1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Dresden lembra 70 anos da destruição

13 de fevereiro de 2015

Em evento na igreja Frauenkirche, presidente Joachim Gauck alerta contra relativização da culpa alemã pela Segunda Guerra e instrumentalização das vítimas do bombardeio: "Nós sabemos quem começou essa guerra assassina".

https://p.dw.com/p/1Ebb8
Foto: Getty Images/C. Koall

A cerimônia em recordação do bombardeio que destruiu Dresden há 70 anos transcorreu sob o signo da paz e da reconciliação nesta sexta-feira (13/02). Ela reuniu na igreja Frauenkirche cerca de 1.400 convidados, entre os quais tanto políticos e personalidades estrangeiras, quanto contemporâneos e sobreviventes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Manifestações populares, como uma corrente humana, também marcaram a data.

Em discurso, o presidente da Alemanha, Joachim Gauck lembrou que o ataque aéreo dos Aliados representa não só uma cesura profunda para a cidade no Leste Alemão, como também um ponto de referência para uma discussão sobre autoimagem e identidade alemãs.

O número de mortos nos bombardeios é estimado em 25 mil. Gauck sublinhou a necessidade de que, ao se homenagear as vítimas alemãs, tampouco se esqueçam as vítimas do conflito provocado pela Alemanha.

"Nós sabemos quem começou essa guerra assassina", observou, portanto é necessário evitar tanto a relativização da culpa alemã, quanto a instrumentalização das vítimas. Afinal, a memória pode ser uma força produtiva para uma sociedade, e é importante procurar "no passado a orientação para o futuro", conclamou o chefe de Estado.

Gedenken an die Zerstörung Dresdens
É importante procurar no passado a orientação para o futuro, disse o chefe de Estado da AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld

Bombardeios desmoralizadores

Até a poucos meses do fim da Segunda Guerra, a "Florença do Elba", famosa por suas joias arquitetônicas e tesouros culturais, permanecera basicamente poupada pelo conflito, até por ser irrelevante estratégica e economicamente. Ainda assim, os Aliados decidiram destruí-la, numa manobra para desmoralizar a população civil.

Os ataques começaram na noite de 13 de fevereiro de 1945: 245 bombardeiros pesados britânicos lançaram 3 mil bombas explosivas de alta capacidade e 650 mil bombas incendiárias. Em 23 minutos, Dresden se transformara num mar de chamas. Os bombardeios prosseguiram pelos dois dias seguintes.

Um dos bens culturais destroçados na ocasião foi a Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora), onde se realizou a cerimônia memorial desta sexta-feira. Sua restauração e reinauguração, em outubro de 2005, tiveram grande significado simbólico para a memória da capital do estado da Saxônia.

Gedenken an die Zerstörung Dresdens
Corrente humana lembra a destruição da cidade alemã, em fevereiro de 1945Foto: picture-alliance/dpa/H. Schmidt

Contra o retorno da ideologia de extrema direita

Há anos, neonazistas tentam desvirtuar a celebração do 13 de fevereiro para seus fins ideológicos, com passeatas e outros eventos. Milhares de habitantes de Dresden, por sua vez, respondem, também neste ano, com a realização de correntes humanas no centro da cidade.

Gauck comentou que em nenhum outro lugar o sofrimento foi tão instrumentalizado politicamente como em Dresden. A deturpação da história já começou durante o domínio nazista, prolongou-se pelo regime comunista da República Democrática Alemã (RDA) e "é mantida até hoje por alguns incorrigíveis", enumerou.

Também a prefeita de Dresden, Helma Orosz, apelou aos presentes por um comprometimento decidido contra o ódio, a guerra e a violência. Celebração e reconciliação só têm valor "se também tomarmos uma posição clara para o aqui e agora". As tentativas de "novamente categorizar e avaliar" seres humanos por sua origem, religião ou cor da pele devem ser rechaçadas, instou.

Em 2015, os radicais de direita resolveram renunciar a uma manifestação de grande porte na data comemorativa. Nos últimos meses, Dresden tem ocupado as manchetes internacionais como berço e principal palco dos protestos do grupo Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente"), de caráter xenófobo e islamófobo.

AV/epd/dpa