1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Em nova polêmica, grandes jornais ficam fora de julgamento de neonazistas

29 de abril de 2013

Corte de Munique que vai julgar grupo de extrema direita NSU sorteia vagas para jornalistas e deixa de fora os principais diários alemães. Turcos, inicialmente excluídos, garantem assento. Veículos prometem recorrer.

https://p.dw.com/p/18PGv
Foto: picture-alliance/dpa

Mais de 300 jornalistas se credenciaram para tentar uma das 50 cadeiras disponíveis para a imprensa no Tribunal Superior Regional de Munique, onde será julgado o grupo neonazista Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU). E a decisão para a polêmica que forçou o adiamento de um dos julgamentos mais importantes da Alemanha do pós-guerra saiu nesta segunda-feira (29/04) – por sorteio e com uma nova controvérsia.

Se antes as queixas eram dos jornais turcos, desta vez elas são dos alemães. Alguns dos principais diários do país, como Frankfurter Allgemeine, Süddeutsche Zeitung, Die Welt e Tagesspiegel, não poderão noticiar de dentro do tribunal. Grandes agências de notícias, como Reuters e AFP, também ficaram de fora, assim como os periódicos alemães Zeit, Stern eTaz. Alguns já anunciaram que vão recorrer da decisão.

O sorteio foi a segunda tentativa da corte de distribuir as limitadas vagas para a mídia. No primeiro credenciamento, em março, todos os órgãos de imprensa da Turquia e quase todos os de outros países ficaram sem acesso à sala do julgamento. O sistema de credenciamento, baseado na ordem de chegada dos pedidos, foi alvo críticas tanto de políticos quanto da própria imprensa. O julgamento, então, foi adiado para 6 de maio.

O novo credenciamento foi ordenado após uma queixa do jornal turco Sabah apresentada ao Tribunal Federal Constitucional. A distribuição dos lugares, segundo a decisão da máxima corte alemã, deveria ser feita levando em consideração as vítimas da NSU – o grupo é acusado de ter matado dez pessoas entre 2000 e 2007, oito delas de origem turca.

"A distribuição dos lugares para a imprensa está em contraste extremo com a imensa importância nacional e internacional desse julgamento", disse em comunicado a Associação de Jornalistas Alemães. "O tribunal de Munique perdeu a medida na gestão com a imprensa nesse julgamento."

Beate Zschäpe, acusada de cúmplice em dez assassinatos cometidos pela NSU
Beate Zschäpe, acusada de cúmplice em dez assassinatos cometidos pela NSUFoto: Getty Images

Transmissão descartada

Dos 50 lugares, dez foram então destinados à imprensa estrangeira – quatro deles para os turcos. Isso permitiu aos jornais Sabah e Hürriyet estarem presentes durante o julgamento. Enquanto deixou de fora os grandes jornais alemães, o sorteio – realizado por um tabelião de Munique com um político como testemunha – garantiu vaga, por exemplo, à revista voltada para o público feminino Brigitte e ao desconhecido site Hallo München.

Assim, o sorteio não resolveu um dos problemas principais do julgamento. A sala A101 do Tribunal Superior Regional é considerada pela mídia pequena demais para a grandiosidade do julgamento, um dos mais importantes da história alemã desde os processos de Nurembergue.

Além dos 50 assentos para a imprensa, restam apenas outros 50 para o público. Por essa razão, foi cogitada a transmissão em vídeo para uma segunda sala, mas a possibilidade foi descartada por questões de segurança. Na última quinta-feira (25/4), advogados fizeram uma última tentativa junto ao Tribunal Constitucional para garantir a transmissão, mas o pedido foi negado.

O processo vai julgar a única sobrevivente da NSU, Beate Zschäpe, acusada de ser cúmplice dos dez assassinatos ocorridos entre 2000 e 2007. A motivação de extrema direita para a série de crimes ficou por anos longe da lupa das autoridades, o que é considerado um dos maiores fracassos policiais da história recente do país.

A existência da célula da NSU só foi conhecida após a morte de Uwe Böhnhardt e Uwe Mundlos, comparsas de Zschäpe, com a aparição de um vídeo feito por eles. Os dois se mataram em 2011, quando a polícia já estava em seu encalço. O trio é acusado, além das dez mortes, de diversos ataques à bomba e assaltos a bancos. Zschäpe, que se mantém em silêncio, é acusada de formação de organização terrorista. O tribunal vai julgar a participação dela e de outros quatro cúmplices nos crimes atribuídos ao movimento.

RC/ ap/ afp/ rtr