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Günter Wallraff

Peter Philipp (sm)23 de julho de 2007

Günther Wallraff, autor de "Cabeça de Turco", famoso por denunciar a discriminação de estrangeiros na Alemanha, explica em entrevista à DW-WORLD.DE por que sugeriu recital de 'Versos Satânicos' numa mesquita de Colônia.

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Mesquita planejada no bairro Ehrenfeld, em ColôniaFoto: picture alliance/dpa
Günter Wallraff
Günter WallraffFoto: dpa

Ele não consegue entender toda essa agitação. O escritor Günther Wallraff diz não ter pensado nem em sonho que provocaria um escândalo, ao fazer aquela sua sugestão "espontânea" numa discussão de rádio. Dele partiu a idéia de fazer um recital dos Versos Satânicos, do escritor indiano-britânico Salman Rushdie, na mesquita da União Turco-Islâmica do Departamento de Religião (Ditib), em Colônia, a duas quadras da sua casa. E depois discutir com a comunidade o livro que consta da lista negra dos fundamentalistas islâmicos.

A Ditib pode até estar arrependida de ter dado a deixa para esta polêmica proposta de Wallraff. É que foi a própria associação muçulmana que o convidou a se tornar membro do conselho da mesquita, cuja construção está sendo planejada. Em 1985, Wallraff fez furor na mídia alemã ao se disfarçar de operário turco, sob o cognome Ali Levent, e narrar as experiências que teve em empresas alemãs no livro Cabeça de Turco, que viria a se tornar um best-seller.

Multicultural, sim, mas com respeito ao direito de expressão

"No lugar onde existe há 20 anos uma mesquita improvisada, eles têm muito bem o direito de construir uma outra, decente e moderna", afirma Wallraff. "Aqui em Colônia, onde moro, esse assunto vem sendo tratado de uma forma histérica. Radicais de direita tentaram mobilizar a população contra esta mesquita, o que gerou uma discussão completamente errada."

Großbritannien Schriftsteller Salman Rushdie
Salman RushdieFoto: AP

"Mas sou uma pessoa que, ao mesmo tempo, defende a liberdade de opinião. Alguém que acolheu o amigo e colega Salman Rushdie, quando ele foi ameaçado com a fatwa, quando a vida dele estava em jogo. Ele se hospedou várias vezes aqui em casa..."

Com amigos e vizinhos turcos, ele já discutiu durante muito tempo os Versos Satânicos. E eles morreram de rir, não acham de jeito nenhum que o texto seja uma blasfêmia.

"Cada um pode pensar do livro o que quiser, pode discuti-lo com veemência. Deve-se até brigar por causa disso. Mas ninguém tem o direito de colocar a vida de uma pessoa em jogo por causa da expressão de uma opinião – e em se tratando de uma forma de arte, aí é que não mesmo", opina Wallraff.

Gente do futuro, quem vê o lado bom das duas culturas

O escritor reitera que não sugeriu realizar a discussão no "ambiente sagrado" da mesquita, mas sim no centro comunitário de Ehrenfeld, em Colônia. Mas um evento como esses poderia servir de exemplo para outras comunidades muçulmanas da Alemanha.

O escritor de Colônia distingue claramente entre a postura que existe na Alemanha e a intolerância em outros lugares. "Acho que os muçulmanos que vivem na Alemanha não merecem ser identificados com isso. Pelo que os conheço, são pessoas pacíficas. Nada de fanáticos. Há alguns da segunda, terceira geração que têm condições de comparar. Eles vêem lados positivos em suas duas culturas. Para mim, essas são as pessoas do futuro. E é com elas que eu gostaria de discutir um livro desses. Estou confiante de que o evento vai acontecer."

Mas isso ainda não está decidido. A Ditib está constrangida, pelo visto, e ainda não tomou uma decisão. A presidência da associação está de férias. Mas uma coisa é certa: qualquer decisão vai causar novos problemas. Se a Ditib rejeitar, se exporá à acusação de falta de liberalidade; se acatar, vai espantar muitos de seus membros. E isso, numa época um pouco delicada, em que ainda se discute a construção da mesquita e, além do mais, depois de o governo alemão ter tornado mais rigorosa a lei de imigração e associações turcas terem boicotado a "cúpula de integração do governo".