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Diferenças internas ameaçam governo de unidade no Afeganistão

Masood Saifullah (ca)22 de setembro de 2014

Sob pressão dos EUA e da Otan, acordo entre candidatos põe fim à impasse político, mas especialistas alertam que novo gabinete terá dificuldade de se sustentar e pode não passar de uma solução de curto prazo.

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Archivbild Einigung über Einheitsregierung in Afghanistan unterzeichnet
Secretário de Estado John Kerry intermediou acordo entre Ashraf Ghani e Abdullah AbdullahFoto: picture-alliance/AP Photo

O antigo ministro das Finanças Ashraf Ghani foi declarado vencedor das eleições presidenciais no Afeganistão, na primeira transferência democrática de poder desde a queda do regime talibã, em 2001.

Ghani sucede a Hamid Karzai, e seu concorrente, Abdullah Abdullah, recebe o cargo de chefe de governo – um posto recém-criado e que permitiu o fim de um impasse político que durava três meses. Mas, a longo prazo, o novo governo vai enfrentar dificuldades, acreditam especialistas.

"A Otan faz pressão, mas a solução [de governo] é de pouca visão. Ela vai funcionar somente num futuro próximo", afirma Conrad Schetter, diretor do centro alemão BICC, organização independente que trabalha pela paz e desenvolvimento.

Personalidades diferentes

Schetter afirma que as personalidades dos dois candidatos presidenciais, agora juntos num governo de unidade, são simplesmente diferentes demais. Segundo ele, Ashraf Ghani, um antigo executivo do Banco Mundial, e Abdullah teriam dificuldades em trabalhar juntos.

"Vejamos a figura de Ashraf Ghani: eu acho que, para muitas pessoas, é muito difícil trabalhar com ele. Ele sabe bem o que quer e não tolera nenhuma contradição", diz o diretor do BICC, que ressalta, no entanto, que existem algumas afinidades.

Einigung über Einheitsregierung in Afghanistan unterzeichnet 21.9.2014
Governo de unidade nacional foi anunciado no domingoFoto: AFP/Getty Images

Segundo Schetter, os dois candidatos teriam algumas ideias políticas semelhantes: "Ambos querem a presença da Otan no Afeganistão e ambos se mostram abertos para o desenvolvimento do país."

No contexto das eleições no Afeganistão, vieram à tona diferenças de opiniões que quase levaram o país à beira de uma guerra civil. Por ocasião da nomeação dos candidatos presidenciais, os apoiadores de alguns acusaram adversários de receber apoio por parte do governo.

No primeiro turno, nenhum dos candidatos conseguiu se afirmar, e um segundo turno foi necessário. Mas a segunda rodada de votação foi ainda mais polêmica do que a primeira. Ambos os candidatos declararam-se vencedores e acusaram-se mutuamente de haver manipulado as eleições. A crise política se aprofundou ainda mais.

Somente depois de duas visitas do secretário de Estado americano, John Kerry, a Cabul, a situação voltou a se acalmar. E os candidatos, então, se dispuseram a negociar. Kerry intermediou um acordo: os votos deveriam ser completamente recontados. No domingo (21/09), foi anunciado o resultado da recontagem.

Acordo com EUA

"Este governo não resultou de um processo democrático normal", critica Sayed Massud, da Universidade de Cabul: "Por isso, em dois ou três anos, teremos grandes problemas internos."

Também durante a recontagem dos votos, os candidatos e seus apoiadores trocaram acusações, afirma Massud. E ele diz que isso poderia ofuscar a cooperação futura.

Abdullah acusa Ghani, a comissão eleitoral independente do Afeganistão e Karzai de conspirarem contra ele. Eles teriam gerado mais de um milhão de votos falsos. Massud disse estar convencido de que os dois candidatos só teriam entrado em acordo devido à pressão da comunidade internacional e de seus financiadores.

Ghazni Anschlag 04.09.2014
Novo governo também enfrentará resistência talibãFoto: Reuters/Mustafa Andaleb

"Dois lados opostos, que trocam sérias acusações, formam um novo governo", afirma Massud. "Este governo logo vai ter grandes problemas, que serão muito difíceis de resolver."

Assim que o novo governo for formado em Cabul, ele terá de assinar um acordo de segurança com os Estados Unidos. Esse acordo permitirá que a Otan estacione suas tropas no país também depois de 2014.

O novo governo também terá de enfrentar a revolta dos talibãs, que trouxe grandes problemas para o país nos últimos anos. Ainda não se sabe em que direção o governo de unidade vai conduzir o país.