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Escândalo da milhagem ameaça chance eleitoral da coalizão

av1 de agosto de 2002

O jornal "Bild" prossegue combatendo a malversação de milhas aéreas. Com 16 anos de experiência jornalística, a esposa do chanceler Schröder afirma: a meta do "Bild" é mesmo influenciar as eleições.

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Ministro Jürgen Trittin: imprensa sabe mais que o próprio gabineteFoto: AP

Tudo começou com o verde Çem Özdemir, que se retirou voluntariamente das atividades parlamentares, depois que o jornal Bild revelou que utilizara para fins particulares as milhas aéreas acumuladas em vôos de serviço. Agora, o político do Partido do Socialismo Democrático (PDS), Gregor Gysi, foi um passo mais longe: sob a mesma acusação, anunciou seu afastamento radical da vida política. Antes de assumir, em janeiro, a Secretaria de Economia de Berlim, ele era o líder da bancada do PDS no Parlamento federal (Bundestag).

Trata-se de uma perda avassaladora para o PDS, a poucas semanas das eleições parlamentares, já que Gysi era sua figura de proa. Sem sua presença, o PDS certamente perderá um número considerável de eleitores, o que poderá lhe custar a representação no Bundestag, caso permaneça abaixo da marca de 5% dos votos.

Agora, os neo-comunistas precisam recuperar-se do choque. Numa entrevista coletiva à imprensa convocada às pressas em Berlim, a presidente do PDS, Gabi Zimmer, e o chefe da bancada no Bundestag, Roland Claus, declararam-se pessoalmente abalados, lamentando que hajam sido em vão todos os seus esforços para demover Gysi da renúncia. Claus não concorda que Gysi se retire devido a um escândalo relativamente brando: "Com todo o respeito, a coisa nos parece um tanto exagerada. Ele reconheceu um erro político, é perigoso proceder com critérios que nada mais têm a ver com a realidade".

A caça às bruxas continua

Os próximos na linha de fogo do jornal Bild são o ministro do Meio Ambiente, Jürgen Trittin, e o secretário de Estado no Ministério das Relações Exteriores, Ludger Vollmer, ambos do Partido Verde, assim como Günter Nooke, importante candidato da União Democrática Cristã (CDU) para o Bundestag. Todos negam as acusações.

Segundo o Bild, Trittin teria empregado em duas viagens de férias uma parte das 300 mil milhas-bônus acumuladas em vôos de serviço. Para comprovar a afirmação, publicou na quarta-feira (31/7) fotos do ministro e da esposa no aeroporto de Pisa. Trittin mostrou-se surpreso pelo fato de o periódico dispor de informações tão detalhadas sobre suas viagens pessoais: "Isto já está cheirando a um problema de segurança". Segundo seu porta-voz, os jornalistas sabiam de compromissos particulares que até mesmo o gabinete do ministro ignorava. No aeroporto, eles confrontaram o ministro com perguntas sobre vôos específicos, um procedimento que o porta-voz classificou como "mais do que duvidoso".

O secretário-geral do SPD, Franz Müntefering, pediu às empresas aéreas que publiquem uma lista completa com todos os "delinqüentes das milhas extras". Ele vê no escândalo um jogo de cartas marcadas, afirmando com uma certa dose de cinismo: "Trata-se também de uma forma de campanha eleitoral."

A Lufthansa rejeita a exigência de Müntefering, assegurando, ao mesmo tempo, que a imprensa não obteve informações sobre as contas de bônus através dos funcionários da companhia: "Nossa rede de segurança é impenetrável", assegurou uma porta-voz. O parlamentar Jörg van Essen, do Partido Liberal (FDP), revelou que há anos se discute a possibilidade de a empresa computar as milhas extras no nome do Bundestag, e não para cada deputado. A empresa resiste em adotar tal sistema, preferindo assegurar sua clientela particular.

Conspiração da oposição?

Doris Schröder-Köpf vê claramente na onda de revelações escandalosas "uma campanha político-partidária dos novos responsáveis pelo Bild". Para tal, a esposa do chanceler federal Gerhard Schröder baseia-se em 16 anos de atividade jornalística, inclusive junto ao jornal Bild. Segundo ela, os editores fazem política, ao "deixar de lado" histórias que possam prejudicar Edmund Stoiber, o candidato da CDU à chefia de governo, assim como através de uma certa "dramaturgia de nomes" no caso das milhagens.

Nos últimos anos, a posição do poderoso órgão da imprensa alemã oscilou entre apoio e ataque ao governo Schröder. Desde o início de 2001, contudo, o Bild adotou o ataque frontal à coalizão social-verde, criticando tanto suas decisões políticas quanto figuras-chaves do porte do ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer.

Doris Schröder-Köpf acredita que os editores do Bild aprenderam a ser mais sutis. Enquanto sua campanha do ano passado foi "grosseira", eles agora procedem "com mais inteligência": "Se o meu marido tivesse problemas, como Stoiber, com a envolvimento do Bayerische Landesbank no caso Kirch, o Bild lhes teria dedicado muitas páginas." Em suma: tudo o que é desfavorável para Stoiber é minimizado, só aparece em notícias curtas ou nem é divulgado, afirmou a esposa do chanceler alemão.