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Em meio a combates, hospitais da Ucrânia recorrem a porões

Markian Ostaptschuk / Inna Kuprianowa (pv)12 de agosto de 2014

Enquanto rebeldes separatistas e tropas do governo se enfrentam, situação fica cada vez mais difícil para a população do leste da Ucrânia. Hospitais realizam partos e operações no subsolo.

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Foto: picture-alliance/dpa

"Primeiro, ouvimos uma explosão, depois outra. Alguém gritou: 'Deitem no chão'. Pouco depois, veio a ordem: 'Todos para o porão'. E seguimos os médicos", conta Julia. Ela está grávida e havia acabado de ser examinada no hospital da cidade de Gorlovka quando o bombardeio começou. "Ficamos dois dias neste porão. Ao todo, éramos 16 mães com seus bebês e mais 11 mulheres grávidas."

Os porões do hospital já estavam com leitos armados. Mas o parto era realizado em uma sala separada. As pausas entre os bombardeios eram aproveitadas por médicos e parteiras para levar mais colchões e cobertores para o porão. Eles também pernoitaram por lá. "Durante o período em que ficamos juntos no porão, cinco crianças nasceram", diz Julia.

Uma dessas crianças é Ilyusha. O menino nasceu enquanto granadas eram detonadas a poucos metros do hospital, e a cidade era tomada por explosões. "Depois dos exames, tive medo de deixar o hospital, porque as contrações podiam começar a qualquer momento. Por isso, fiquei lá. Nunca tive tanto medo", conta Svetlana, mãe de Ilyusha.

Agora que Svetlana deixou o hospital com seu bebê, ela agradece aos médicos. "Enquanto eles salvavam a nossa vida, pode ser que seus parentes estivessem sofrendo nos bombardeios", diz.

Apesar dos bombardeios, o trabalho no hospital em Gorlovka continua. "Nós discutimos como iríamos agir em caso de um combate", conta a médica Elena. Ela "Decidimos não entrar em pânico no trabalho. Isso é importante."

Ukraine Krise
Para fugir dos bombardeios, dezenas de leitos do hospital de Gorlovka foram levados para os porõesFoto: picture-alliance/dpa

Normalmente, não há avisos sobre bombardeios iminentes. A todo momento, moradores de cidades do leste ucraniano estão sob a ameaça de bombas vindas de todos os lados do conflito. "Por isso, trabalhamos o mais perto possível dos porões, porque os pisos superiores do hospital são frequentemente atingidos", explica a médica.

Na maioria dos hospitais do leste da Ucrânia, trabalha-se atualmente sob tais condições. "Uma guerra está acontecendo aqui, estamos lidando com uma catástrofe", afirma Tamara Zyhanok, da secretaria regional de saúde.

Um grande problema é que muitos médicos deixaram a região por causa dos combates. O fornecimento de medicamentos às farmácias também já não é suficiente, e isso afeta o abastecimento das instalações médicas. Além disso, nem todas as ambulâncias podem ser usadas devido à escassez de combustível, segundo Zyhanok.

Risco e esperança

Michail Andriyanov é médico na cidade Slaviansk, que foi retomada pelo Exército ucraniano há poucas semanas. Ele sabe o que significa salvar vidas de pessoas correndo o risco de ser acertado por estilhaços de granadas a qualquer momento. "Durante uma operação, uma enfermeira foi atingida e não resistiu", conta.

Depois disso, eles formaram barricadas com sacos de areia nas janelas da sala de operações. Assim, o trabalho no hospital pôde ser mantido. "Se chegam 20 feridos, continuamos o trabalho mesmo sob bombardeio. O medo desaparece", diz Andriyanov. "Os bombardeios de ambos os lados já mataram civis e crianças", lamenta.

Ostukraine/ Slowjansk/ zerstörte Häuser
Casas destruídas perto de Slaviansk, no leste ucranianoFoto: Reuters

Agora, o pequeno Ilyusha de Gorlovka está em segurança, segundo seus pais. "Ele tem apenas uma semana de vida, mas já passou por guerra e fuga", conta a mãe Svetlana.

Julia também está em outra cidade, livre dos bombardeios. Ela conseguiu sair da zona de conflito e está num hospital, aguardando o nascimento de seu bebê.

Exatamente ao lado da estação onde está Julia, fica a ala de cirurgia do hospital. Soldados feridos do Exército ucraniano chegam a todo instante. "Numa noite, ouvi uma mulher chorando ao lado de seu filho morto. Não consigo acreditar que este horror seja real. Esperei muitos anos por um filho. Agora só quero que ele nasça num mundo em paz", diz.