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Especialista alemão de patentes fala sobre o projeto "Futebol e Técnica"

Carlos Albuquerque9 de junho de 2014

Em entrevista à DW Brasil, Markus Seitz, coordenador do projeto "Futebol e Técnica", fala sobre a documentação do Departamento Alemão de Patentes e Marcas, que oferece um estudo inédito sobre o futebol e suas invenções.

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Computeranimation Torlinientechnik GoalControl
Foto: picture-alliance/dpa

Desde 2006, o Departamento Alemão de Patentes e Marcas (DPMA, na sigla em alemão) vem atualizando a documentação Futebol e Técnica, sobre as patentes relacionadas com o futebol. Além disso, o DPMA elaborou alguns ensaios sobre a história do futebol e suas invenções.

Markus Seitz, especialista do DPMA e responsável pela coordenação do projeto, disse à DW Brasil que, frequentemente, um produto surge a partir de diferentes motivações e que se trata de uma verdadeira interação.

"De um lado, estão os técnicos que ficam contentes em poder desenvolver algo novo, em ter ideias em todas as direções que, possivelmente, implicam as melhores soluções. E existe também aquilo que é possível de ser implantado na prática para o público em geral. E, no final, o que a Fifa vem a decidir é algo tão complexo, que é impossível de ser previsto."

DW Brasil: Como surgiu a ideia da documentação Futebol e Técnica?

Markus Seitz: Em 2006, aconteceu a Copa do Mundo na Alemanha. Na ocasião, firmas e agências federais alemãs aproveitaram o evento como plataforma para se apresentar. A ideia da documentação veio da redação online aqui no DPMA, junto a mim e a um colega. Quatro pessoas trabalharam no projeto.

Procuramos saber se havia patentes sobre o futebol. Constatamos então que se tratava de um campo muito vasto. E assim surgiu o projeto. O verdadeiro motivo foi a Copa do Mundo na Alemanha em 2006.

Como se conseguiu reunir patentes do mundo todo?

Primeiro, procuramos saber quais eram os principais pontos. Na verdade, é algo que não tem limites. Iniciamos então com o calçado no futebol. Sabemos a partir da história alemã da importância da chuteira com trava aparafusada.

Dr. Markus Seitz
Markus Seitz, especialista do DPMAFoto: DPMA

Então pensamos em algumas categorias que poderiam ser de grande interesse. A própria bola. A Tecnologia da Linha do Gol, naturalmente.

Em seguida, procuramos de forma objetiva nos bancos de dados de patentes que temos aqui na casa, pesquisando através de palavras-chave relacionadas ao futebol. Existe naturalmente muito mais patentes, como na área dos plásticos. É preciso então parar, porque muito desses desenvolvimentos não estão ligados diretamente ao futebol, nós nos dedicamos ao uso específico para o futebol.

Os temas encontrados na documentação são basicamente aqueles que nós consideramos a priori como os mais importantes e existe também um item em separado onde estão todas as coisas que consideramos curiosas ou interessantes. As nossas pesquisas no Museu do Futebol em Kaiserslautern também foram de grande ajuda.

Além disso, tentamos trabalhar esses pontos historicamente e escrevemos um pequeno ensaio sobre os temas mais importantes, como a chuteira, os utensílios do árbitro e a própria bola. E assim se realizou o projeto. No total, esse processo durou cerca de um ano.

Como funciona o processo que vai da patente até a fabricação por firmas de material esportivo, como Nike, Adidas ou Puma? Temos agora o caso interessante da bandeira eletrônica, cuja patente é de 1981 e somente há três ou quatro anos passou a ser usada no futebol profissional...

Essa é naturalmente uma questão que se refere não somente ao futebol, mas a todos os campos da tecnologia em geral. Alguém tem uma ideia e a patenteia. E, algumas vezes, demora realmente anos até que ela seja aplicada na prática.

No caso da bandeira eletrônica, que foi inventada por um árbitro alemão [Robert Kreitlein], a ideia remonta a um jogo da Copa do Mundo na Inglaterra, em 1966, onde houve muitos tumultos e ele teve problemas de comunicação.

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Bandeira eletrônica foi inventada por árbitro alemãoFoto: picture-alliance/dpa

Com base nesse trauma vivenciado por ele, o árbitro passou a pensar no que podia fazer, surgindo mais tarde a ideia da bandeira eletrônica, que permite uma comunicação entre o árbitro e seus auxiliares.

