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Esclarecimento é essencial na luta contra ebola

Martin Koch (cn)3 de julho de 2014

A Deutsche Welle entrevistou o presidente da Médicos sem Fronteiras na Alemanha sobre a maior epidemia de ebola da história. Tankred Stöbe falou sobre dificuldades e esperanças de combater a doença na África Ocidental.

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Tankred Stöbe, presidente da MSF na AlemanhaFoto: Barbara Sigge/Ärzte ohne Grenzen

A epidemia de ebola que atinge a África Ocidental é a maior e mais mortal registrada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com quase 500 mortes até o momento. Especialistas da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) já haviam alertado que a situação poderia sair de controle.

Segundo Tankred Stöbe, presidente da MSF na Alemanha desde 2007, falta de informação e de medidas básicas de higiene contribuem para que o surto de ebola se alastre ainda mais. Em entrevista à Deutsche Welle, o médico, que já participou de missões na Síria, Iraque e Somália, conta como está sendo o trabalho dos especialistas na região para tentar conter a doença. E sobre o perigo de que ela se alastra para além do continente africano.

Deutsche Welle: Por que há tantas vítimas na Guiné, Serra Leoa e Libéria?

Tankred Stöbe: Não há cura para o tipo de vírus que se espalhou na África Ocidental. Isso significa uma alta taxa de mortalidade entre os infectados. Outro fator é a grande movimentação humana na região, através das fronteiras regionais e também nacionais. Dessa maneira, os infectados levam consigo o ebola para outras áreas, de difícil acesso. Os profissionais de saúde nos locais não dão conta de chegar a todos os doentes e tratá-los.

O que favorece a propagação da doença?

O vírus é transmitido através de fluídos corporais. Um aspecto que nos preocupa é que, durante o funeral ou os rituais funerários das vítimas do ebola, as pessoas querem lavar ou tocar os corpos, e isso resulta na transmissão da infecção.

Como são as reações, quando os médicos tentam proibir esses rituais?

Essa é justamente a parte difícil. Uma grande campanha de informação é necessária para que as pessoas não entrem em pânico, não se enredem em mitos sobre o ebola, mas sim vejam claramente o que precisa ser feito. Os familiares podem se despedir, só o contato corporal é que deve ser evitado. Além disso é preciso melhorar as condições de higiene para os atingidos e os profissionais de saúde. Às vezes trata-se apenas de medidas básicas de higiene, mas elas não existem nesses países onde o vírus grassa.

Que respostas os seus colegas recebem, ao prescrever tais medidas?

Algumas pessoas cooperam bastante. Mas algumas entram em pânico quando encontram nossos funcionários, naturalmente usando roupas de proteção, com máscaras e óculos de segurança. É assustador mesmo, a maioria nunca viu isso. E, é claro, há o argumento em contrário – se um doente chega aos nossos centros de tratamento e sai de lá morto – de que nós não melhoramos o quadro da doença nem curamos, mas sim o agravamos.

Também aí é necessário um grande trabalho de esclarecimento. Em outras regiões africanas onde houve surto de ebola, o nível de esclarecimento é maior, e aí é também mais fácil as pessoas se protegerem. Porém nos países da África Ocidental atualmente atingidos pela doença há grande carência de informação. É necessário muito esclarecimento, também entres os chefes tribais e os postos de saúde locais. Lá é preciso se explicar que há esse vírus, como se proteger e como reagir, caso um familiar seja infectado.

Quais são as condições de trabalho locais?

Difíceis. Nossos funcionários não são recebidos de braços abertos, há muito ceticismo. Além disso, as medidas para a própria higiene são muito importantes, quer dizer. eles precisam trabalhar com essas roupas de plástico em temperaturas altas, é muito cansativo. E quando vemos que, apesar de todas as medidas, o alastramento da doença continua, isso é muito frustrante para nós.

Além do tratamento médico, o que se faz no sentido de acompanhamento psicológico para as famílias in loco?

O senhor tocou num aspecto muito importante: é fundamental levar a sério o medo e a preocupação das famílias e reagir condizentemente. Nós acreditamos que é muito importante um bom esclarecimento sobre o grau de perigo, mas também sobre as medidas de proteção cabíveis. Que as pessoas devem permanecer em suas localidades e procurar ajuda médica imediatamente, caso apareçam sintomas como febre, dores musculares e vômitos, de modo a poderem ser rapidamente tratadas e também isoladas.

A seu ver, há perigo de o ebola chegar à Europa?

Não vemos perigo concreto nesse sentido. Via de regra, trata-se de um problema circunscrito a uma região. Mas, é claro, quanto mais gente estiver envolvida, quanto mais a epidemia se espalhar, tanto maior é o risco potencial de que ela atravesse outras fronteiras nacionais e até saia da África.

Seus funcionários trabalham sob as condições mais difíceis e também se expõem diariamente ao ebola, ao tratar dos doentes. Quão grande é o perigo de contágio para eles – até mesmo de voltarem a seus países de origem trazendo o vírus?

Potencialmente, os médicos e enfermeiros estão expostos ao máximo à doença, ou seja, eles estão em interação e contato próximos com as pessoas infectadas. No entanto – e esta é a boa notícia –, em todos estes meses que estamos na região, nenhum de nossos funcionários foi contaminado. Isso mostra, por um lado, que estamos nos protegendo de maneira eficaz. Mas também – e isso é muito importante – que, no geral, é possível uma boa proteção contra esse vírus, seguindo-se as medidas de precaução necessárias. Nesse sentido, no momento é pequeno o risco de que nossos funcionários levem a doença para casa.