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Diálogo entre governo e Farc traz nova esperança de paz para a Colômbia

29 de agosto de 2012

Enfraquecidas com a perda de vários líderes nos últimos anos, as Farc aceitaram negociar com o governo da Colômbia. Os colombianos, que anseiam pela paz há quase 50 anos, esperam para ver.

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Foto: dapd

O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, tem grandes ambições: quando assumiu o cargo, há dois anos, prometeu bem-estar e paz à população. "É possível termos uma Colômbia sem guerrilha, vamos dar provas disso", anunciou, embora não tenha sido o primeiro a dizê-lo. Muitos outros presidentes já haviam feito promessa semelhante.

Enquanto os chefes de governo do país sucediam-se no poder, ao longo dos anos, seus opositores permaneciam os mesmos: as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), de orientação marxista-leninista, e o ELN (Exército de Libertação Nacional), de menor amplitude. Como mais antigos movimentos de guerrilha da América Latina, eles combatem há quase 50 anos o Estado colombiano. O conflito já deixou centenas de milhares de mortos.

Da simpatia ao desprezo

A guerrilha começou em meados dos anos 1960, com o objetivo de implementar a reforma agrária e promover uma distribuição mais igualitária das riquezas no país. Eram exigências que contavam com a simpatia da população, já que a Colômbia tem até hoje uma das mais injustas distribuições de renda do mundo.

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Unidades de combate à droga em campo de cultivo da cocaFoto: dapd

Hoje quase nenhum colombiano demonstra simpatia pelas ações da guerrilha, pois o preço do sangue derramado foi alto demais nas últimas décadas.

Os métodos das Farc e do ELN – sequestros, coerções, atentados a bomba, massacres e o recrutamento compulsório de menores – fizeram com que as pessoas se voltassem contra a guerrilha.

Revolucionários e traficantes

Além disso, os auto-intitulados exércitos de libertação estão há anos envolvidos com o tráfico de drogas. Nas regiões do país controladas pelas Farc ou pelo ELN, o cultivo da maconha, da coca e da papoula (para produção de heroína) vai de vento em popa. As organizações guerrilheiras protegem os laboratórios da máfia das drogas e, em contrapartida, recebem parte dos lucros. Os rebeldes das organizações têm em parte seus próprios laboratórios e assumem o transporte e a distribuição das drogas.

Este é um dos principais obstáculos para um possível processo de paz. É incerto se as Farc ou o ELN estão dispostos a abdicar de tais rendas ilícitas. Além disso, lembra o pesquisador Ariel Ávila, do Instituto Nuevo Arco Iris, paira sobre muitos comandantes da guerrilha o perigo de serem deportados para os EUA. "Teria que haver um acordo com a comunidade internacional que impedisse a deportação por causa do tráfico de drogas ou de crimes contra a humanidade", completa.

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Membros da Farc presos por forças policiaisFoto: AP

Rebeldes enfraquecidos

Mas por que razões a guerrilha quer agora negociar? É possível que em função de sua própria fragilidade. Pois mesmo considerando que as Farc e o ELN ainda estejam presentes em muitas regiões do país, eles têm bem menos seguidores que no passado. Segundo dados das forças militares colombianas, as Farc têm hoje em torno de 8 mil combatentes. Há alguns anos, esse número era de 18 mil. Estima-se que o ELN tenha aproximadamente 3 mil combatentes armados. Nos últimos anos, as tropas colombianas mataram uma série de importantes líderes da guerrilha.

O movimento rebelde já usou uma vez as negociações de paz para reunir forças e se reorganizar. Em 1998, os militares, sob a égide do então presidente Andrés Pastrana, evacuaram uma região no sul da Colômbia com a extensão do território suíço.

Mas o cenário das negociações em Caguan acabou se transformando em palco para o show dos guerrilheiros e as conversas foram vergonhosas: os líderes da guerrilha apresentaram-se para a opinião pública com roupas camufladas e empunhando metralhadoras.

A seguir, não abdicaram do uso das armas nem suspenderam os sequestros e ataques praticados. As negociações fracassaram no início de 2002 e a questão da segurança no país se agravou ainda mais. Depois disso, a maioria dos colombianos não queria nem mais ouvir falar em negociações para a paz com a guerrilha.

Entre a esperança e o ceticismo

O atual presidente Santos aposta, como seu antecessor Álvaro Uribe, na força militar. Ao mesmo tempo, nunca excluiu a possibilidade de negociar com as Farc e com o ELN.

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O presidente colombiano Juan Manuel SantosFoto: AP

Santos falou até agora somente em negociações prévias, cujo conteúdo não foi divulgado. Segundo informações veiculadas pela mídia, as conversas deverão ser iniciadas no dia 5 de outubro em Oslo, a capital norueguesa, e prosseguidas em Cuba. Até agora, há confirmação apenas da participação das Farc, embora o ELN já tenha manifestado disposição em participar.

A maioria dos observadores saúda a iniciativa do governo. O mero fato de que todas as partes em conflito tenham interesse em negociar já é um ponto positivo, diz Carlos Gaviria Diaz, ex-membro do Tribunal Constitucional.

Há, contudo, quem veja tudo isso com ceticismo. "Até agora, as Farc não demonstraram, de fato, nenhum desejo de paz. Precisamos de uma trégua, os combatentes têm que entregar suas armas e precisam ser desmobilizados. Estamos fartos de negociações pela paz que sempre recomeçam, mas que não colaboram, de fato, para que tenhamos mais paz", conclui o analista Jaime Jaramillo Pannesso.

Autor: Nils Naumann (sv)
Revisão: Alexandre Schossler / Carlos Albuquerque