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Escândalo mancha reputação do maior clube de automóveis da Europa

Marcio Damasceno22 de janeiro de 2014

Poderosa lobista da indústria automobilística e capaz de influenciar mercado na Alemanha, ADAC, que possui 18 milhões de associados, tem credibilidade arranhada por manipular pesquisa sobre carro favorito dos alemães.

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Foto: picture-alliance/dpa

No espaço de poucos dias, o poderoso Automóvel Clube Alemão (ADAC) deixou de ser uma das mais respeitadas associações do país para, do alto de seus quase 111 anos, protagonizar um escândalo nacional. A entidade admitiu ter manipulado cifras em sua eleição do carro "mais popular da Alemanha", uma das categorias do prêmio "Gelber Engel" ("anjo amarelo"), atribuído anualmente por ela aos destaques da indústria automobilística alemã.

O clube reconheceu que inflacionou em dez vezes o número de participantes da sondagem, quando afirmou que mais de 34.299 mil associados votaram no Golf da Volkswagen como o automóvel favorito dos alemães. A cifra verdadeira era apenas 3.409, conforme revelou reportagem do jornal Süddeutsche Zeitung.

A manipulação teria sido feita pelo chefe do departamento de comunicação do ADAC, Michael Ramstetter, que se demitiu da empresa imediatamente após a denúncia. "Eu fiz besteira e manipulei números. Por isso, arco com as consequências e assumo toda a responsabilidade", confessou, em entrevista ao Süddeutsche Zeitung.

O clube insistiu que a ordem no ranking, em que o Golf foi declarado vencedor, permaneceu intocada. Entretanto, o estrago já estava feito na imagem da instituição, considerada um dos ícones em um país onde automóvel é uma paixão nacional.

Entidade lobista influente

"Pedimos desculpas pelo incidente, ele atinge o âmago do ADAC porque éramos tidos como uma das mais confiáveis e honestas organizações. Esta reputação está agora prejudicada", declarou o diretor-executivo da entidade, Karl Obermair.

Ele prometeu uma investigação abrangente, com a ajuda de peritos externos, e reconheceu que a manipulação possivelmente também ocorreu nos anos anteriores, já que Ramstetter era o único com acesso aos números da votação.

ADAC Michael Ramstetter Leiter Öffentlichkeitsarbeit
Ex-chefe de comunicação do ADAC Michael Ramstetter: "Fiz besteira"Foto: picture-alliance/dpa

Com mais de 18 milhões de associados, o ADAC é o segundo maior clube automobilístico do mundo e o maior da Europa. Ele é mais conhecido do público alemão por seu serviço de socorro a motoristas.

Entretanto, a associação sediada em Munique é também um influente grupo lobista. A opinião do ADAC tem grande peso na política alemã, influenciando decisões que vão do limite de consumo de álcool para motoristas, à velocidade máxima nas estradas, passando pela adoção ou não de pedágios nas rodovias.

Governo cobra esclarecimentos

O ADAC também testa a segurança e a qualidade tanto de veículos quanto de acessórios automotivos. Os resultados dos testes são divulgados na publicação mensal da associação, a ADAC Mortorwelt que, com mais de 15 milhões de leitores, é a revista de maior alcance na Europa.

Um veredicto negativo do clube sobre um produto ou serviço é sinônimo de prejuízo financeiro, seja para assentos de carros para crianças, para a qualidade de pneus ou até de lanchonetes de beira de estrada.

A companhia tem, ainda, várias ramificações, que vendem diversos outros serviços – de locação de automóveis a viagens de ônibus, de seguros automotivos e de viagem a seguros de saúde no exterior, entre outros.

O pedido de desculpas da diretoria do ADAC e a promessa de investigar o caso veio em meio a uma avalanche de críticas, inclusive do próprio governo. O Ministério da Justiça da Alemanha, que é também responsável pela defesa do consumidor, cobrou que o assunto seja amplamente esclarecido.

"Qualquer instituição cujas avaliações têm uma influência direta sobre os hábitos de compra das pessoas tem uma responsabilidade especial em relação aos consumidores", sublinhou o ministro alemão da Justiça, Heiko Maas. "[O ADAC] deve agora fazer justiça à responsabilidade que possui".

Ferdinand Dudenhöffer, especialista em indústria automobilística da Universidade de Duisburg-Essen, não descarta que tenha havido manipulação em outras estatísticas e testes da associação.