, diante da crise, um sentimento de solidariedade social. Isso fica claro com relação à opinião que as pessoas têm dos desempregados de longa duração, comentou Heitmeyer. A pesquisa constatou que, para 57,2% dos entrevistados, os desempregados alemães querem viver à custa da ajuda financeira do Estado.
Resultados positivos
No entanto, a pesquisa também teve resultados positivos. Sentimentos antissemitas, racistas e contra minorias culturais e sexuais apresentaram declínio nos últimos quatro anos, segundo a sondagem. "Mas não sabemos qual a estabilidade dessa tendência", ressaltou Heitmeyer.
O declínio mais acentuado foi verificado no preconceito contra judeus. Enquanto há sete anos 14,7% dos alemães temiam que os judeus tivessem demasiada influência na sociedade, neste ano foram constatados 9,4%.
Entretanto, durante as crises como a atual, o preconceito tende a aumentar. Principalmente pessoas socialmente discriminadas tendem a associar a causa de sua situação com os clichês tradicionalmente atribuídos aos judeus.
A pesquisa constatou ainda que quase dois terços dos alemães veem erros no sistema capitalista e que a grande maioria (90%) da população culpa banqueiros e especuladores pela crise.
Nível médio
Quanto à opinião a respeito de homossexuais e muçulmanos, apesar de uma ligeira queda, o resultado se manteve similar aos anos passados. Quase 16% dos alemães acham que a homossexualidade é "imoral" e cerca de um terço se sente estrangeiro em seu próprio país, pela presença de muçulmanos, constatou a pesquisa.
Pela primeira vez, neste ano, o estudo realizou também uma comparação europeia da aversão social a minorias. O resultado mostrou que os franceses e holandeses são os menos hostis à maioria dos grupos minoritários.
Poloneses e húngaros, por outro lado, alcançaram os maiores níveis de rejeição tanto contra judeus e muçulmanos quanto contra estrangeiros e homossexuais. O nível de hostilidade social entre os alemães está na média dos países europeus pesquisados.
Autor: Mathias Bölinger / Márcio Damasceno
Revisão: Carlos Albuquerque