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"Em Berlim, samba sobrevive mesmo sem os brasileiros"

1 de dezembro de 2016

Regente carioca radicada na Alemanha, Andréa Botelho fomenta música de seu país na capital alemã. Em entrevista à DW, ela fala da força do samba na cidade: "Existem muitos grupos aqui que nem têm brasileiros."

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A pianista, regente e organizadora de projetos culturais Andréa Huguenin Botelho
A pianista, regente e organizadora de projetos culturais Andréa Huguenin Botelho Foto: Fernando Miceli

A pianista e regente brasileira Andréa Huguenin Botelho, de 43 anos, desenvolve projetos de integração cultural através da música na capital alemã. Nascida no Rio de Janeiro e radicada em Berlim há oito anos, ela também é idealizadora do "Música Brasileira na City West", programa financiado pelo governo alemão e que busca fomentar o ensino da música brasileira. Em entrevista à DW, ela fala sobre a presença do samba em Berlim.

DW: Quando começa a história do samba em Berlim? 

Andréa Huguenin Botelho: A história do samba em Berlim tem muitas origens e diversas conotações históricas, que nos impedem de dizer com precisão quando foi o primeiro contato com esse tipo de música na Alemanha. Vemos o termo "Samba em Berlim", por exemplo, dado a um drink que surgiu na Segunda Guerra Mundial, batizado por soldados brasileiros que misturavam cachaça à Coca-Cola.

Andréa Huguenin Botelho - brasilianische Pianistin, Dirigentin und Kulturmanagerin
Andréa Botelho: "O berlinense não só gosta de ouvir e dançar, mas também de aprender a música brasileira"Foto: Fernando Miceli

Mas foi com muita força que o samba chegou a Berlim entre as décadas de 1980 e 1990 e se estabeleceu definitivamente na cidade. Um dos principais nomes do cenário berlinense, como precursor do samba como estilo musical, é Dudu Tucci. Radicado na Alemanha desde 1982, ele formou uma geração de músicos percussionistas na capital. Além disso, criou grupos como Terra Brasilis, fundado há quase 30 anos junto ao percussionista alemão Manni Spaniol. Hoje, Terra Brasilis –  ainda sob a direção de Manni – é um grande exemplo de como o samba conquistou espaço definitivo entre os berlinenses.

Onde o samba é mais forte na capital alemã?

Em vários bairros existem grupos. O Terra Brasilis, por exemplo, fica no Ufa Fabrik, em Tempelhof. Mas o maior número está situado na região de Kreuzberg, que é onde o samba pega, mesmo.

Como o samba é recebido pelo berlinense? 

Com muita aceitação! O berlinense não só gosta de ouvir e dançar, assim como de aprender a música brasileira de uma forma geral. Existe um grande número de eventos e festivais importantes que acontecem anualmente em Berlim onde o samba é o destaque, como Samba Syndrom, Karneval der Kultur, Made in Berlin.

Qual é o principal público que o samba atrai em Berlim?

O público é de todas as faixas etárias e nacionalidades: criança, velho, adulto. As pessoas se soltam muito, é divertido de se ver. Quando começa a batucada, todos saem da cadeira. Já vi isso em todas as idades. O samba é uma coisa que fascina, tem essa mágica.

O samba de Berlim é o mesmo samba do Brasil?

O samba é um estilo extremamente rico e com muitas modalidades. Reconhecido em 2005 pela Unesco como Patrimônio Cutural Imaterial da Humanidade, o samba manterá, em qualquer lugar do planeta, suas raízes brasileiras, e terá a liberdade estilística de construir novas modalidades de acordo com as relações interculturais na qual ele estiver em contato.

Aqui, eu diria que as pessoas tendem a se reunir em grupos e a se envolver muito com a dança, com a parte coreográfica. Além disso, o samba de Berlim já criou uma identidade tão forte que vive mesmo sem os brasileiros. Existem muitos grupos aqui que nem têm integrantes do Brasil. Se um dia acontecer de não ter mais brasileiros em Berlim, o samba continua.

Como você explicaria a sua trajetória de pianista e regente até fomentadora da música brasileira na capital da Alemanha?

Tive a grande sorte de poder ter sido aluna de grandes professores em ambas as áreas. Especialmente quando ainda estudava no Rio de Janeiro, pude ter as minhas bases musicais na formação erudita tocando, por exemplo, Beethoven na escola de música e paralelamente tendo acesso constante a rodas de choro, galpões de samba e até terreiros de umbanda. Sou muito grata a toda essa experiência, pois ela contribuiu para a minha formação eclética como musicista.

Transito com muita naturalidade entre óperas wagnerianas e a música brasileira. Toda música que interpreto recebe de mim o mesmo tratamento, com muito respeito e dedicação.  A música brasileira é um fenômeno único – traz elementos da cultura europeia enriquecidos com as raízes africanas e indígenas. Sua complexidade na performance é enorme. Exige muita dedicação e estudos diários. Eu me orgulho muito de poder estar aqui, na Alemanha, junto a muitos colegas representando a nossa música com a qualidade e o respeito que ela merece.