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Duelo na TV: monótono porém útil

av26 de agosto de 2002

Na opinião de políticos, imprensa e da população alemã o primeiro debate televisivo entre os candidatos à chefia do governo alemão não foi uma grande sensação. Mas os dois lucraram.

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Schröder (dir.) x Stoiber na TVFoto: AP

Segundo pesquisa-relâmpago do instituto Infratest/Dimap, o atual chanceler federal, Gerhard Schröder, continua sendo o favorito, com 42% das preferências, 2% a mais do que antes do debate. O candidato dos partidos conservadores União Democrata-Cristã e União Social-Cristã (CDU/CSU), Edmund Stoiber, conseguiu até um acréscimo de 7%, mas se mantém muito atrás do concorrente com uma quota de 36%.

Na pesquisa comparativa, 750 pessoas foram consultadas antes e depois do duelo na TV. Segundo este grupo representativo, Schröder foi mais convincente nos campos da política externa e de segurança, com 50%, contra 30% de seu adversário, financiamento dos danos da enchente (49% contra 25%) e meio ambiente (55%, Stoiber 19%).

Por sua vez, o candidato da direita moderada convenceu mais os espectadores no tocante à política para o mercado de trabalho (49%, Schröder 27%), política econômica (47%, Schröder 31%) e tributária (48% contra 32%). Contudo, na comparação direta, o chanceler federal alemão foi considerado mais "simpático" (53% contra 27%) e "digno de crédito" (39% contra 36%), assim como mais autoconfiante, ter mais presença e de ser o adversário mais justo.

Agressividade e postura de estadista

Uma estatística expôs um outro aspecto do duelo: o candidato da CDU/CSU partiu mais para a ofensiva, atacando seu interlocutor com freqüência quase quatro vezes maior. Segundo o Instituto Medien Tenor, para 75 declarações negativas de Stoiber houve apenas 20 do premiê. O fato de Schröder não pagar na mesma moeda em termos de agressividade foi interpretado pelo instituto como "estratégia de estadista". O social-democrata também dirigiu-se com menor freqüência diretamente a seu interlocutor.

Uma análise dos temas colocou a política tributária em primeiro lugar em termos de freqüência, com 12,9%, seguida pelo mercado de trabalho (12,2%). Depois vieram os temas pessoais e a política para estrangeiros (ambos 7%), política internacional e econômica em geral (ambos 6%) e política externa alemã. Ainda segundo Medien Tenor, os apresentadores tiveram que insistir oito vezes, após respostas evasivas de Stoiber, fato que ocorreu apenas três vezes com Schröder. Por outro lado, o candidato da oposição foi enfocado 60 vezes pelas câmaras, enquanto o chefe de governo apenas 48 vezes.

Força das pesquisas

Numa enquete encomendada pela emissora de TV RTL, o Instituto Forsa constatou que apenas dos 2237 dos entrevistados admite que o debate venha a influenciar seu voto, dentro de quatro semanas. A mesma instituição revelou uma cotação de 57% para Schröder na categoria "simpatia" (35% para Stoiber), 48% em "competência" (Stoiber 41%), e "credibilidade" (51% contra 39%)

A significação desses porcentuais é apenas limitada, já que os alemães não escolhem por voto direto o seu primeiro-ministro. Eles votam nos partidos. Entretanto, o potencial de tais números é revelado pela reação de Laurenz Meyer, secretário-geral da CDU, acusando o Forsa de fazer "uma política insuportável". Na sua opinião, "não é um instituto de pesquisa, mas sim um instrumento de campanha eleitoral da coalizão social-democrata e verde". Numa ameaça velada, Meyer declarou: "Eles sabem que conseguem muitas encomendas do governo, e se houver uma mudança, acabou-se. Por mim, já podem ir mesmo contando com isso!"

Tédio x entusiasmo

O jornal Hamburger Morgenpost declarou-se entediado com o debate, que não trouxe nada de novo. Com nostalgia, comparou-o com o duelo entre John Kennedy e Richard Nixon, em que este último foi "estraçalhado" pelo "jovem terrier". O periódico hamburguês também satirizou a atitude pomposa e prolixa do candidato social-cristão: "Ah, meu Deus, todos acreditamos que Stoiber quer ser um chanceler legal para a 'grandiosa população alemã'".

Já o londrino The Guardian computou o empate no duelo verbal como um resultado acima das expectativas para Stoiber: "Enfrentando Schröder, conhecido como profissional da mídia, o oponente bávaro evitou erros crassos no debate vivo e acalorado. Com energia e paixão, ele apresentou seus argumentos".

Para o jornal Bild, a vitória é do eleitor alemão: "Esta campanha tem sido considerada a mais monótona de todas, falou-se em jogo desanimado. Que nada: o interesse é gigantesco. (...) Se Schröder e Stoiber fizerem seu trabalho, cada um segundo seus argumentos e temperamento, não há porque temer pela presença às urnas em 22 de setembro. O cidadão compreendeu que se trata de uma decisão nacional."

O segundo "round"

Cerca de 15 milhões de pessoas assistiram ao duelo político transmitido pelas emissoras comerciais RTL e Sat.1. O esquema rígido imposto pelos organizadores – quase uma dupla entrevista – foi muito criticado. O próprio Schröder admitiu que preferia ter tido mais campo para intervir durante o debate, ressalvando que o clima foi frio, mas não estéril. Ainda assim, se declarou contra mudanças nas regras.

O premiê não quer influenciar as opiniões sobre seu desempenho no debate na TV: "Confio na capacidade de julgamento das pessoas deste país", afirmou. Um segundo encontro entre o social-democrata e Stoiber está programado para 8 de setembro, dessa vez nas emissoras de direito público ARD e ZDF. Schröder não vê necessidade de um treinamento intensivo: "A pessoa deve ser como ela é". E para o próximo duelo anunciou: "Vou ser novamente como sou. Não leva a nada fingir para os telespectadores."