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Deutsche Bank vê Brasil crescendo 3,5% ao ano no médio prazo

9 de novembro de 2012

Na contramão da maioria das atuais previsões, banco alemão diz que problemas da economia brasileira são cíclicos. País possui bons fundamentos econômicos e sofre com a valorização do real, avalia.

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Foto: AP

Mesmo com um crescimento econômico estimado em somente 1,5% para este ano, um relatório do Deutsche Bank estima que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai crescer no mínimo 3,5% ao ano no médio prazo.

O relatório, preparado pelo economista Markus Jäger, diretor do centro de pesquisa do Deutsche Bank, diz que isso se deve à provável recuperação do cenário econômico global, aos sólidos fundamentos da economia brasileira e às reformas estruturais levadas adiante pelo governo, além da diversidade de produtos brasileiros voltados para a exportação – principalmente para a China.

"A taxa de crescimento econômico praticamente dobrou nos últimos dez anos e passou de 2% a 2,5% ao ano para quase 4%. A recuperação cíclica será acompanhada, ainda, da criação de uma maior poupança interna e de mais investimentos, o que torna muito improvável que a economia brasileira vá crescer menos do que 3,5% no médio prazo", afirmou Jäger à DW Brasil.

Principal parceiro comercial

A China – hoje a segunda maior economia do mundo – é o maior parceiro comercial do Brasil e compra cerca de 17% do total das exportações brasileiras. O país asiático teve um crescimento econômico anual de dois dígitos percentuais nos últimos 30 anos e, segundo Jäger, deverá crescer em torno de 8% no futuro. E a necessidade dos chineses por matérias-primas tem beneficiado o Brasil.

De acordo com o especialista, as relações comerciais do Brasil com a China podem ser consideradas desequilibradas – ou complementares, dependendo do ponto de vista. Os principais produtos brasileiros exportados para lá são commodities – soja, minério de ferro e petróleo –, enquanto 98% das exportações chinesas para o Brasil são de produtos manufaturados.

"Não há dúvidas de que o Brasil se beneficia do crescimento da China e do aumento das suas exportações para o país. Por outro lado, a valorização da moeda brasileira dificultou a exportação dos produtos manufaturados brasileiros e, com isso, as empresas que produzem manufaturados no Brasil não vão bem", afirmou.

Segundo ele, em termos cíclicos a fraqueza da economia brasileira pode ser, em grande medida, explicada pela queda na demanda global e pelo fortalecimento do real, que dificulta as exportações.

Em comparação com os outros países do Brics – Rússia, Índia, China e África do Sul –, o Brasil está bem posicionado no que diz respeito ao crescimento chinês. "Além disso, o Brasil tem uma demografia populacional melhor do que os outros países do Brics, só perdendo nesse quesito para a Índia. Quer dizer, a população ainda é jovem. Mas, em contrapartida, a infraestrutura brasileira e o custo Brasil ainda são um problema", frisou.

Crescimento estável

O especialista afirma ainda que o crescimento brasileiro varia menos que o de outros países, pois o Brasil não depende tanto das suas exportações, já que a demanda interna é muito grande. "Por isso o Brasil conseguiu suportar o choque externo da última crise e seu efeito sobre o consumo interno, também com o uso de políticas fiscais, como o incentivo ao consumo", disse o especialista do Deutsche Bank.

Com a grande variedade de produtos brasileiros para exportação – que vão de alimentos e produtos manufaturados até minério de ferro e petróleo –, o país consegue tirar proveito do crescimento dos outros mercados emergentes. "Com o aumento da renda desses países, há consequentemente uma demanda maior. Como o Brasil está muito bem posicionado, esse é um ponto muito positivo", concluiu.

Custo Brasil

Para incentivar o crescimento do PIB, o governo federal tem incentivado a queda dos juros bancários (o que estimula o consumo interno) e realizado investimentos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além da concessão, por exemplo, de aeroportos, rodovias e ferrovias para a iniciativa privada. Todas essas ações têm o objetivo de aumentar a competitividade e a produtividade do país.

O especialista afirmou que esses investimentos devem fazer com o que o "custo Brasil" diminua. Mas ele alerta que o governo federal deveria, também, se preocupar em diminuir os impostos, em vez de cuidar somente do aumento da demanda interna. "O governo federal está indo no caminho certo, mas poderia intensificar outras políticas."

Uma das consequências do aumento da demanda interna e da produtividade tem sido o endividamento, principalmente, da classe média brasileira. Para Jäger, isso não deverá ser um grande problema em médio prazo caso o crescimento brasileiro realmente se mantenha entre 3% e 4%. "Eu acho que isso não é um problema estrutural, pois, em médio prazo, a população será beneficiada com a efetiva queda dos juros."

Ainda de acordo com o relatório, os motivos para projetado crescimento contínuo de mais de 3,5% em médio prazo remontam às reformas estruturais, às privatizações e à estabilidade financeira promovidas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que fixaram as condições para o alto e sustentado crescimento econômico ocorrido na década de 2000.

Já a estabilização econômico-financeira sob o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) permitiu ao Brasil colher os benefícios das reformas implementadas anteriormente, apoiado pelo aumento da atividade comercial e das condições financeiras internacionais favoráveis.

Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Alexandre Schossler