Então quando um inventor independente patenteia uma ideia, ela está protegida, ninguém pode imitar. E, frequentemente, diferentes aspectos vêm à tona. Ou há demora até que se tenha o dinheiro para que a ideia seja implementada ou que se consiga esse dinheiro através da venda de licenças.

E, no futebol, tais inovações são acompanhadas por uma mudança de regra, que deve ser aprovada pelo pessoal da Fifa. Ou seja, há algumas coisas que podem levar a um atraso de 10 a 20 anos até que uma ideia patenteada possa vir a ser executada na prática.

Considerando-se que uma patente dura 20 anos, então mesmo que algumas ideias sejam implementadas, o inventor corre o risco de não lucrar nada com elas?

Sim, primeiro a patente dura 20 anos e, na maioria dos casos, ela precisa ainda ser desenvolvida para ser aplicada na prática, e isso pode levar mais 20 anos e com um novo desenvolvimento, outros 20 anos. Através desses novos desenvolvimentos é possível ampliar o prazo de proteção da patente.

Em que casos práticos firmas esportivas pagam pelas licenças de patentes? No caso da chuteira usada na Copa do Mundo, por exemplo?

Naturalmente, quando uma chuteira é vendida, existem alguns direitos de propriedade industrial a serem respeitados: há evidentemente os materiais; existem também algumas tecnologias, como a trava aparafusada; uma chuteira tem possivelmente sistemas modulares. Além disso, há coisas como a marca. Grandes firmas como Adidas, Nike ou Puma têm naturalmente uma logomarca bonita e um determinado design. Para isso, há certamente alguns direitos de autor.

As patentes não se referem somente à tecnologia. Há também o design e a marca. Assim, as firmas estão envolvidas num emaranhado de direitos de propriedade industrial. Uma chuteira não está protegida somente por uma patente, mas normalmente há aí muito desenvolvimento tecnológico que exerce um papel importante. Não é algo fácil, as firmas sabem o que as concorrentes estão fazendo. Então é preciso ter bastante experiência para se locomover nessa área.

Como a documentação Futebol e Técnicaestá sendo atualizada?

É claro que no ano da Copa do Mundo na Alemanha, em 2006, foi uma imensa euforia e muitos trabalharam na documentação. Obviamente, não se pôde dar continuidade a esse esforço inicial e a atualização do projeto ficou a cargo de funcionários do DPMA, praticamente nas horas extras.

Em 2008, realizamos uma atualização de conteúdo e também em 2010, por ocasião da Copa do Mundo na África do Sul, como também em 2012. Infelizmente, ainda não pudemos atualizar conteúdos referentes a alguns avanços tecnológicos na área da Tecnologia da Linha do Gol.

Quanto às novas tecnologias, você poderia nos falar algo sobre o futuro do futebol?

No momento, a utilização da Tecnologia da Linha do Gol ainda não está muito clara. Tudo vai depender da implantação na prática. Recentemente, houve o exemplo do final da Copa da Alemanha, quando Dortmund fez um gol válido, mas que não foi computado. E pouco tempo antes, a Alemanha havia se posicionado contra a implantação da Tecnologia da Linha do Gol. O motivo são os times menores, que temem os altos custos dessa nova tecnologia.

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Novas tecnologias permitem a marcação correta de um golFoto: imago/Revierfoto

Acredito que se trate de uma verdadeira interação. De um lado, estão os técnicos que ficam contentes em poder desenvolver algo novo, em ter ideias em todas as direções que, possivelmente, implicam as melhores soluções. E existe também aquilo que é possível de ser implantado na prática para o público em geral. E, no final, o que a Fifa vem a decidir é algo tão complexo, que é impossível de ser previsto.

A partir dos anos 1990, quando o futebol se tornou bastante violento, surgiu a camiseta com partes rasgáveis, o que evita a queda do jogador ao ser puxado pelo adversário. Agora, as dificuldades na marcação correta de um gol levam a novas tecnologias. Parece que as invenções do futebol reagem aos problemas enfrentados pelo esporte...

É sempre assim, com cada avanço tecnológico resolve-se um problema. E a solução do problema resulta em novas possibilidades, que, por sua vez, implicam novos problemas. O interessante no caso da camiseta com partes rasgáveis é que ela também oferece a possibilidade de ser rasgada pelo próprio jogador que a está utilizando. Ou seja, se por um lado ela protege o jogador de quedas, ela também pode ser usada para provocar uma falta que não existiu.

Frequentemente, um produto surge a partir de diferentes motivações. E diferentes causas podem levar ao mesmo produto.