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DW e BBC cooperam contra a censura em regimes autoritários

Helena Kaschel av
26 de junho de 2017

Empresas lançam site Bypass Censorship, que ajuda cidadãos de países onde a internet é censurada a acessar conteúdos bloqueados. Em entrevista, diretor de distribuição da DW explica projeto.

https://p.dw.com/p/2fIQ0
Governo da Turquia, do presidente Recep Tayyip Erdogan, é um dos que censuraram redes sociaisFoto: Getty Images/AFP/O. Kose

A DW oferece informações online em 30 idiomas. No entanto, assim como ocorre com outras empresas internacionais de comunicação, seu jornalismo independente nem sempre é bem-visto por certos regimes.

Segundo o relatório Freedom on the Net (liberdade na rede) de 2016, os atuais campeões da censura online são China, Síria e Irã. Recentemente noticiou-se que o governo da Turquia teria bloqueado a Wikipédia e as redes sociais Twitter e Facebook, entre outras. O relatório mostra que também avançam as restrições aos serviços de mensagens, como WhatsApp e Telegram.

Para ampliar o livre acesso a seus conteúdos, um grupo de emissoras colocou em rede o projeto Bypass Censorship, que proporciona, sobretudo para os internautas menos experientes, diversas ferramentas para contornar o bloqueio estatal.

Além da DW, o serviço é patrocinado pela BBC, o Broadcasting Board of Governors (BBG), France Médias Monde e Open Technology Fund. O diretor de Distribuição da DW, Guido Baumhauer, explica em entrevista as motivações e aspectos técnicos do projeto.

Diretor de distruibuição da DW, Guido Baumhauer
Guido Baumhauer: "Vamos fazer de tudo para que os cidadãos recebam as nossas matérias, não importa por qual meio."Foto: DW

DW: Há anos o livre acesso à internet vem sendo restringido em todo o mundo, um problema que também a DW conhece. Os serviços de mensagens também são visados. Qual é a consequência disso para a luta contra a censura?

Guido Baumhauer: Primeiro: o princípio básico não muda. Precisamos sempre encontrar maneiras de fazer nossas matérias chegarem às pessoas e de fazer as pessoas se comunicarem entre si. Nesse ponto existe uma espécie de corrida armamentista: dependendo das condições técnicas da internet num país, é relativamente fácil bloquear conteúdos. Porém, ao mesmo tempo, vê-se que, em diversas sociedades, por exemplo no Irã, a geração jovem está bem esperta para contornar a censura. Isso se aplica também aos novos bloqueios para os serviços de mensagens. Para nós, da DW, está claro: não aceitamos isso e vamos fazer de tudo para que os cidadãos recebam as nossas matérias – não importa por qual meio.

No site Bypass Censorship podem-se baixar ferramentas para contornar a censura de diferentes maneiras. Algumas anonimizam o usuário na rede, outras permitem acesso às páginas bloqueadas. Como isso funciona, exatamente?

Em princípio, há muitas ferramentas na rede com as quais o usuário tem a possibilidade de navegar sob uma identidade diferente da real e assim ter acesso a determinados conteúdos. Isso é bem conhecido por quem, vez por outra, gosta de assistir a um filme que foi lançado nos Estados Unidos, mas ainda não chegou ao seu país. Para isso, ele baixa um software que lhe permite se passar por um usuário americano, dando acesso a conteúdos bloqueados no seu país. Com grande parte dessas ferramentas, no entanto, muitas vezes não se sabe o que acontece com os dados que elas compilam.

Nós pesquisamos quais ferramentas possibilitam contornar a censura sem vasculhar metade da vida digital dos usuários e encontramos três: TOR, um software clássico para acessar e navegar em sites bloqueados; Psiphon, que utilizamos para nossa oferta em persa [Irã] e amárico [Etiópia], ambos mercados em que a cibercensura é quotidiana; e Orbot, que libera o acesso para outros apps.

Karte Infografik Internetzensur portugiesisch

Ferramentas como a rede TOR já são conhecidas há muito tempo. Quer dizer que o site é mais dirigido a internautas que ainda não têm experiência com criptografia?

Esse é um aspecto bem importante. Muitos usuários já são bem experientes e não dependem de nós disponibilizarmos as informações. Mas também há muita gente que gostaria de acessar as páginas bloqueadas e que, no início, se sente perdida. Nós tentamos mostrar a elas um caminho. Além disso, o site sempre oferece para download a versão mais atual das ferramentas. Isso é importante, justamente neste mundo veloz, em que hoje se levanta um novo bloqueio, amanhã existe uma ferramenta para contorná-lo, e depois de amanhã essa ferramenta também está bloqueada.

E não há o perigo de que todo o site Bypass Censorship seja bloqueado?

Sim, claro. Isso é uma corrida sem fim. Também esse site vai ser trancado e terá de encontrar novos meios de chegar até os usuários. Caso esteja bloqueado para determinados usuários, oferecemos a eles a alternativa de enviar as ferramentas por e-mail. A questão é simplesmente explorar todas as possibilidades, e o Bypass Censorship é só uma entre muitas. Mas, mesmo que através dele só alcancemos um punhado de pessoas, já valeu a pena. Para se ter livre expressão de opinião, deve-se tentar todos os caminhos.

O Bypass Censorship parece um projeto que poderia ter sido iniciado por ativistas ou hackers. Por que foram justo emissoras de rádio a tomar a iniciativa?

Acho que não é preciso separar tanto assim uma coisa da outra. Temos um grande interesse em nos engajar com tudo o que pudermos pelo acesso à livre informação. Nisso, não faz a menor diferença se se é um ativista ou uma empresa internacional de comunicação. Temos gente excelente que diariamente encontra um novo nicho, uma nova lacuna que nos permite chegar a mercados onde não querem que entremos. E todo o know-how de que dispomos, nós temos grande prazer em repassar aos nossos usuários – e àqueles que talvez amanhã passem a sê-lo.