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"Direitos humanos são tudo"

Erol Avdovic, da Deutsche Welle em Nova York (sm)30 de julho de 2002

Em entrevista exclusiva à DW, o diplomata brasileiro fala sobre suas divergências com as ONGs: "Não é sempre em público que conseguimos os melhores resultados."

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Sérgio Vieira de Mello assume o Alto Comissariado de Direitos Humanos no dia 12 de setembroFoto: AP

DW - Quais são as suas prioridades no novo cargo?

Acho prematuro responder a este tipo de pergunta. Fui nomeado há menos de uma semana e preciso de tempo para consultar colegas das Nações Unidas, a própria Mary Robinson, minha antecessora, as organizações não-governamentais, outros representantes da sociedade civil e os governos, obviamente, antes de estabelecer prioridades. Afinal, tudo é direitos humanos e os direitos humanos são tudo. Gostaria de anunciar minhas prioridades no dia 12 de setembro, quando receber a nova responsabilidade das mãos de Mary Robinson.

DW - Algumas organizações de direitos humanos disseram temer que o senhor seja suscetível a pressões. Qual a sua resposta a isso?

Respeito a opinião das organizações não-governamentais, pois as considero indispensáveis. Trabalhei com elas mais de 30 anos. Não acredito – no entanto – que esta crítica se justifique. Algumas expressões desta preocupação demonstram claramente que as pessoas não conhecem a minha trajetória. Elas deviam saber que há muitas maneiras de influenciarmos o comportamento de governos e forças não-estatais. Não é sempre em público que conseguimos os melhores resultados.

Vou calibrar a minha atenção em função de crises específicas, de problemas específicos, de desafios específicos, sejam eles temáticos ou geográficos. As organizações de direitos humanos, que serão minhas parceiras em todas essas atuações, ainda vão se dar conta de que o Sérgio Vieira de Mello sabe falar em alto e bom tom, quando necessário.

Nós - as ONGs e eu - não somos idênticos. Cada um tem o seu papel. Dou muito valor à expressão pública. Neste sentido, as ONGs me desagradam às vezes. Eu próprio empreguei outros métodos. Mas é para isso que existimos, para nos complementarmos.

DW – Quais lições da sua experiência no Timor Leste e no Kosovo podem ser aplicadas à sua nova posição? É necessário perceber que certos países requerem uma vigilância especial dos direitos humanos?

A palavra "vigilância" não me agrada. Como sabemos, as Nações Unidas têm um sistema especial de rapporteurs que fiscalizam regularmente a situação dos direitos.

Quanto às minhas experiências anteriores, há muitas lições a serem extraídas, especialmente no caso do Timor Leste. Esta foi a primeira vez que a ONU reconstruíu uma nação das cinzas, inclusive criando todas as instituições democráticas: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, uma nova polícia e as Forças Armadas. Como eram as Nações Unidas, tudo foi rigorosamente construído sobre o fundamento dos direitos humanos.

Isso significa que a ONU não lida com os direitos humanos de uma forma abstrata. Temos uma experiência concreta de construir instituições com base no respeito aos direitos humanos.