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Drogas e arte pop em instalações de artista brasileiro

Rodrigo Abdelmalack12 de março de 2002

A Associação de Arte de Colônia apresenta até 7 de abril a exposição "Quasi-Cinemas", de Hélio Oiticica, uma experiência sensorial que pouco tem a ver com a velha arte de parede. Por favor, toque nas obras!

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Homoerotismo na instalação "Neyrótica", de Hélio OiticicaFoto: Kölnischer Kunstverein

Entre. Fique à vontade. Não hesite em tirar os sapatos ou deitar-se quando for preciso. A exposição é sua. E de Hélio Oiticica, um brasileiro que só depois de morto ganhou o reconhecimento internacional e hoje é tido como um dos artistas que precocemente ajudaram a romper as fronteiras entre arte, mídia e público.

Em conjunto com o Wexner Center for the Arts de Ohio e o Museu de Arte Contemporânea de Nova York, a Associação de Arte de Colônia, apresenta até 7 de abril a exposição Quasi-Cinemas de Hélio Oiticica. A mostra traz instalações que o artista carioca criou durante seu exílio em Nova York junto com seu parceiro Neville D'Almeida durante os anos 70.

Salada multimídia -

Na primeira sala, o visitante é convidado a assistir a um vídeo filmado em Super 8 por Oiticica em 1972, um de seus primeiros trabalhos no exílio. Agripina é Roma Manhattan serve ao mesmo tempo de apresentação do visitante ao artista e do artista à sua nova cidade.

Na sequência começa o ciclo de videoinstalações Cosmococa, uma clara referência às drogas. A atual exposição traz três das oito instalações de Oiticica. Na primeira delas, Trashiscapes (1973), colchões e almofadas azuis convidam a deitar e observar slides ao som de baião, forró, rock e blues - trilha sonora de um artista entre duas culturas. Detalhe: cada colchão tem uma lixa de unha para distrair o ócio.

Neyrótica

(1973), uma homenagem ao homem brasileiro, interrompe a série Cosmococa. Carregado de elementos de moda e homoerotismo, Oiticica retrata jovens seminus, de cueca, com correntes penduradas nos peitos peludos, sugerindo um estado de torpor pós-consumo de drogas, talvez uma maneira de posicionar-se na contracultura da época.

De volta a Cosmococa. Para ver Maileryn (1973), é preciso descalçar os sapatos. Uma tela de vinil transparente separa o chão de areia do mar de bexigas amarelas e laranjas, enquanto fotos de Marilyn Monroe são projetadas na parede junto com giletes e canivetes.

Para quem não estava entendendo nada, a próxima sala é bem-vinda. Lá está um pouco do universo do artista. Dá para escutar música brasileira dos anos 60/70 em fones de ouvido – Gal Costa, Tropicália, Caetano Veloso e Mutantes –, além de textos gravados por Oiticica para publicações alternativas. Um CD-ROM mostra outras obras do artista e dois vídeos abordam o movimento tropicalista e a cultura brasileira em geral.

Em Hendrix-War (1973), terceira e última Cosmococa, redes coloridas (quantos alemães já viram uma dessas?) penduradas nas paredes convidam a deitar, enquanto cinco projetores enchem a sala de imagens e capas de álbuns de Jimi Hendrix. "Deite-se nas redes sob risco próprio", diz um zeloso aviso em alemão.

Pouca atenção

- À exceção de Neyróticas, nenhuma das outras instalações foi exibida ao grande público enquanto Oiticica era vivo. Quando morreu, em 1980, suas obras haviam sido expostas apenas uma vez no exterior, na galeria londrina Whitechapel, em 1969. Embora tenha morado oito anos nos EUA, Oiticica fugiu da ditadura militar brasileira para encontrar a dura moral norte-americana.

O reconhecimento internacional veio somente em 1992, quando o Centro de Arte Contemporânea Witte de With, de Rotterdam, dedicou-lhe uma exposição pessoal. Em 1997, o artista foi lembrado pela Documenta X junto a Lygia Clark.

A exposição, que veio de Ohio, segue de Colônia para a Whitechapel Art Gallery em Londres, depois para o Novo Museu de Arte Contemporânea em Nova York e ainda para o Museu de Arte de Miami.

Um catálogo de 176 páginas está à venda, com fotos das instalações, textos do curador Carlos Basualdo, da crítica brasileira Ivana Bentes e do diretor do Novo Museu de Arte Contemporânea de Nova York.