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Erdogan cancela inauguração de controverso palácio presidencial

29 de outubro de 2014

Desastre em mina na Anatólia frustra recepção na suntuosa sede do presidente. Em estilo supostamente otomano e com custo de 275 milhões de euros, "Palácio Branco" é criticado como kitsch, antiecológico e ilícito.

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Foto: picture alliance/AA/M.Ali Ozcan

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, cancelou a recepção estatal para inauguração da controvertida nova sede presidencial, marcada para esta quarta-feira (29/10), feriado nacional.

Oficialmente, Erdogan justificou a decisão com o acidente ocorrido na véspera na mina de carvão perto de Ermenek, no sul da Anatólia. Após o desabamento e inundação, causados por uma infiltração de água, 18 mineiros estão desaparecidos. O presidente anunciou visita ao local.

Entretanto, políticos da oposição já haviam convocado um boicote ao evento de gala para abertura do novo prédio, na periferia da capital Ancara, alegando que, além de ter custado demais, o projeto seria ilegal.

Ilegal e antiecológico

O "Ak Saray" (Palácio Branco), como é conhecido entre a população, ostenta mil dependências, paredes de granito vermelho e verde e ornamentações em "estilo otomano". Sua construção começou três anos atrás, num bosque declarado reserva florestal, no oeste de Ancara.

Segundo a Câmara dos Arquitetos turca, o terreno pertencera ao próprio Mustafá Kemal Atatürk (1881-1937), o fundador da República da Turquia, que em 1937 o doou ao Estado.

Desde 2011, tribunais ordenaram a suspensão das obras. Porém, ignorando todas as sentenças, Erdogan continuou construindo. Sobre a nova sede presidencial ainda pendem 30 queixas.

"O prédio é ilegal", afirmou a diretora da Câmara dos Arquitetos, Tezcan Karakuş Candan à agência DPA. Segundo ela, "um presidente precisa acatar a lei", e ninguém deveria participar de nenhuma recepção no palácio, pois isso legalizaria uma obra ilícita.

Como noticiou a mídia turca, o maior partido oposicionista turco, o CHP, exigiu uma sindicância no Parlamento. Candan acrescenta que uma grande área florestal foi danificada de forma permanente: para o projeto, cerca de 3 mil árvores foram derrubadas e desapareceram 91 mil metros quadrados de mata – mais do que 12 campos de futebol.

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"Palácio Branco": representativo para Ancara, kitsch para oposiçãoFoto: picture alliance/Anadolu Ajansi

Manifestação da "nova Turquia"

Antes de Erdogan, todos os chefes de Estado turcos residiram no bairro de Çankaya, em Ancara. No entanto, o presidente recentemente eleito desejava algo maior, mais imponente, onde "a nova Turquia se manifeste".

Ao se iniciar sua construção, em 2011, quando o político social-conservador ainda era chefe de governo, a obra se chamava "Repartição do Primeiro-Ministro". Desde sua eleição em agosto último, entretanto, foi adotada a designação "Palácio do Presidente".

A imprensa nacional estima que as obras tenham custado o equivalente a 275 milhões de euros. Ele possui salas à prova de escuta, bunkers, túneis e abrigos contra armas químicas, além de um jardim e uma piscina decorativa – tudo no estilo dos otomanos e da dinastia dos seljúcidas.

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Erdogan no foyer de seu novo palácioFoto: Reuters/Umit Bektas

Para o jornalista Cengiz Çandar, colaborador do diário Radikal, contudo, o complexo arquitetônico nada tem a ver com os otomanos, e sim com uma obra kitsch.

No idioma turco, ak significa, além de "branco", também "limpo". A partícula está contida, ainda, no nome da legenda governista de Erdogan: eleito para o governo há mais de dez anos, o Partido Justiça e Desenvolvimento tem "AK" como sigla.

AV/afp/dpa