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Disputa pelo direito de transmissão

Andreas Tzortzis (rsr)22 de novembro de 2005

Está o futebol se distanciando do desejo do telespectador? Planos de alterar o horário de exibição dos melhores lances da Bundesliga provocaram a ira de torcedores. Uma verdadeira instituição alemã está em jogo.

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Hábito alemão corre risco de acabarFoto: dpa

A cena é comum. Sábado à noite. Um grupo de pessoas se exalta em frente à televisão. O motivo não é a crise econômica ou social na Alemanha, são apenas torcedores de futebol que revêem os lances da partida do seu time.

O hábito, um dos mais antigos ligados ao esporte, está ameaçado. O canal Premiere (TV por assinatura) poderá transformar tudo em uma vaga lembrança do passado.

Desejo de exclusividade

Georg Kofler
Presidente do canal PremiereFoto: AP

O canal de televisão de Munique está no topo da lista da briga pelo direito de transmissão dos jogos da Bundesliga, o Campeonato Alemão. Apesar de poucos duvidarem de suas chances de vencer a disputa, o desejo da Premiere em deter uma exclusividade sem precedentes virou o futebol alemão de cabeça para baixo.

Por 260 milhões de euros, o canal, segundo comentaristas da Liga Alemã de Futebol (DFL), quer colocar o programa Sportschau entre as "atrações" de sábado à noite (leia-se madrugada).

Televisão com horário marcado

Fußballfan mit Knabbergebäck vor dem Fernseher
Troca de horário do programa Sportschau poderá gerar revolta entre os torcedoresFoto: Bilderbox

Os alemães ainda conseguem ver o programa na televisão aberta uma hora após o fim da transmissão dos jogos pela Premiere. Mas o presidente do canal, Georg Kofler, quer empurrar o Sportschau das 18h10 para, no mínimo, as 22horas. Uma manobra que deverá significar a perda de muitos dos seis milhões de espectadores.

"É inaceitável que os jogos sejam transmitidos em canais abertos após a transmissão pela TV paga", critica Kofler, cuja companhia pagou 180 milhões de euros por ano pelos direitos sobre a Bundesliga nas últimas duas temporadas.

Seguindo o modelo de outros países

A perspectiva de que a Alemanha, o último reduto de televisão "barata" na Europa, siga a tendência que já contagiou França, Itália e Inglaterra, é um choque para seguidores do esporte, além de causar preocupação.

Ao contrário do que acontece nos três países, o alemão aproveita há décadas um número considerável de canais e de programas – incluindo o melhor dos jogos – por uma taxa cobrada mensalmente.

Premiere bald Pleite?
Televisão paga poderá alterar a grade de programação da TV alemãFoto: AP

O direito ao abastecimento "básico" com programas de televisão inclusive é assegurado na Constituição. E aí está o problema. Muitos expectadores consideram futebol não somente como básico, mas tão essencial à vida quanto o ar que respiramos. "O futebol às seis é a melhor opção", comenta Andreas Sürken, proprietário do bar Magnet Mitte, em Berlim. "Este esporte é um bem público", exagera.

Nos últimos dois anos, o canal alemão de direito público ARD pagou cerca de 60 milhões de euros para retransmitir os melhores momentos da Bundesliga. Embora reconheça a existência do desejo (por parte da DFL) de arrecadar mais dinheiro, a ARD alerta para a iminente reação negativa dos torcedores. " Você não pode transformar telespectadores em reféns somente porque quer mais dinheiro", dispara Fritz Pleitgen, diretor geral do canal WDR, um dos transmissores regionais do ARD.

Mudanças à vista

Eröffnungsveranstaltung Allianz-Arena in München Fußball FC Bayern München - Deutsche Nationalmannschaft
Torcedores temem a troca de horário do programa tradicionalFoto: AP

"O cenário televisivo está mudando gradualmente", explica Stefan Weiss, analista da WestLB. Co-autor de um estudo sobre a tentativa de compra dos direitos da Bundesliga pela Premiere, Weiss acredita que a exclusividade da transmissão dos jogos resultaria em 300 mil novos clientes.

Entretanto, especialistas alertam. "No fim, a DFL precisa pensar em seu produto", diz Thomas Schierl da Escola Superior Alemã de Esporte, em Colônia. Mencionando a resistência dos fãs ao novo horário do Sportschau, Schierl lembrou que "não vale a pena fazer dinheiro a curto prazo se você prejudica o seu produto a lonzo prazo".