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Em meio à crise na Crimeia, Putin avança com União Eurasiana

Jeanette Seiffert (av) 24 de março de 2014

Presidente lançou em 2011 a ideia de um bloco econômico poderoso, nos modelos da UE, e está se aproximando de concretizá-la. Porém, exemplo da Ucrânia assusta parceiros como Belarus e Cazaquistão.

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Presidentes Putin (c), Nursultan Nazarbayev (d), Cazaquistão, e Alexander Lukashenko (e), BelarusFoto: picture-alliance/dpa

Certa vez, o presidente russo, Vladimir Putin, classificou o colapso da União Soviética como "a maior catástrofe geopolítica do século 20". Nos últimos dias, a frase vem sendo citada com frequência. A União Eurasiana é a mais recente, entre várias tentativas recentes, de aproximar mais as antigas repúblicas da URSS – pelo menos do ponto de vista econômico.

Em 2011, Putin, então primeiro-ministro, desenvolveu a concepção de uma junção dos antigos Estados soviéticos, segundo o modelo da União Europeia. A União Econômica Eurasiana, segundo ele, seria "uma poderosa federação supranacional", funcionando como "a ligação eficiente entre a Europa e a região da Ásia-Pacífico".

Um primeiro passo nessa direção foi a União Aduaneira entre Rússia, Belarus e Cazaquistão, instituída em 2009 e que, a partir de 2013, passou a incluir também a Armênia. Em 2012, foi criado um Espaço Econômico Comum, para livre intercâmbio de bens, serviços, capital e mão de obra.

A fundação da União Eurasiana em sua dimensão integral, com vista a uma moeda comum, deverá ser em janeiro de 2015. O desejo da Rússia é que Quirguistão, República da Moldávia e Tajiquistão também a integrem. A inclusão da Ucrânia estava igualmente prevista, até a deposição do governo pró-russo de Viktor Yanukovitch.

Ampliando esfera de influência

A diferença fundamental em relação à União Europeia é que a União Eurasiana não se baseia em valores comuns, explica DW Alexander Brakel, diretor da sucursal da Fundação Konrad Adenauer em Belarus. "Trata-se de uma comunidade puramente econômica."

Entretanto, o procedimento agressivo de Putin na crise da Ucrânia leva muitos a questionarem se ele deseja realmente um mero espaço econômico comum ou redividir o mundo, assegurando para si uma grande esfera de influência.

Wladimir Putin / Angeln / Angel / Russland
Putin: pesca em águas alheias?Foto: picture-alliance/dpa

Já durante um encontro da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em 2012, a então secretária de Estado americana, Hillary Clinton, definira a União Econômica Eurasiana como a "nova criação" da União Soviética.

Brakel considera a tese exagerada. Segundo o especialista em assuntos bielorrussos, para os antigos Estados soviéticos a independência é mais importante do que nunca. No entanto, afirma, é óbvia a dominância russa dentro da aliança.

"A intenção de Putin claramente não é que os potenciais membros se decidam livremente, de fato, pela União Econômica Eurasiana. Na verdade, ele faz considerável pressão para evitar que, em vez disso, esses Estados se decidam pela União Europeia", opina.

Por isso, a Rússia tentou impedir por todos os meios a assinatura do acordo de associação entre a Ucrânia e a UE, cuja primeira parte foi selada na cúpula europeia da última sexta-feira.

Iguais só no papel

Do ponto de vista formal, todos os integrantes da União Eurasiana seriam parceiros igualitários. Na realidade, porém, os demais Estados se sentem muitas vezes comandados pela Rússia. "Existem, naturalmente, duros conflitos e interesses contrários", afirma Ewald Böhlke, da Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP).

Ele considera a união uma instituição útil, já que oferece aos países em questão uma boa plataforma para se confrontar com esses interesses. "Sem essas formalidades, a arbitrariedade seria ainda maior", comenta.

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Tubulações da Gazprom: símbolo do poder russoFoto: picture-alliance/dpa

Ao mesmo tempo, a Rússia atrai seus vizinhos menores com ofertas de gás natural e petróleo a preços reduzidos. "Sobretudo Belarus lucra enormemente com isso, do ponto de vista econômico – o que não tem nada a ver com a União Eurasiana ou com os acordos a ela relacionados", aponta Brakel.

Morde e assopra

Certo é que a União Econômica Eurasiana tem potencial para ser um bloco forte entre os Estados ocidentais e a China. E poderia rapidamente tornar-se mais potente do que a UE, já que, ao que consta, Moscou também persegue a meta de uma política de segurança comum, sob liderança russa.

No entanto permanece questionável até que ponto os planejados integrantes da União Eurasiana estariam mesmo dispostos a sustentar os planos de Putin. Justo sob o impacto da anexação da Crimeia, o sonho eurasiano poderia logo se tornar pesadelo para muitos dos vizinhos da Rússia, em especial para Belarus e Cazaquistão.

"Desde o início, ambos se esforçaram muito para sustar a influência russa e assumir o mínimo possível de compromissos políticos", lembra Brakel. "O modo de proceder brutal dos russos em relação à Ucrânia prova mais uma vez a [Belarus e Cazaquistão] quão agressiva a política russa pode ser."

Nos últimos dias, os dois cofundadores da União Econômica Eurasiana distanciaram-se significativamente de Moscou. "Ambos remam com força na direção contrária, a fim de impor seus interesses como Estados nacionais", observa Ewald Böhlke.

Apesar de tudo, a médio prazo, o princípio russo de "morder e assoprar" seus vizinhos poderá continuar sendo bem sucedido, pois, como Belarus, a maioria das ex-repúblicas soviéticas é inteiramente dependente das matérias-primas russas.