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Debate sobre aquecimento global envereda por caminhos místicos

2 de outubro de 2012

Líderes religiosos em todo o mundo se engajam na conscientização sobre as mudanças climáticas. E com sucesso, já que provavelmente 80% da população mundial são, de uma forma ou de outra, religiosos.

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http://www.flickr.com/photos/vipez/2474531879/ Lizenz: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.0/ Prayer on Boat This picture was taken while traveling from Dhaka to Geddah Village +++CC/vipez+++, 13.4.2007
Beten auf einem BootFoto: CC/vipez

O profeta Moisés já sabia que o ser humano tem o dever de cuidar da Mãe Natureza, pois na Bíblia está escrito: "E Deus tomou o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar". Não para o desflorestar ou o poluir.

A relação entre o ser humano e o mundo físico que o rodeia é abordada não só pelo cristianismo, mas por todas as religiões do mundo. E para uma grande parte da humanidade as religiões desempenham papel crucial. Em todo o mundo, estima-se que mais de 80% dos homens e mulheres são, de alguma forma, religiosos.

"Ainda não tínhamos consciência de que nós também sofremos quando o planeta sofre", escreveu o ambientalista Fazlum Khaled, que criou a Fundação Islâmica para Ecologia e Ciências Ambientais (Ifees, na sigla em inglês) e que se engaja por um Islã "verde".

A Ifees apoia a construção de mesquitas ecológicas, "verdes", que só usam energias renováveis. coincidentemente, o verde era a cor preferida do próprio profeta Maomé.

Autoridade religiosa

Levar a cor predileta do profeta ao centro do sermão é uma decisão do líder religioso. É ele quem folheia as sagradas escrituras e decide quais as passagens enfatizar.

Symbolbild - Interreligiöser Dialog
Líderes de várias religiões passam a pregar em defesa do meio ambienteFoto: Getty Images

"Os líderes religiosos influenciam a forma como as pessoas veem o mundo e, com isso, influem também nos seus comportamentos", escrevem os antropólogos norte-americanos James Peoples e Garrick Baley no livro "Humanity".

Em muitas regiões do mundo, se concede grande autoridade aos líderes religiosos. Eles guiam as sociedades de que fazem parte, regulam a vida comunitária, determinam quais os rituais que devem ser seguidos no casamento, na morte e nas desavenças, e esclarecem também o inexplicável e o místico. Através disso, determinam até certo ponto os comportamentos dos seus fieis.

Os líderes religiosos querem, por isso, utilizar esse poder de influência para transformar os fieis em defensores do ambiente, "absolvendo" assim os seus pecados ambientais.

Pregar a proteção do ambiente

Em 2009, delegados de várias igrejas e representantes religiosos de todo o mundo se reuniram no castelo britânico de Windsor para a cúpula religiosa do clima "Many Heavens, One Earth" – em português, "Muitos Céus, uma só Terra".

Quer sejam hindus, cristãos ou sikhs, todos são ameaçados pelas mudanças climáticas. O objetivo não é somente pregar do púlpito; os responsáveis religiosos querem também implementar projetos concretos para proteger o meio-ambiente.

Räucherstäbchen
Hindus prometem limitar queima de incenso a três por pessoaFoto: CC/kevinpoh

Os budistas chineses e taoístas querem limitar o número de pauzinhos de incenso para três por pessoa e, assim, contribuir para a redução da poluição atmosférica. A Igreja Anglicana e os sikhs querem instalar mais painéis solares nos telhados dos templos.

Líderes religiosos africanos querem também alertar seus fiéis para as problemáticas ambientais: em 2010, eles se comprometeram, numa declaração, a falar frequentemente sobre as mudanças climáticas em seus sermões.

Nessas ocasiões, deveriam ser destacados versículos relevantes das sagradas escrituras, onde se fala sobre o papel do ser humano e da natureza. Os líderes religiosos pretendem também sensibilizar os fieis a levarem uma vida mais amiga do ambiente.

Uma árvore por casamento

Todas as semanas, Mufti Mubajje, líder muçulmano no Uganda, prega aos seus fiéis sobre a necessidade de proteger o meio-ambiente: ele pede para as pessoas não cortarem árvores, para utilizarem menos carvão e para plantarem uma árvore.

Neste país do leste africano, muitos cortam árvores para construir ou para queimar como lenha. Extensas áreas de floresta já foram destruídas.

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Líder muçulmano condiciona cerimônia religiosa ao plantio de uma árvore no UgandaFoto: CC/350.org

Na região de Bunyoro, no oeste do Uganda, um bispo anglicano dá também a sua contribuição para reflorestar o país. Ele só faz casamentos ou batizados se antes as pessoas plantarem uma árvore. Projetos como este são também apoiados por organizações internacionais, como o instituto cultural britânico, o British Council.

As igrejas alemãs também se mobilizam contra as mudanças climáticas, como, por exemplo, com a campanha "Mudança climática – Mudança de vida" de uma igreja evangélica no leste da Alemanha.

A igreja promove ações como o "jejum" do automóvel ou sextas-feiras sem carne. "Em vez de ficarmos à espera das decisões políticas, temos de ser nós próprios a começar", explica Annelie Hollmann, responsável pelo projeto.

Pois, como já dizia o bispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz, na Cúpula do Clima em Copenhague, "temos apenas um mundo. Este mundo. Se o destruirmos, não teremos mais nada." O profeta Moisés teria provavelmente concordado.

Autor: Michael Führer (gcs)
Revisão: Francis França