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Escritor alemão barrado em Salvador tem histórico de críticas aos EUA

2 de outubro de 2013

Búlgaro-alemão Ilija Trojanow, forçado a interromper viagem para Denver ao tentar embarcar na Bahia, é conhecido pela crítica ao capitalismo e por suas posições firmes na questão dos direitos civis.

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Ilija Trojanow: voz crítica da literatura contemporânea alemãFoto: picture-alliance/dpa

O escritor Ilija Trojanow retornou à Alemanha, após ter sido barrado na Bahia quando pretendia seguir viagem para os Estados Unidos. Na última segunda-feira (30/09), a caminho de uma conferência de germanistas em Denver, ao fazer o check-in pela companhia aérea American Airlines, ele foi impedido de prosseguir.

Trojanow diz que não recebeu qualquer justificativa razoável – a funcionária da companhia aérea só lhe informou que seu caso era "especial". Mas ele considerou o ato uma retaliação às suas recentes críticas à política de Washington.

Há anos Trojanow critica a política de fronteiras nos EUA e na Europa. Em 18 de setembro, juntamente com colegas como Juli Zeh, Ingo Schulze e Julia Franck, ele entregou à chanceler federal alemã, Angela Merkel, uma petição exigindo uma reação de Berlim ao escândalo de espionagem pela americana Agência Nacional de Segurança (NSA).

Até o momento, o documento já foi assinado por 70 mil pessoas. Assim como outros signatários, Josef Haslinger, presidente na Alemanha da associação internacional de escritores PEN – a que Trojanow pertence desde 2002 –, exige agora do governo alemão o esclarecimento imediato do incidente em Salvador.

Resistência política

Juli Zeh Schriftsteller Protest NSA
Juli Zeh (esq.) e outros autores protestam contra passividade de Berlim frente a NSAFoto: picture-alliance/dpa

Nascido em Sófia, Bulgária, em 1965, Ilija Trojanow possui cidadania alemã. Sua família obteve asilo político no país quando ele tinha 6 anos. Residindo atualmente em Viena, o autor viveu e estudou alternadamente na Europa (Munique e Paris) e na África (Nairóbi e Cidade do Cabo), tendo-se especializado na literatura e sociedade africana e indiana.

Várias vezes laureado como autor, Trojanow também trabalha como tradutor e editor. A visão política e, em especial, a crítica ao capitalismo e a questão dos direitos civis norteiam sua atuação profissional. Em 2007, realizou um documentário sobre as crueldades do regime comunista na Bulgária e as mentiras da atual sociedade no país.

Dois anos mais tarde, lançou com Juli Zeh o livro Angriff auf die Freiheit – Sicherheit, Überwachungsstaat und der Abbau bürgerlicher Rechte (Ataque à liberdade – Segurança, Estado de vigilância e a erosão dos direitos civis, em tradução livre).

Comentando a proibição de entrada nos EUA, Zeh postou no Facebook: "Formulemos positivamente: o engajamento de nós todos mostra resultado. Toma-se conhecimento dele. Formulemos negativamente: é uma farsa. Pura paranoia. Gente que se empenha pelos direitos civis é tratada como inimigo de Estado".

Alerta ao cidadão

Na edição online do jornal alemão Frankfurter Allgemeinen Zeitung, Ilija Trojanow relata detalhadamente o ocorrido no aeroporto de Salvador. Ele enfatiza a "frieza" e "má informação" das funcionárias no guichê da American Airlines – cujos comentários e sugestões sentiu "quase como escárnio" – e traça paralelos com o atual procedimento do governo americano.

"Um dos aspectos mais importantes e mais ameaçadores do escândalo da NSA é a essência segredosa do sistema. A transparência é obviamente o maior inimigo daqueles que, supostamente, defendem a liberdade", escreveu.

Autor Ilija Trojanow in Brasilien
Ilija Trojanow já foi diversas vezes ao Brasil (Foto de 2010, em SP)Foto: Danila Bustamante

Para o autor de 48 anos, que participou recentemente na Bienal do Livro do Rio de Janeiro, é inegável a relação entre a proibição de voo e suas recentes atividades críticas à política de Washington. "Que um autor que ergue sua voz contra a prática dos Estados de vigilância tenha agora negada a entrada na 'land of the brave and free', é mais do que irônico", comentou.

Trojanow afirma que voltará a pedir visto para os EUA. E termina seu artigo com uma advertência "aos cidadãos que se tranquilizam com o mantra 'Isso não me diz respeito'". "Pode ser que ainda seja o caso, mas os impactos vão chegando mais perto. No presente, esses cidadãos só escutam o telefone sem fio dos serviços secretos, mas num dia não muito distante vão receber a conta pela própria credulidade."

AV/dpa/afp/faz