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Economia pode se impor sobre Erdogan

Rolf Wenkel ca
18 de abril de 2017

"Milagre econômico" ajudou presidente a consolidar seus poderes. Mas, com turbulência política, país deixou de ser atraente para turistas e investidores. E vive agora uma insegurança econômica que deve assombrar governo.

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Türkei Großer Basar in Istanbul
Vista do Grande Bazar em IstambulFoto: picture-alliance/AA/I. Terli

No debate sobre a controversa reforma constitucional para a introdução do sistema presidencialista, aprovada em referendo no domingo (16/04), o desenvolvimento econômico da Turquia desempenhou um papel importante. O sucesso do presidente Recep Tayyip Erdogan se deveu, em grande parte, ao forte crescimento da Turquia nos últimos anos - chamado de milagre econômico pelo governo. Mas as notícias negativas aumentaram recentemente.

No ano passado, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 2,9% em relação ao ano anterior, ficando assim bem abaixo da cifra de 2015, quando ultrapassou a casa dos 6%. Um dos motivos para essa queda foi a indústria do turismo, abalada pela tentativa de golpe em meados do ano passado e pelos muitos atentados por parte de combatentes curdos e radicais muçulmanos. Para a Turquia, o turismo é uma importante fonte de divisas e representa cerca de 5% do PIB. No ano passado, a receita caiu quase 30% no setor.

Diante das turbulências políticas e dos problemas econômicos, analistas esperavam um crescimento ainda menor. No entanto, o consumo privado – algo que o governo vem promovendo maciçamente desde a tentativa fracassada de golpe – provou fortalecer a economia. Além disso, o Departamento de Estatísticas da Turquia revisou os seus cálculos de forma tal que os dados de crescimento mais recentes se mostraram mais favoráveis. Por outro lado, os investimentos continuaram fracos, e as exportações diminuíram.

No último trimestre do ano passado, o consumo subiu 5,7%. No entanto, esse crescimento se deve às correções posteriores do Departamento de Estatísticas: o aumento do PIB no segundo trimestre de 2016 foi elevado de 4,5% para 5,3%; enquanto o declínio no terceiro trimestre foi revisto de 1,8% para 1,3%.

Em 2017, o crescimento econômico turco deverá ser semelhante ao do ano passado. Mas os prognósticos governamentais diferem daqueles de organizações internacionais. Enquanto a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial esperam um aumento do PIB entre 2,5% e 3%, representantes do governo em Ancara anunciaram um crescimento de 4% a 4,5%.

Recorde inflacionário

A inflação alcançou o nível mais alto dos últimos oito anos. Em março, os preços ao consumidor subiram 11,29% em relação ao mesmo período do ano passado. Desde outubro de 2008 não se registrava uma inflação tão alta.

Desde a tentativa de golpe, em meados do ano passado, o governo turco tem se esforçado em apoiar a economia cada vez mais fraca com diversas novas leis.

"O apoio ao investimento em projetos estrategicamente importantes foi ampliado consideravelmente", diz Necip C. Bagoglu, correspondente da agência de comércio Exterior Germany Trade & Invest, em Istambul. "Um recém-criado fundo soberano deve ajudar no financiamento de grandes projetos de infraestrutura. Uma nova lei deverá aliviar empresas de dívidas junto a instituições estatais."

O governo incentiva o consumo através de juros bonificados e melhores condições de pagamento. Principalmente a compra de imóveis é incentivada pelo Estado, o que se reflete também no desenvolvimento da indústria da construção. Em 2016, esse setor apresentou um crescimento – acima da média – de mais de 7%.

Desemprego crescente

Um crescimento econômico de 3% não é suficiente, no entanto, para reduzir a taxa de desemprego de 11% e alcançar as ambiciosas metas de desenvolvimento até 2023: para essa data, o governo em Ancara ainda continua apostando num PIB de 2 trilhões de dólares e num volume de exportações de 500 bilhões de dólares.

Para tal, no entanto, a economia turca deveria registrar um crescimento anual entre 7% e 8% – um cenário irreal tendo em vista a contínua fraqueza estrutural no setor manufatureiro e a elevada dependência de importações da indústria e do setor energético.

No ano passado, os investimentos diretos estrangeiros despencaram 31%, para cerca de 12 bilhões de dólares. Para financiar o crescimento econômico, a Turquia é altamente dependente de importações de capital. Um aumento dos investimentos diretos pressupõe estabilidade econômica e condições confiáveis.

Na Turquia, porém, há uma imensa necessidade de reformas na administração pública e no sistema jurídico. O Estado de Direito sofre devido a decisões erráticas e incompreensíveis por parte de órgãos governamentais. A confiança na Justiça está abalada.

Moeda desvalorizada

A relação com a União Europeia (UE) está extremamente tensa, enquanto é desolador o clima nos territórios vizinhos ao sul da Turquia. Com as forças de segurança agindo de forma brutal contra separatistas curdos, a situação no sudeste do país não está melhor. Além disso, os atentados terroristas dos últimos meses elevaram o risco à segurança em toda a Turquia, e o referendo constitucional inquietou consumidores e investidores internacionais.

Principalmente a forte desvalorização da moeda turca, a lira, deverá ter um impacto negativo sobre a economia, refletindo-se no encarecimento das importações e em perdas do poder de compra de consumidores domésticos. Ao mesmo tempo, isso aumenta as responsabilidades de empresas locais que fizeram empréstimos em moeda estrangeira.

Em novembro de 2016, o Banco Central da Turquia elevou consideravelmente a taxa básica de juros pela primeira vez desde 2014. Mas isso não foi suficiente: em janeiro deste ano, o Banco Central aumentou novamente os juros básicos em 0,75 ponto percentual para 9,25%. Essa medida de política monetária também deverá ter um impacto negativo sobre a economia.