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Emprego de sazonais na colheita gera polêmica

Ulrike Schuler (rr)7 de abril de 2005

Uma proposta do governo alemão de forçar desempregados de longa data a trabalhar na agricultura foi recebida com polêmica: a maioria dos agricultores prefere continuar empregando trabalhadores sazonais do Leste Europeu.

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Em 2004, foram contratados 300 mil colhedores estrangeirosFoto: AP

"Eles são confiáveis, pontuais e fazem bem seu trabalho", diz o agricultor Heinz-Wilhelm Hecheltjen sobre seus 13 empregados sazonais do Leste Europeu. Segundo ele, eles teriam uma relação diferente com os alimentos e estariam mais acostumados com o trabalho na lavoura, em comparação aos alemães que a Agência Federal de Trabalho envia.

"A maioria deles desiste antes mesmo de começar", conta Hecheltjen. Um rapaz de 23 anos teria comparecido duas vezes ao trabalho e nunca mais voltado, pois o trabalho, disse, não fazia bem à sua coluna.

Por isso, Hecheltjen considerou "ridícula" a proposta feita pelo presidente da Agência Federal de Trabalho, Heinrich Alt, de ocupar desempregados de longo data quase forçadamanente na colheita de aspargos. "O emprego por 40 dias na colheita não pode ser a solução para os problemas do mercado de trabalho", argumenta. Ele prefere continuar trabalhando com os empregados sazonais dos países vizinhos do Leste.

O presidente da Federação Alemã dos Agricultores, Gerd Sonnleitner, acusou os empregados alemães de serem pouco confiáveis, ao passo que a experiência com trabalhadores estrangeiros tenha sido sempre positiva.

Cresce número de sazonais

Cerca de 300 mil colhedores da Europa Oriental – 90% deles são poloneses – foram engajados na Alemanha no ano passado. "O número vem crescendo continuamente", disse o chefe do departamento social da Federação Alemã dos Agricultores, Burkhard Möller. Segundo ele, havia apenas 195 mil trabalhadores sazonais em 1998.

Eles obtêm uma permissão de trabalho temporária, sendo que antes a agência confere se não há alemães disponíveis e dispostos a exercer a mesmo atividade. Mas Hecheltjen critica: "Na maioria dos casos, os alemães nem se candidatam".

O uso de mão-de-obra sazonal proveniente do Leste Europeu remonta a tempos antigos, como evidencia um artigo publicado em um jornal de 1873 sobre o emprego de poloneses em Ludwisghafen: "A gente é forte, despretensiosa e esforçada (...), trabalha com ânimo e dá a nossos trabalhadores locais, que muito exigem e pouco fazem, um exemplo vergonhoso".

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Trabalhador polonês colhe aspargos em Beelitz, ao sul de BerlimFoto: AP

Após a dura crítica dos agricultores, a proposta da Agência Federal de Trabalho vem sendo relativizada. "Se fornecermos trabalhadores desmotivados, podemos causar prejuízos aos agricultores e isso não é o que almejamos", disse a porta-voz da Agência Federal de Trabalho, Ilona Mirtsin. Ou seja: mesmo que, de acordo com as regras, seja possível forçar desempregados de longa data a aceitar a tarefa, o objetivo final deveria ser despertar a motivação dos desempregados pelo trabalho oferecido.

Questão de pagamento

Möller é da mesma opinião. "Já que não importa se eu trabalho bem ou mal, pois não há mesmo oportunidade de emprego duradouro, de onde é que vai surgir motivação?". Além do mais, segundo ele, os alemães não trabalhariam pelos cinco euros a hora oferecidos em média.

"É uma questão de pagamento", diz o agricultor Theo Olligschläger, de Moers, que, em tempos de colheita, emprega quatro trabalhadores do Leste Europeu e 20 alemães por 7,5 euros por hora. Ele está convencido de que, com um salário melhor, é possível encontrar alemães que trabalhem bem.

Matthias Dittmann, presidente da Federação Alemã dos Desempregados, não tem nada contra a contratação de trabalhadores sazonais estrangeiros, "desde que o salário seja justo". Para ele, o pagamento de 7,5 euros por hora é absolutamente justo. "Por esse preço, sou a favor de que até acadêmicos sejam empregados na colheita."