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Destino na corda bamba

(sv)30 de setembro de 2002

Especialistas da ONU discutem em Viena com delegação iraquiana detalhes de uma inspeção no país. Conselho de Segurança da ONU debate divergências e milhares de pessoas na Europa vão às ruas em protesto contra a guerra.

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Hans Blix, coordenador do grupo de inspetores de armas da ONU, em VienaFoto: AP

Aspectos técnicos da tão planejada inspeção de peritos de armas da ONU em território iraquiano estão sendo debatidos, longe da presença da mídia, na sede da Agência Internacional de Energia Atômica, em Viena. Os dois dias de negociação servem, segundo informações oficiais, para definir questões práticas de uma possível missão da ONU no Iraque.

"Não iremos negociar. Iremos colocar sobre a mesa as exigências que fazemos como inspetores ", declarou Melissa Fleming, uma das participantes do encontro. Ao lado de trâmites alfandegários – como a entrada no país de aparelhos, veículos e pertences pessoais de cada inspetor –, a reunião em Viena define questões como visto e moradia para os especialistas e, principalmente, acesso dos mesmos às áreas militares e aos palácios presidenciais.

Além disso, a comissão reunida em Viena deverá discutir com os representantes iraquianos qual o status delegado aos enviados da ONU no país, bem como as condições necessárias para uma liberdade ilimitada dos mesmos em território iraquiano. Os inspetores das Nações Unidas pretendem seguir para Bagdá em 15 de outubro.

Semana decisiva -

Em cenários diferentes, o destino do Iraque pode vir a ser decidido em breve. Enquanto os inspetores da ONU, sob a coordenação do sueco Hans Blix, discutem detalhes da missão em Viena, o Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, leva adiante as discussões sobre a proposta dos EUA e do Reino Unido em prol de uma resolução imediata da ONU.

A França, no entanto, continua defendendo mais cautela, com a defesa de um "plano de duas resoluções". Paris não pretende dar "carta branca" à uma ação militar, segundo afirmou o ministro francês do Exterior, Dominique de Villepin, ao diário Le Monde. Também a Alemanha tem intenção de manter a posição que defendeu antes das eleições – postura "que continua valendo", nas palavras de Joschka Fischer, ministro alemão das Relações Exteriores.

Apesar dos confrontos internos nos meandros da ONU, Bagdá continua sob enorme pressão. Um sim definitivo de Saddan Hussein, no entanto, não é a alternativa mais provável para o fim do conflito. A experiência com o ditador ensinou que as negociações com o Ocidente são sua última arma, depois que outras possibilidades mostram-se finalmente esgotadas. As rixas entre EUA e UE e mesmo entre os europeus, além das manifestações que levaram milhares de pessoas às ruas no último fim de semana (29/30), devem ter causado enorme satisfação em Bagdá.

Olho por olho leva à cegueira -

Em Londres e Roma, milhares de pessoas protestaram contra o apoio dos governos de Blair e Berlusconi à política armamentista de Bush. Enquanto 150 mil pessoas participaram das manifestações na capital do Reino Unido, os protestos em Roma atraíram quase cem mil ativistas. "A prática do olho por olho vai deixar o mundo cego", diziam cartazes nas ruas.

Observando a linha que separa a guerra da paz no país torna-se cada vez mais tênue, o governo de Hussein continua jogando até onde pode. O risco é fazer com que os EUA se irritem a tal ponto, que o linha-dura Bush resolva – com ou sem aliados, de posse ou não de um mandato da ONU – partir sozinho para a guerra contra Bagdá. A hegemonia militar dos EUA não deixa dúvidas que Washington venceria sem dificuldades o conflito.

No entanto, o preço a ser pago pela postura de "sozinhos venceremos" seria, para os EUA, alto demais. Tanto boa parte dos pesos pesados da União Européia quanto todas as nações islâmicas rejeitam com veemência uma intervenção norte-americana sem o aval de um mandato da ONU. E isso, bem ou mal, tanto os conservadores da Casa Branca quanto a oposição no Congresso norte-americano sabem.