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Estudo alerta para risco de extinção dos leões

Karin Jäger (ca)27 de outubro de 2015

Rei dos animais está ameaçado pela diminuição do seu habitat, pela caça ilegal e pelo comércio de partes do seu corpo. Segundo pesquisadores da Universidade de Oxford, a espécie só tem chance de sobreviver em reservas.

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Foto: Picture alliance/Arco Images GmbH/Tuns

Sua aparência é forte, majestosa e exala elegância e serenidade. Em muitos países, como a China, leões de pedra ladeiam as entradas. Eles simbolizam o poder dos proprietários, afastando as más influências.

Para os leões de verdade, no entanto, as coisas andam ruins. É o que foi constatado por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

O processo começou há muito tempo: durante a última era glacial, esses predadores foram morrendo aos poucos no continente americano, na Sibéria, na Europa e na Ásia Ocidental. As populações de leões asiáticos foram extintas somente no século passado – com exceção dos remanescentes no Parque Nacional da Floresta de Gir, na Índia.

População diminuiu drasticamente desde 1980

Os restantes 23 mil representantes da espécie que vivem na natureza – cujo habitat na África são principalmente as savanas subsaarianas – também estão ameaçados de extinção, advertem os cientistas, que compararam estudos dos últimos 25 anos relativos a 47 regiões africanas.

De acordo com a avaliação estatística, esse desenvolvimento é dramático principalmente na África Central, Oriental e Ocidental. Se nos últimos 35 anos o número de leões caiu pela metade, nos próximos 20 anos as populações deverão encolher novamente na mesma proporção. Pesquisadores da organização de proteção a grandes felinos Panthera chegaram a resultados semelhantes.

Symbolbild Jagdtrophäe Löwe
Explorados, empalhados: será este o futuro dos leões?Foto: Imago/Xinhua/N. Celaya

"Isso acontece porque o território é de grande importância para os grupos de leões", explica Arnulf Köhncke, especialista em preservação de espécies da organização de proteção ambiental WWF.

"Eles precisam de uma área de no mínimo cem quilômetros quadrados para a caça de zebras, búfalos e kudu [espécie de antílope]. Se fazendeiros utilizam a terra para a criação de gado, isso afasta as presas dos leões", explica Köhncke. Tem início então um círculo vicioso, pois os leões passam a matar gado e cabras – fontes de renda das pessoas. Elas então matam os leões por vingança – ou por se sentirem pessoalmente ameaçadas.

Köhncke argumenta ainda que a pressão dos agricultores por novas terras é prejudicial à estrutural social dos leões machos: "Os animais jovens são obrigados a migrar para estabelecer novos bandos. Mas, se os territórios ficam cada vez menores, eles não são mais capazes de fazer isso." Além da transformação do habitat natural, a caça ilegal e o comércio de partes do seu corpo para fins medicinais ameaçam a preservação do rei dos animais.

Doenças também enfraquecem as populações de leões, como a tuberculose provocada por bactérias ou a síndrome de imunodeficiência felina, causada pelo vírus FIV, semelhante ao HIV que ataca os humanos. Até hoje não há vacinas contra ambos os agentes patogênicos.

Infografik Löwen von Aussterben bedroht Portugiesisch

Mais do que apenas ameaçado

No entanto, na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês), o leão é classificado "apenas" como ameaçado. Diante dos novos dados, Hans Bauer, da Universidade de Oxford, e seus colegas sugerem uma mudança de status, pois esses animais sofrem grande ameaça de extinção.

Apenas em áreas protegidas de países do sul da África, como Botsuana, Namíbia, África do Sul e Zimbábue, as populações dos felinos seriam crescentes, relata o grupo internacional de pesquisadores liderado por Bauer.

Os resultados do estudo apoiam as posições do WWF. Por esse motivo, a organização de proteção à natureza exige a abertura de novos corredores entre as zonas de proteção já existentes, para que os leões e outros grandes felinos possam se mover por uma área maior, explica Köhncke: "Não se pode negar que existam conflitos entre humanos e os leões. Tentamos ajudar a resolver essa situação."

Como exemplo, ele mencionou o projeto KaZa (sigla de Área Transfonteiriça de Conservação Ambiental Kavango-Zambeze), financiado pelo WWF. Trata-se da maior área transfronteiriça de conservação da natureza e da paisagem no sul da África.

Numa superfície de aproximadamente 520 mil quilômetros quadrados, ao longo de cinco países, vivem aproximadamente 4 mil leões. O WWF financia a construção e manutenção de cercas e porteiras para a proteção dos rebanhos de gado. Detectores de movimento posicionados em frente a cercas são empregados para desencorajar os leões por meio do acionamento de uma luz de flash. Isso também poupa a vida dos predadores, já que eles não são mais ameaçados de ser mortos a tiros ou envenenados por fazendeiros e colonos.

Arnulf Köhncke
Arnulf Köhncke: "Só em algumas áreas de proteção a população de leões não diminui"Foto: WWF Deutschland

Através dos corredores para animais selvagens, os felinos poderão se movimentar por toda a área de proteção da KaZa. O estímulo ao ecoturismo também faz parte do projeto, diz Köhncke: "Queremos mostrar que se pode ganhar mais dinheiro com leões vivos do que com mortos, e que as pessoas podem até mesmo se beneficiar dos animais."

Köhncke diz duvidar que, no futuro, leões só possam ser vistos em zoológicos e reservas naturais: "Ainda estamos muito longe disso. Mas vemos que a tendência dos números populacionais só não é decrescente em áreas de proteção intensamente administradas." Fora dessas zonas, os leões estão sofrendo de forma drástica, afirma o especialista. "Por esse motivo, saudamos qualquer estudo que confirme aquilo que estamos dizendo há muito tempo."