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Esquerda francesa esfacelada

Angela Göpfert (av)21 de maio de 2007

Ao se abrir para a esquerda, o presidente Sarkozy enfraqueceu ainda mais os socialistas. E no entanto a manobra nem era necessária: a esquerda francesa está se autodestruindo.

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Abraço socialista cada vez menos abertoFoto: AP

Tudo aconteceu tão rápido. Outro dia mesmo, Bernard Kouchner integrava a "equipe presidencial" de Ségolène Royal, agora ele é o ministro do Exterior do conservador Nicolas Sarkozy. Kouchner, fundador da organização Médicos sem Fronteiras, socialista e um dos mais apreciados políticos da França, é um dos que se beneficiaram com a "iniciativa de abertura" do presidente.

Em contrapartida, quem poderá se dar muito mal nas próximas eleições parlamentares é o seu Partido Socialista (PS), que inicia oficialmente sua campanha nesta segunda-feira (21/05).

Esmagando a esquerda

Sarkozy stellt neue Regierung vor
Bernard Kouchner (e) é considerado 'traidor' entre os socialistasFoto: AP

Com este novo golpe, o estrategista virtuose Sarkozy fez totalmente jus à sua fama, ao mesmo tempo que jogou pelos ares suas táticas anteriores. Quem apontou para este fato foi o político François Bayrou, que no pleito presidencial ainda correu pela centrista UDF, e agora é chefe do recém-criado Movimento Democrático. "O que ainda era vendido como verdade durante as eleições parece agora não valer mais", comentou.

De fato, em sua campanha, Sarkozy desqualificara como "perigo para a democracia" a visão de Bayrou de um "governo da unidade nacional". Se naquele momento a meta do novo presidente francês era excluir Bayrou do segundo turno, agora ele parece se concentrar em "esmagar a esquerda no pleito parlamentar". A suposição é da socialista Elisabeth Guigou, ministra do Trabalho de 2000 a 2002.

Também Henrik Uterwedde, vice-diretor do Instituto Franco-Alemão (DFI), em Ludwigsburg, declarou em entrevista à DW-WORLD.DE: "Claro que esta estratégia de Sarkozy visa semear a instabilidade entre os socialistas.

Erros do passado

À primeira vista, a tática parece estar funcionando. Se, durante a eleição presidencial, os socialistas ainda conseguiram abafar seus conflitos internos, a tarefa parece cada vez mais difícil, após o fracasso de sua candidata, Ségolène Royal.

Uma olhada na panela dos choques de direcionamento intrapartidários revela um conteúdo pouco apetitoso. Entre a ala social-democrata de Dominique Strauss-Kahn e a mais de esquerda, em torno do ex-premiê Laurent Fabius, desencadeou-se uma dura luta de trincheiras.

Segundo o especialista em assuntos franceses Uterwedde, contudo, as desavenças internas do PS são menos um resultado dos joguinhos estratégicos do novo presidente, do que fruto de erros do passado:

"Durante cinco anos negligenciou-se a renovação do partido, tanto em termos de programa como de estratégia. Agora isto vem à tona. Se os socialistas perderem estas eleições parlamentares, é sobretudo pela própria culpa."

Adeus à "esquerda pluralista"?

Realmente: são ruins as chances do PS na eleição para a Assembléia Nacional, a realizar-se em dois turnos, em 10 e 17 de junho. Segundo um estudo do instituto francês de pesquisa de opinião BVA, aos socialistas possivelmente caberão entre 151 e 200 assentos, ao partido do governo, UMP, até 380.

Para alcançar a maioria absoluta são necessários 289 dos 577 assentos. Com 21 cadeiras, os comunistas poderão manter sua bancada na câmara baixa do Parlamento francês. Quem está realmente mal são os verdes, que segundo os cálculos não conseguirão mais do que um ou dois mandatos.

O porta-voz do partido, Yann Wehrling, lamentou recentemente que o PS não estivesse disposto a apoiar um número suficiente de candidatos verdes, afastando-se de sua própria concepção de uma "esquerda pluralista".

Esperar até 2012?

Professor Dr. Henrik Uterwedde
Henrik Uterwedde, vice-diretor do DFIFoto: Deutsch-Französisches Institut

Assim, o Partido Verde é quem paga o pato no conflito de direções dentro do PS. Nem verdes nem comunistas pesam o suficiente na balança política para dar maioria à esquerda na França, crê Uterwedde. Por este motivo, os socialistas já falam até mesmo em se aproximar do Movimento Democrático de Bayrou, e, portanto, numa possível aliança de centro-esquerda.

A julgar pelas pesquisas de opinião, o PS logo receberá dos eleitores o tempo de que precisa para uma reestruturação estratégica. "O novo governo de Sarkozy terá uma clara maioria no Parlamento. Tudo o mais seria uma enorme surpresa", sentencia Uterwedde. "O novo horizonte para os socialistas é 2012."