1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Entrevista

Mareike Aden (sm)22 de maio de 2007

Crítico da globalização Sven Giegold, co-fundador da associação Attac, denuncia em entrevista exclusiva o desrespeito ao direito de reunião durante a cúpula do G8 a ser realizada no início de junho na Alemanha.

https://p.dw.com/p/AiNB
Attac em açãoFoto: dpa

Críticos da globalização convocaram protestos pacíficos contra a política dos países industrializados por ocasião do encontro do G8 a ser realizado em Heiligendamm, no litoral do Báltico, de 6 a 8 de junho. No entanto, os manifestantes vão ter que fazer suas reivindicações de longe, fora do campo de visão dos representantes do G8.

As autoridades alemãs de segurança proibiram, de 30 de maio a 8 de junho, a concentração de manifestantes numa faixa de 200 metros ao longo da cerca que interdita a entrada ao balneário báltico que sedia a cúpula. No mesmo período, manifestações que não tenham sido anunciadas e autorizadas anteriormente são proibidas em um raio de cinco a dez quilômetros em torno do local da conferência. "Situação permanente de ameaça": esta foi a justificativa oficial para uma medida rigorosamente criticada por setores da opinião pública.

A interdição levou à convocação de um ato público para 2 de junho, em Rostock. Os organizadores contam com o comparecimento de até 100 mil pessoas de diversos países europeus à cidade no norte da Alemanha.

A DW-WORLD conversou com o co-fundador da Attac, Sven Giegold, sobre a motivação e as metas dos protestos e sobre a adesão de segmentos de direita à crítica contra a globalização.

DW-WORLD: Nas cúpulas anuais do G8, os chefes de Estado e governo dos oito principais países industrializados se encontram para dialogar e formular estratégias comuns. O que os críticos da globalização, como a Attac, têm contra isso?

Deutschland Sven Giegold Attac
Sven GiegoldFoto: privat

Sven Giegold: Ali se encontram apenas os países ricos, embora os problemas importantes do mundo – como a pobreza ou o aquecimento global – tivessem que ser solucionados dentro das Nações Unidas. A ONU só é fraca porque os países ricos se acertam entre si, em vez de abordar os problemas com a comunidade internacional. Além disso, também criticamos o fato de as cúpulas do G8 dos últimos 30 anos só terem tratado da liberalização do capital e dos mercados. O que falta é uma globalização de acordo com regras sociais e ecológicas. A globalização da economia acentuou as discrepâncias sociais e a destruição ecológica, contribuindo para a restrição da democracia.

Na Alemanha, eventuais manifestantes chegaram a ser revistados. Aventaram-se até prisões preventivas. Será que medidas como essas intimidam ou estimulam os opositores do G8?

O que estamos notando, com certeza, é um fortalecimento da mobilização. As medidas infringem claramente as regras do Estado de direito e acabaram instigando muitas pessoas que inicialmente nem queriam comparecer à cúpula. Por outro lado, há o perigo de se ignorar aquilo que os participantes – grupos cristãos, sindicatos ou associações ambientais – vivem ressaltando: os protestos devem transcorrer pacificamente. Isso pode muito bem assustar as pessoas.

Qual é a meta da Attac e de outros opositores do G8 em Heiligendamm? Bloquear a cúpula?

Alguns grupos querem sair às ruas para demonstrar seu protesto simbolicamente. Outros querem de fato bloquear a cúpula. Mas com a presença de 16 mil policiais e uma cerca de 12 milhões de euros, isso naturalmente nunca vai dar certo. A Attac defende os meios pacíficos, mas não deixamos de apoiar desobediência civil por parte dos nossos ativistas, como por exemplo a aglutinação de pessoas sentadas em vias de acesso. Desobediência civil simplesmente faz parte de muitos movimentos sociais. Basta pensar no movimento em defesa dos direitos dos negros ou em Ghandi. É nessa tradição que queremos protestar.

Os manifestantes, no entanto, não vão nem chegar perto dos participantes do G8. Mesmo antes da cúpula, será proibido protestar numa faixa de 200 metros em torno da cerca de interdição. E, durante o encontro, a zona interditada ao longo da cerca deverá se ampliar. A Attac entrou com um recurso contra esta interdição. Por quê?

Não foi contra a cerca, embora a rejeitemos como símbolo de separação entre pobres e ricos. Foi contra a zona complementar de interdição na qual se proíbem manifestações. O fato de os protestos não poderem ser vistos da área do encontro é uma limitação do direito fundamental à liberdade de reunião, e pretendemos ir com a nossa queixa até o Tribunal Constitucional Federal.

Dentro de tão pouco tempo?

Há sinais de que haverá uma decisão ainda antes da cúpula. Infelizmente a proibição de reunião em grupos foi divulgada tão tarde que foi difícil recorrer judicialmente a tempo. Essa é mais uma restrição dos princípios do Estado de direito.

Alguns manifestantes anunciaram que pretendem romper o cerco. Os conflitos em torno da cúpula do G8 em Gênova, em 2001, culminaram com a morte do manifestante Carlo Guiliani, deixando 400 feridos. Como você avalia o perigo de acontecerem cenas semelhantes em Heiligendamm?

Cremos que o perigo é mínimo. Mas não dá para excluir que a violência parta de manifestantes isolados. E do jeito que a polícia vem dando mostras de poder, a coisa não se torna menos provável. Se os manifestantes violarem as leis, a polícia tem que interferir, com certeza. Mas é ilegítimo desconsiderar que o Estado de direito parte do pressuposto da inocência e começar a ordenar prisões preventivas ou rejeitar vistos de entrada no país. Isso torna improvável um clima pacífico.

Faz tempo que a crítica à globalização deixou de ser um assunto exclusivo da esquerda. O secretário-geral do NPD, Peter Marx, considerou 2007 "o ano da resistência fiel ao povo contra a globalização" e convocou protestos contra a "cúpula dos caciques". Você não teme que possam se formar alianças erradas em Heiligendamm?

Não se trata de aliança. Os protestos que planejamos junto com a população civil representam uma outra globalização. Nenhum de nós quer retornar ao Estado nacional. Os extremistas de direita querem "a Alemanha aos alemães" ou uma "França aos franceses". Esta não é a nossa visão. Queremos um molde solidário, ecológico e democrático para as relações internacionais. Onde protestamos não haverá nazistas e ali eles são absolutamente indesejados.

O que significa a cúpula do G8 para o movimento antiglobalização na Alemanha?

Não conheço nenhum movimento antiglobalização na Alemanha. Queremos uma outra globalização e por isso nos chamamos de críticos da globalização. Mas a cúpula do G8 certamente estimula esse movimento. O interessante é que a mobilização não parte das grandes associações que organizam viagens de ônibus até lá. Os protestos foram lançados por diversas iniciativas locais. Após Heiligendamm, ninguém pode mais dizer que a Alemanha não tem um movimento social capaz de mobilização. E esse movimento deverá continuar existindo no futuro.

Sven Giegold é co-fundador e membro do círculo de coordenação federal da rede de movimentos críticos à globalizaçao Attac.